Resenhas

Química Perfeita, de Simone Elkeles | Resenha

‘Química Perfeita’: uma leitura intensa, sexy e muito importante

O que difere uma pessoa da outra? A roupa, o sobrenome, o local onde mora? E por quê tudo isso deveria ser motivo para segregação? Quem somos nós para definirmos quem deve ou não ser privilegiado, mediante os padrões impostos pela sociedade? O preconceito machuca, divide, mata. Mas a empatia e principalmente o amor são capazes de ajudar a combater a intolerância. É essa a mensagem de Simone Elkeles no intenso Química Perfeita, publicado pela Globo Alt.

No livro, Brittany e Alex não poderiam ser mais diferentes. Ela, a menina perfeita com um futuro brilhante. Ele, membro de uma perigosa gangue sem qualquer perspectiva. Até que seus mundos colidem quando eles são obrigados a fazer dupla na aula de química do último ano. Por orgulho, Alex aposta com os amigos que é capaz de se envolver com Britanny, o que poderia arruinar a reputação da menina. No entanto, à medida que eles começam a se aproximar, percebem que, de fato, têm muito em comum. Ambos não são exatamente o que aparentam ser.

Química Perfeita poderia ser mais um clichê. Mais um romance no estilo Romeu e Julieta. Mais uma história adolescente sobre a menina rica que se apaixona pelo rapaz pobre. E, na verdade, ainda que esses elementos estejam, sim, presentes no livro, a obra é muito,  mas muito mais do que isso. De fato, Simone literalmente mete o dedo nas feridas, nas nossas feridas. Aquelas feridas profundas e sombrias que, muitas vezes, sequer temos coragem de mostrar. Mas que é importante serem vistas. Mais do que isso, é necessário mostrá-las e dividi-las com todos. Principalmente com os jovens. E a autora soube fazer isso com muita seriedade e naturalidade.

A princípio, Brittany e Alex podem nos causar emoções distintas. Ela parece perfeita demais, fútil demais, superficial demais. É uma preocupação excessiva com a aparência, com o externo, com a perfeição que chega a irritar profundamente. E esse é o primeiro “tapa” que levamos de Simone. Brittany é bem mais profunda, interessante e humana do que tenta aparentar. Sabe aquela história de não nos deixarmos levar pela primeira impressão? Pois é, esse é o melhor exemplo. Sua relação com a irmã é de emocionar e de tocar o nosso coração. Alex, por sua vez, poderia ser mais um bad boy para causar suspiros e virar a cabeça da mocinha “certinha”. No entanto, ele está aí para mostrar a dura realidade daqueles que batalham para mudar o próprio futuro, ou melhor, para ter alguma expectativa de futuro. Para mostrar que a família está acima de tudo, até mesmo do amor próprio e da própria felicidade. Que lealdade é fundamental. E que, ainda que as circunstâncias não nos permitam acreditar em nós mesmos, outras pessoas acreditam. E precisamos nos abrir para elas. Aprender a confiar.

Gostei da maneira como a relação entre Alex e Brittany foi construída, ao longo da trama, apesar de querer dar umas boas sacudidas em Alex com essa história de aposta. A narrativa de Simone, que tanto me cativou com sua leveza em Amor em Jogo, me pegou de jeito em Química Perfeita. Com a sua sensibilidade e intensidade, Simone não se omite ao explorar essas questões e nos ensina tanto com seus dois protagonistas e demais personagens da trama (Paco, Isa, a família de Brittany e de Alex, entre outros), que é impossível não sermos arrebatados pela história. A maneira como a autora desenvolveu as duas realidades tão diferentes e conseguiu traçar um paralelo entre elas foi bastante esclarecedora e, até mesmo, perturbadora. Perturbadora porque é uma realidade que achamos mais cômodo esquecer e fingir que não existe ou que está muito distante da nossa. Mas ela está ali. Do nosso lado. E é uma realidade tão importante quanto a nossa.

Química Perfeita nos faz refletir, incomoda e surpreende. É um livro importante e necessário, que vai muito além das aparências e escancara os preconceitos sociais. Duro, intenso, sexy, humano. E quimicamente irresistível.

PS: esse livro também ganhou um lugar muito especial no nosso coração por motivos de termos recebido a prova e TEM QUOTE DO VAI LENDO NA CONTRACAPA! <3

Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *