Resenhas

Malorie, de Josh Malerman | Resenha

‘Malorie’: as relações familiares são o destaque da sequência 

O mundo já não é mais o mesmo. Criaturas continuam andando por aí. Basta um descuido, apenas uma olhadinha, para um destino enlouquecedor. Malorie, sequência do eletrizante Caixa de Pássaros, escrito por Josh Malerman, publicado pela editora Intrínseca, narra os acontecimentos após a arriscada descida por um rio na qual Malorie e seus filhos, Tom e Olympia, fizeram com os olhos vendados.

Agora, doze anos depois, Malorie tenta transmitir aos filhos, já adolescentes, sua determinação em sobreviver e em “não abrir os olhos”. Mas será que ela conseguirá? Tom quer desbravar o mundo e as criaturas, enquanto a mãe continua com a sua proteção excessiva. Olympia, o elo entre os dois, é habilidosa e racional, apesar de também ter os seus segredos.

Em meio a divergências familiares, um desconhecido surge com informações de sobreviventes. Malorie, em conflito pessoal, se vê, mais uma vez, obrigada a se lançar num mundo às cegas. Será que é melhor ser prudente ou partir em busca de uma nova esperança?

Relação familiar 

O novo livro de Josh Malerman gira em torno da relação de Malorie com os filhos. Fala das relações familiares em tempos apocalípticos. De uma mãe em pânico, desesperada e protetora (o que, convenhamos, faz todo o sentindo, principalmente depois dos acontecimentos de Caixa de Pássaros). 

Os conflitos de Malorie são muito bem trabalhados, assim como o seu papel como mãe. Este, sem dúvidas, é um ponto alto do livro. Entretanto, a personagem estava um pouco “excessiva”. De tal forma que, em grande parte da obra (para não dizer quase toda), me identifiquei com o filho, Tom, e suas atitudes, consideradas irresponsáveis pela mãe.

E olha que nas minhas últimas leituras eu tenho me identificado com os pais, até pela minha condição atual. Entretanto, vale a pena viver escondido, apenas sobrevivendo? 

Desculpe, mas eu também prefiro lutar, encarar o problema e tentar viver com alguma liberdade.

“Não abra os olhos” 

Em Caixa de Pássaros, o “não abra os olhos” trouxe uma sensação de tensão à leitura. Com isso, o ritmo era alucinante, desesperador. Queríamos saber o que eram as criaturas ou como as pessoas enlouqueciam. Já em Malorie, a fórmula cansou. A máxima deste mundo não surtiu o mesmo efeito na sequência. O autor até buscou acrescentar o “toque” como forma de enlouquecer (quando uma criatura age sobre uma pessoa cega), o que, para mim, não funcionou.

Assim, aquele ritmo de leitura alucinante do primeiro livro, se perdeu. E Malorie ficou arrastado. Culminando num final fechado e bonito, mas desinteressante. Na minha opinião, o relato de um passageiro do trem foi mais assustador e tenso do que o livro inteiro. Pena que não se desenvolveu mais.

A história 

O livro é um dos trabalhos mais redondos de Josh. Você consegue ver um amadurecimento na escrita. A história é organizada. Discussões bem desenvolvidas.  O problema foi que não me pegou. Faltou aquela tensão do primeiro, pela qual eu ansiava. Talvez, a postura excessiva (porém, plausível) de Malorie tenha me incomodado tanto que não me deixou arrebatado por aquele mundo.

Lendo os agradecimentos na parte final do livro – que, por sinal, são muito bons e indispensáveis, sério, não deixem de ler! -, é compreensível a necessidade de Malorie, da continuidade da história. Apesar de preferir ficar com o final aberto de Caixa de Pássaros.

Todo mundo que leu Caixa de Pássaros provavelmente será seduzido pela leitura de Malorie. O livro traz discussões muito boas e, se você gosta de uma história mais fechadinha, não irá se decepcionar. Malorie, de fato, traz uma conclusão (não necessariamente uma explicação para tudo). Um bom trabalho de Josh, porém, como já expus, não me pegou na tensão.

Título: Malorie | Autor: Josh Malerman | Tradutor: Alexandre Raposo  | Editora: Intrínseca | Páginas: 288

Apaixonado por histórias, tramas e personagens. É o tipo de leitor que fica obsessivamente tentando adivinhar o que vai acontecer, porém gosta de ser surpreendido. Independente do gênero, dispensando apenas os romances melosos, prefere os livros digitais aos impressos, pois, assim, ele pode carregar para qualquer lugar.

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