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Clube do Livro dos Homens, de Lyssa Kay Adams | Resenha

Se desconstruir. Assumir e enfrentar os próprios preconceitos. Se abrir e expor seus sentimentos. Não é das tarefas mais fáceis para o ser humano, especialmente para alguns do sexo masculino. Mas Lyssa Kay Adams encontrou uma forma leve e divertida de mostrar que, sim, tudo isso é possível e principalmente que os homens também sentem – e muito – e são inseguros em Clube do Livro dos Homens, publicado pela editora Arqueiro.

Na trama, Gavin é um astro do beisebol no auge da carreira. Até que, um dia, seu mundo cai ao descobrir que sua esposa, Thea, fingia ter prazer na cama. Se sentindo humilhado e magoado, ele toma a atitude que acaba piorando tudo e desgastando ainda mais a relação que já não ia bem: para de falar com Thea. E, claro, é quando Thea resolve pedir o divórcio que Gavin percebe que pode perder o que é mais importante na sua vida. Para ajudá-lo, entra em cena um clube secreto de romances composto por ninguém menos do que os seus próprios colegas de time. Com a leitura de um romance de época sensual, Gavin tenta encontrar um meio de salvar o seu casamento, mas será preciso algo além de palavras para salvar o seu casamento.

No caso de Clube do Livro dos Homens, tanto o título quanto a premissa em si já despertam o interesse, justamente por fugirem dos estereótipos que esperamos dos romances. O que também é muito interessante e, pra mim, representa o ponto principal do livro, uma vez que esse tipo de coisa não deveria chamar a nossa atenção. Qual é o problema de os homens lerem romances? Por que eles não podem apresentar a vulnerabilidade e a insegurança que tanto são apontadas nas personagens femininas?

E é justamente isso o que Lyssa traz para a história. A desconstrução do padrão de masculinidade tóxica imposto pela sociedade. E é genial. Clube do Livro dos Homens não foge de certos clichês do gênero, mas isso não quer dizer que a narrativa não tenha sensibilidade nem profundidade. Pelo contrário. A autora trouxe à tona debates muito importantes sobre relacionamentos e levantou reflexões interessantes sobre amor próprio, maternidade, família e sobre como sempre almejamos um ideal de vida que pode não ser tão ideal assim.

Gavin é tudo aquilo que esperamos do perfil de homem atleta, bem-sucedido e popular. Tão focado no esporte e na carreira que é incapaz de enxergar o que acontece dentro da própria casa com pessoa que está sempre ao seu lado. Para ele, sua família é perfeita com Thea, a esposa metódica, organizada e impecável, e suas duas filhas gêmeas adoráveis. O que poderia estar errado? Até que Thea atinge exatamente uma das únicas coisas que podem realmente ferir alguém como Gavin: o ego. Como assim ele não consegue proporcionar prazer à Thea? Logo ele! E que absurdo ela fingir esse tempo todo, não? Para Gavin, Thea foi insensível e, até mesmo, egoísta! Claro. E, por isso mesmo, ele resolve culpá-la por seus problemas e ignorá-la, como qualquer pessoa insegura e desprovida de argumentos.

Thea, por outro lado, se vê anulada. Por anos fingindo uma vida perfeita quando, na verdade, para ela, estava bem longe disso. Entrou de paraquedas no mundo do esporte de elite, com seus atletas e esposas de elite, e foi obrigada a abdicar dos próprios sonhos para assumir a família. E, quando viu, abdicou de si mesma. Da sua própria essência. E, com isso, também foi deixando a sombra do próprio passado eliminar qualquer tipo de possibilidade de se libertar e de se redescobrir.

 

O que eu mais gostei em Clube do Livro dos Homens é que ninguém está 100% certo ou errado. É claro que Gavin tem seus defeitos e atitudes machistas, além de não ter tido a sensibilidade de enxergar e de ouvir a própria esposa. Por outro lado, Thea também tem muita dificuldade de enfrentar seus próprios problemas, de se permitir e de se impor. O que também a impedia de  aceitar a verdade em Gavin. Temos aí um belo de um ruído de comunicação. Com duas personalidades fortes e com muitas peças faltando para encaixar. E confesso que me emocionei com a jornada pessoal de Thea, suas questões internas e em como isso também afetou a sua relação com Gavin e consigo mesma.

Os integrantes do Clube do Livro dos Homens são sensacionais e as cenas e diálogos do grupo tentando mostrar a verdade a Gavin são impagáveis. Temos também passagens muito interessantes sobre como eles identificaram essas falhas e como estão tentando reverter todo um processo, todo um conceito, de gerações. Além, é claro, da leitura do romance de época, cujos capítulos, aliás, estão inseridos no meio da trama.

Com Clube do Livro dos Homens, Lyssa instiga seus leitores. Sei que muitos podem pensar que uma mulher escrever um livro como este não faz tanta diferença, mas faz, sim. Porque antigamente nem isso ela poderia fazer. Esse é um debate fundamental. É preciso romper esse tabu que exclui a sensibilidade do conceito de masculinidade. Os casais precisam conversar. Expor seus sentimentos, trocar opiniões. Se você não pode ser você mesmo com a pessoa com quem divide a vida, qual é o sentido? Casamento vai além do sexo. É companheirismo, respeito, parceria, troca. Amor. Acima de qualquer coisa. São as atitudes, os valores, que formam um caráter. Não um padrão superficial. Esse padrão nos é imposto há tantos e tantos anos. Mas felizmente, agora, parece termos encontrado novos caminhos. É claro que ainda tem muito chão e trabalho pela frente, mas já é um começo. Assim esperamos. Homens: amem, sintam, falem! Leiam romances!

Título: Clube do Livro dos Homens | Autora: Lyssa Kay Adams | Tradutora: Regiane Winarski | Editora: Arqueiro| Páginas: 320

Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

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