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Neil Gaiman, criador de universos fantásticos

Como não amar um escritor tão ousado, surpreendente e criativo?

Olá, queridos amigos leitores! Hoje é um dia muito feliz, porque eu vou falar de um dos meus ídolos. Senhoras e senhores, eis o incrível Houdini!

Brincadeira, brincadeira.

Mas esse cara é tão incrível quanto o sujeito ali em cima, que consegue escapar de armadilhas mortais, amordaçado e jogado no fundo de um lago. Porque ele consegue criar universos inteiros! Ele consegue fazer com que nós, pobre criaturas devoradoras de livros, amemos os personagens que ele tira de sua engenhosa cabecinha.

É ninguém mais, ninguém menos do que Neil Gaiman.

Bom, para quem não sabe, Gaiman é britânico, um escritor, roteirista e muitas outras coisas incríveis. E, hoje, eu vou falar um pouco sobre o trabalho dele como escrito, literalmente, da sua escrita em si.

Os livros de maior sucesso de Gaiman, até agora, são Sandman — que foi umas das primeiras obras solo que ele publicou -, Stardust (Rocco Jovens Leitores), Deuses Americanos,(Intrínseca) e Coraline (Rocco Jovens Leitores) — aqui, no Brasil, esse é do qual eu mais ouço falar. E será principalmente neles que vou me concentrar — se eu fosse falar de todas as obras, não terminaria antes de me aposentar.

Todos os livros do Gaiman que eu já li são maravilhosos, em minha humilde opinião, e recomendo enfaticamente a leitura. Mas o que eu acho mais interessante é o quanto cada um é diferente do outro.

Vejamos, por exemplo, Sandman, que é uma história em quadrinhos – contada pelo próprio Sandman, um dos sete perpétuos – e que foi um imenso sucesso. Sandman é uma dark fantasy, que conta a história dos chamados perpétuos – Destino, Morte, Sonho, Desejo, Destruição, Desespero e Delírio – e sua proximidade e desavenças com os seres humanos. Bom, nessa história, Gaiman aproxima muito a fantasia da realidade, porque ele pode estar usando elementos fantásticos, mas tudo o que ele fala tem um fundo de verdade. E isso me traz a outro elemento que eu sempre observei nas obras de Gaiman: ele sempre nos dá uma lição. É meio que impossível terminar um livro dele sem que ele tente nos ensinar alguma coisa.

Vamos ao Stardust, que já é uma narrativa mais épica e medieval, contando a história de Tristan, um jovem que mora em um vilarejo rodeado por um muro que possui um portal para outro mundo. Para conquistar a garota de quem ele gosta, Tristan vai em uma jornada para capturar e trazer para ela uma estrela cadente que caiu na Terra. Entretanto, essa estrela pode não ser exatamente o que ele espera – o livro chegou a ganhar uma adaptação para o cinema, mas eu acho o livro bem melhor. Mas, enfim, em Stardust, Gaiman usa um tom muito mais épico, romântico e até mesmo fantástico – todos os livros de Gaiman que eu li tinham elementos fantásticos, mas alguns parecem incorporar esses elementos, fazendo com que eles pareçam normais, até triviais. Esse não é o caso de Stardust, a magia está no livro o tempo todo e o leitor presta atenção nela.

Em seguida, veio Deuses Americanos, que é completamente diferente dos outros dois. É uma fantasia urbana e moderna. Na verdade, Deuses Americanos é uma história tão doida quanto aqueles aos quais ela se refere – os deuses americanos. Tomo o livro como uma grande crítica à nossa sociedade. De início, eu diria que nesse livro eu achei a escrita de Gaiman mais complexa do que em suas outras obras. Mas percebi que a escrita em si continua a mesma – cristalina como água corrente -, o que mudou foi a história. A história de Deuses Americanos é complexa, cheia de significados ocultos, críticas para todos os lados e identidades de deuses e entidades que nós, ocidentais, não conhecemos – e esse é justamente um tema que ele debate muito ao longo da história. Foi um livro que demorei a ler, porque eu não conseguia seguir direto por páginas e páginas. Eu tinha que parar e pensar sobre o que havia acabado de ler.

Em 2002, Gaiman nos deu Coraline, uma das mais fantásticas histórias que eu já li. O livro conta a aventura de Coraline, uma menina curiosa, que acaba entrando em um mundo de sonhos, onde tudo parece acontecer como ela quer. Só que esse sonho pode não ser tão maravilhoso assim. Ironicamente, a história foi tida como uma história infantil, mas eu francamente não achei tão infantil, não – depois que li o livro, fiquei algum tempo olhando desconfiada para a minha mãe e sempre que acordava durante a noite, tentava ter certeza de que não estava sonhando.

Mais ironicamente ainda, eu digo que Coraline foi a história de Gaiman, dentre as que eu li até hoje, que eu mais gostei – pois é, acabei de admitir que fiquei com medo da história e agora digo que a adoro, eu sou maluca.

Bom, eu não poderia dizer que não sou uma grande fã de Gaiman nem se eu tentasse. E tem uma razão para isso – além do fato de que eu acho as histórias dele fenomenais.

Ele sabe o que está fazendo.

Ao ler um livro de Neil Gaiman, você percebe que não há pontas soltas e se o livro termina te deixando com alguma pergunta sem resposta, é porque ele quis assim. Foi o que aconteceu quando terminei Lugar Nenhum, eu me perguntei: ué, mas quem é o Falcão? Ele chegou, fez uma parada incrível e depois foi embora?

Resposta: Ele é o irmão do Marquês De Carabás. E sim, ele me deixou curiosa e foi embora. Ele veio para me fazer ter ainda mais vontade de ler o livro e depois, simplesmente foi embora. Mas, afinal, quem é o próprio De Carabás?

É aí que eu percebo que eu não sei sequer quem é o De Carabás, que é o personagem que mais chama a atenção em toda a história, mas sei que eu o adorei.

Para mim, meus amigos, essa capacidade de fazer muito com tão pouco se chama habilidade. E Gaiman tem muito disso.

Outra coisa que chama muito a atenção é justamente o fato de que as histórias de Gaiman são sempre muito essencialmente diferentes uma da outra – quadrinhos, épicos, dark fantasy, não-ficção etc. -, o que torna os livros imprevisíveis – de fato, apenas algumas coisas podem ser previstas nos livros do Gaiman. Algumas eu já citei, mas há mais duas. E elas são:

Haverá, muito provavelmente, um personagem sinistrão – não era bem essa palavra que eu queria, mas acho que deu para entender -, inalcançável, impressionante e que vai te fazer te fazer pensar: eu queria ser esse cara – é o caso do Shadow, de Deuses Americanos; do gato, de Coraline; do Silas, d’O Livro do Cemitério; e do Falcão e do Marquês De Carabás, de Lugar Nenhum.

E a outra coisa é que muito provavelmente vai ser um livro bem louco e incrível.

Mas tudo isso que estou falando não faz sentido nenhum se os livros não forem lidos. Então, leiam, porque eu realmente recomendo todos eles.

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