Resenhas

Lendários, de Tracy Deonn | Resenha

Magia, lendas, história, ancestralidade, luto. Lendários, primeiro livro de Tracy Deonn, publicado aqui no Brasil pela editora Intrínseca, é uma fantasia completa. Com tudo o que temos direito e pedimos. E, como se já não fosse o bastante, a história ainda traz uma versão moderna e urbana da lenda do Rei Arthur. Ou seja, Lendários é perfeito.

Após perder a mãe, Bree, uma jovem de 16 anos, resolve se afastar de tudo ao entrar em um programa da Universidade da Carolina do Norte para estudantes com excelência acadêmica, junto com a sua melhor amiga. O que ela não esperava era se deparar, já no primeiro dia, com os Lendários, uma ordem secreta formada por descendentes de ninguém menos do que os cavaleiros da Távola Redonda e do próprio rei Arthur, cujo objetivo é caçar demônios e proteger a humanidade. O problema é que ela já havia tido contato com os Lendários antes, sem saber, e acaba se envolvendo neste universo mágico, perigoso e cheio de segredos, com a ajuda de um ex-membro da Ordem. A partir daí, ela descobre que também possui uma força ancestral e poderosa dentro de si mesma e terá que decidir de que lado irá ficar e lutar.

Eu não li Lendários. Eu devorei Lendários. São quase 600 páginas que você simplesmente não sente passar. A escrita de Tracy é contagiante e envolvente. Com uma narrativa ágil, porém bastante detalhista – principalmente no que diz respeito às emoções de Bree -, a escritora me deixou completamente imersa em sua trama. O fato de a história ser narrada em primeira pessoa foi fundamental para entender Bree, seus sentimentos e angústias, e me conectar com ela. A maneira como Tracy descreve o luto, a carga e o pesar que a protagonista traz, é simplesmente arrebatadora. Só quem já passou por experiência semelhante para conseguir absorver e compreender. Como a própria autora, segundo ela mesma contou no fim do livro.

Bree, por sua vez, é maravilhosa. Mágica e humana. Cheia de nuances e altos e baixos, como qualquer um de nós, especialmente aqueles que passam por situações extremas. Ainda mais sendo uma adolescente. Sério. Uma jovem de 16 anos acabou de perder a mãe, descobre um mundo cheio de magia, conhece descendentes de uma história que todos acreditam ser uma lenda E ainda precisa lidar com os seus próprios poderes, até então desconhecidos. É demais para QUALQUER PESSOA lidar. Haja terapia. E, mesmo assim, Bree equilibra perfeitamente seus defeitos com suas outras inúmeras qualidades. Bree não se omite. É corajosa, destemida e determinada. Teimosa? Também. Mas qual adolescente não é? Queria ser amiga dela.

A trama dos Lendários é sensacional. Cheia de intrigas, alguns personagens insuportáveis, outros encantadores e carismáticos. Posso ser suspeita por ser completamente aficcionada pela lenda do rei Arthur, mas adorei a versão de Tracy. As reviravoltas. A sua maneira de enxergar e de trabalhar a história. E com um plot twist que me deixou sem fôlego.

Além, ou melhor, acima de todos esses pontos positivos, para mim, Lendários trouxe muito mais do que uma versão fantástica e empolgante de uma das minhas histórias preferidas. Lendários tem representatividade. E muito bem trabalhada. Fala sobre ancestralidade de uma forma quase lúdica. Fiquei completamente fascinada por este aspecto e queria saber e aprender ainda mais (espero que o segundo livro se aprofunde no tema). Com Bree e sua jornada para conhecer e entender as suas origens, as suas raízes, Tracy explora sem didatismo o preconceito, a desigualdade social. É doloroso e incômodo ver Bree passar por situações que infelizmente estão longe de ser ficção.

Lendários entra na lista de melhores leituras do ano e de melhores fantasias que já li. Aguardando ansiosamente pela continuação!

Título: Lendários| Autora: Tracy Deonn | Editora: Intrínseca | Tradutor: Jim Anotsu | Páginas: 592

Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

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