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Na Corda Bamba, de Kiley Reid | Resenha

Emira é uma jovem adulta de 26 anos que está um pouco perdida na vida. Apesar de ter se formado na faculdade, não encontrou aquilo que realmente queria fazer. Por isso, pelo menos por enquanto, se sustenta num emprego de babá de Brair e Catherine, filhas de Alix Chamberlain. Justamente por causa desse emprego, sua vida sofre uma mudança radical. Ao fazer um favor para sua chefe e levar Briar ao mercado em uma noite, Emira é abordada pelo segurança do local e é basicamente acusada de ter sequestrado a criança. Tudo isso porque Emira é negra. Em Na Corda Bamba, de Kiley Reid, publicado pela Editora Arqueiro no Brasil, diferentes tipos de racismo são abordados e destrinchados dentro de um só núcleo.

Alix é uma empreendedora de sucesso, que tem como missão o empoderamento feminino. Ela tinha tudo o que queria: uma família, um marido, uma casa em Nova York. Quando precisa se mudar para a Filadélfia, as coisas viram do avesso. Ela precisa escrever um novo livro, mas não tem motivação. Deseja voltar ao seu peso pré-gravidez, mas não faz o esforço necessário. Entre outros desejos que não encontram estímulo, ela vê em Emira uma nova chance. Alix procura aprofundar a relação com sua babá, forçando uma amizade que aparentemente não é uma vontade recíproca.

Em paralelo, Emira conhece Kelley, o cara que gravou o episódio do supermercado, e começa a desenvolver um relacionamento. Mas Kelley tem uma trama mais complicada do que aparenta. Embora pareça ser um cara descomplicado e good vibes, alguns comportamentos e o seu passado afirmam o contrário.

No decorrer da história, percebemos que Emira sofre alguns tipos de racismo e, por mais incrível que pareça, aquele sofrido no supermercado é só a ponta do iceberg. A partir daqui a resenha tem leves spoilers! Ao lidar com tudo isso, Alix coloca Emira no posto da negra tenra, como Grandmama, de E O Vento Levou. A empregada negra que cuida da família, mostra carinho e amor quando os pais brancos são ausentes. Isso porque Alix cresceu assim e não vê o quão errado esse comportamento é. Ao colocarmos a mulher negra nessa posição, afirmamos que ela é um ser humano submisso e quase apático, a não ser pelo carinho para com as crianças.

Por outro lado, descobrimos que Kelley significa as pessoas negras de uma forma diferente. Com um racismo não violento, esse arco da história fetichiza tanto o homem quanto a mulher negra, tratando-os como um objeto desejado, um alvo a ser conquistado. Eu não preciso nem dizer o quão desumano isso é,  certo?

A grande questão de Na Corda Bamba é a crítica do comportamento racista velado pelo cotidiano. Contudo, há um outro tema tratado na história: as diferenças entre classes. As condições financeiras de Alix e Kelley não são as únicas vertentes que trabalham isso, mas também (e talvez principalmente) as amigas de Emira, que possuem maior poder aquisitivo que ela e a lembram disso constantemente, seja de propósito ou não.

Apesar de tratar muito bem desses dois tópicos, o livro de Reid não me conquistou por completo por alguns motivos. No que diz respeito à construção do enredo, achei um pouco perdido e, talvez, maçante. As coisas demoravam para acontecer um pouco demais, mesmo num livro focado no desenvolvimento dos personagens como em Na Corda Bamba. Além disso, eu não consegui gostar de nenhum personagem (só da pequenina Blair). A obsessão de Alix me irritava, assim como a postura good vibes de Kelley e a inércia de Emira. 

Por tudo isso, Na Corda Bamba é, para mim, um livro bom, mas não maravilhoso. Ainda recomendo para aqueles que se interessam pelos temas trabalhados. Só não façam como eu fiz: não vá com muita sede ao pote.

Título: Na Corda Bamba | Autora: Kiley Reid | Editora: Arqueiro | Páginas: 318

Apaixonada por música, cinema, séries e literatura, história mundial e andar de bicicleta. Sonha em ter muitos carimbos em seu passaporte, mas por enquanto escreve sobre o que leu, viu e gostou no Anatomia Pop.

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