Resenhas

Amor & Sorte, de Jenna Evans Welch | Resenha

‘Amor & Sorte’: uma viagem pela Irlanda em busca do amor próprio

Desilusões amorosas são inevitáveis. Aliás, é algo praticamente intrínseco ao crescimento e ao amadurecimento de todos nós. O que não quer dizer que não machucam. Pelo contrário. Elas doem, e muito. E nós temos o direito de sofrer quando nossos corações são quebrados. Mas, talvez, uma viagem de carro pela linda e verde Irlanda possa ajudar a aliviar um pouco esse peso e, principalmente, a repensar a vida, as nossas escolhas. Quem sabe, não nos ajuda também a nos redescobrir? São essas reflexões que Jenna Evans Welch traz para os leitores no fofo Amor & Sorte, publicado pela editora Intrínseca.

Na trama, Addie (a quem já havíamos sido apresentados no maravilhoso Amor & Gelato, como a melhor amiga de Lina) está tentando com todas as forças não pensar no que aconteceu com o seu romance de verão, que chegou ao fim com consequências terríveis. Para isso, ela tenta relaxar e aproveitar o tempo na Irlanda com a família, antes de voltar aos Estados Unidos e encarar a sua realidade, principalmente porque seus pais ainda não sabem o que aconteceu. Ian, seu irmão mais velho, é o único que sabe de tudo e, ainda assim, fica pressionando-a. No entanto, ele também tem segredos e, quando Addie descobre, acaba se juntando a ele numa inesperada viagem de carro, cujo motorista é Rowan, um irlandês bastante simpático e charmoso. Munida apenas de um guia que roubou da biblioteca do hotel, o Irlanda Para Corações Partidos, Addie espera que os conselhos do livro possam lhe ajudar a curar o seu próprio coração e também a fazer as pazes com Ian.

Narrativa nostálgica

Quando a Intrínseca anunciou o lançamento de Amor & Sorte, minha estante já estava pronta para recebê-lo simplesmente porque eu sou apaixonada por Amor & Gelato e pela Irlanda. E eu não me decepcionei. Jenna tem uma capacidade fascinante de nos transportar para os lugares com a sua narrativa leve, fluida e descritiva. Em Amor & Gelato, eu podia até não conhecer Florença, mas era praticamente como se eu já tivesse passado férias lá. Agora, novamente eu viajei. E, dessa vez, fui acompanhada de nostalgia e saudade. Sempre me encantei pela Irlanda e por sua cultura e, em 2017, felizmente eu pude realizar o sonho de conhecê-la. Por isso, ao ler Amor & Sorte, foi como se eu tivesse voltado para lá. O livro é narrado em primeira pessoa, então acompanhamos as impressões de Addie sobre os lugares, mas Jenna também nos fornece um guia. Sim, há intervenções do guia “Irlanda Para Corações Partidos” ao longo da obra, e eu achei genial, principalmente pelo tom utilizado para o guia. Era quase como se eu pudesse ouvir a autora conversando com Addie (e comigo, por tabela). E, apesar desse tom divertido e impessoal, o guia também não deixa de dar conselhos bastante pertinentes e de gerar algumas reflexões até necessárias para a nossa vida.

O trio Addie, Ian e Rowan

Antes de qualquer coisa, acho importante dizer que não devemos comparar Amor & Sorte com Amor & Gelato. A essência das obras é completamente diferente, na minha opinião, apesar de se passarem no mesmo universo. Enquanto o romance era a tônica de Amor & Gelato, em Amor & Sorte, Jenna trabalhou com a questão do amor próprio e fraternal. O que eu achei muito interessante e me surpreendeu positivamente. Addie é uma adolescente que acabou de passar por um dos maiores pesadelos de qualquer jovem e, claro, ficou com marcas. Mas não aquelas externas. São marcas pessoais, que levamos por algum tempo e que podem nos transformar. Então, é óbvio que ela estaria insegura, na defensiva, machucada. Sua construção e evolução na narrativa foram verdadeiras e naturais. É impossível não se solidarizar e simpatizar por Addie que, mesmo passando por esse turbilhão de emoções, ainda consegue ser divertida, destemida e interessante. Gostei muito da personagem.

Infelizmente o mesmo não posso dizer de Ian. Olha, sinceramente, eu entendo as suas motivações, a sua bagagem emocional e aspirações, mas eu não acho que ele tinha o direito de pressionar Addie do jeito que ele pressionou. Não lhe dizia respeito. E, por mais que ele quisesse protegê-la como irmão, ele a desrespeitou. Desrespeitou o seu tempo. Na verdade, para mim, em boa parte do livro, Ian me pareceu bastante egoísta, pensando apenas nos seus interesses, nos seus sonhos. Novamente, entendo também as suas frustrações e o que o levou a ficar daquele jeito e a fazer o que fez. Mas o mundo não gira em torno dele, ele não é o único com problemas e ele não foi nada compreensivo com Addie. Pelo contrário. Achei bastante inflexível e intolerante. Pronto, falei.

Rowan, por outro lado, é daqueles que temos vontade de colocar num potinho, sabe? Não vou me estender muito para não dar spoiler, mas eu adorei como ele foi inserido não apenas na história, mas na dinâmica de Addie e Ian. E em como ele também traz a sua própria carga. A maneira como ele aceitou encará-la. E como ele traz uma nova perspectiva para Addie e vice-versa. Achei tudo muito delicado.

Mais do que romance

Mais do que qualquer coisa, Amor & Sorte nos faz olhar para nós mesmos. Para quem realmente somos e o que queremos. Através de Addie, da sua luta para enxergar a si mesma, para se despir de rótulos e perceber que ela não precisa de ninguém para ser a garota incrível que é. Amor & Sorte fala sobre amizade. Pura e verdadeira (inclusive, me arrancando algumas boas lágrimas). Sobre família. Sobre esse amor incondicional que protege, briga e perdoa. Amor & Sorte faz a gente querer ouvir música, viajar. Faz a gente se lembrar das pessoas que realmente importam. E faz a gente querer pegar um carro e sair pela Irlanda.

Título: Amor & Sorte | Autora: Jenna Evans Welch | Tradutora: Flora Pinheiro  | Editora: Intrínseca | Páginas: 272

 

Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

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