Jane Eyre
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Jane Eyre, de Charlotte Brontë | Resenha

Jane Eyre

Jane Eyre é um livro muito importante para mim. Eu o li pela primeira vez em 2012, em um momento de transição, naqueles primeiros passos que te jogam para longe da adolescência e mais adentro da vida adulta. Eu lembro de ler horas a fio, levar ele para o shopping e não largá-lo, até que Jane encontrasse o seu final. E, olha, era uma edição de bolso com uma das diagramações mais apertadas que já vi, além de um papel bíblia que era super transparente.

Por isso, essa resenha é tão especial. O livro de Charlotte Brontë se tornou meu favorito da vida porque me dava forças para atravessar um período difícil, assim como a personagem principal tanto precisou. O fato é que, para quem não conhece a história, pelo menos a sinopse, não entende bem porque eu li esse livro no momento certo. Então, vamos lá.

De menina a mulher, Jane Eyre

Lançado no século XIX, em 1847, Jane Eyre é o romance de estreia da escritora britânica Charlotte Brontë. Chamado inicialmente de Jane Eyre, uma autobiografia, o romance é obviamente inspirado na vida da autora, com algumas liberdades artísticas, claro. Nós conhecemos a pequena órfã Jane Eyre pouco antes de ser transferida para um colégio interno, quando ainda é criada por uma tia fria e um tanto cruel junto aos seus primos distantes e violentos. Tudo o que ela tem é basicamente a companhia e a compaixão de uma das criadas da casa. Quando vê a oportunidade de se livrar de Jane, sua tia não pensa duas vezes e a coloca em um ambiente ultra religioso, cinzento e intolerante. Mesmo com todas as dificuldades, os anos de Jane na escola a fazem conhecer a amizade, a paciência e, até mesmo, a morte.

Jane Eyre

Ao atingir a idade de se formar, Jane busca por um emprego como professora particular e, ao consegui-lo, vê sua vida mudar completamente. Ela agora é preceptora da jovem Adèle, a protegida do Sr. Rochester, em Thornfield Hall. Ali, sua vida ganha perspectiva para além de uma carreira, ali ela encontra diferentes tipos de amor.

Uma autobiografia

Charlotte, junto com suas irmãs Emily, Anne, Maria e Elizabeth, foram estudar em um colégio interno no qual enfrentou um surto de tuberculose, doença que acabou matando suas duas irmãs mais velhas. Depois do ocorrido, seu pai as retirou da escola, mas a vontade de estudar de Charlotte não terminou por ali. Alguns anos depois, em troca de educação e moradia, ela aceita uma posição de professora em uma instituição em Bruxelas.

A sua experiência em ambos os lugares foram essenciais para escrever algumas obras da sua carreira, mas principalmente Jane Eyre e O Professor. Seja pela sua vida como aluna, seja pela sua bagagem como professora, Charlotte soube aplicar as duas partes com maestria em seus livros.

Jane Eyre e o feminismo

Há muitos tópicos no romance que abrangem o feminismo. Na época em que foi publicado, Charlotte só conseguiu sucesso porque publicou sob um pseudônimo masculino – Currer Bell -, hábito muito comum para escritoras de então. Para discutir mais sobre isso, eu não conseguiria sem fornecer pequenos spoilers. Prometo, no entanto, que vou mantê-los o mais superficiais possíveis. Isso porque a emancipação feminina preenche as páginas de Jane Eyre nos mais diferentes níveis. Posso destacar o tratamento de igualdade que recebe do Sr. Rochester, comportamento quase inexistente no século XIX, ou então as caminhadas solitárias dadas por Jane pela propriedade. Sua própria ocupação como professora em um período em que mulheres eram vistas como mães e esposas e nada muito além disso.

Os diálogos entre Jane e Rochester são um grande destaque também. O tratamento de igualdade entre os dois se aviva através da história, ganham sarcasmos, curiosidades, perspicácia. Assim, são muito ricos e interessantes também para o leitor. São essas pequenas e grandes liberdades que configuram a página do romance de estreia de Charlotte como uma história feminista. E, graças a elas também, Jane encontra seus três tipos de amor: o romântico, o familiar e o amor próprio.

Jane Eyre

Para todos os gostos

Em Jane Eyre, o leitor encontra toques de vários gêneros e habilidades da literatura. Há um romance forte e profundo, daqueles que cresce no nosso coração. Vemos a descoberta da identidade de Jane, assim como um incrível desenvolvimento de personagem – em Rochester também. Existe um grande mistério que ronda as paredes rochosas de Thornfield Hall e alguns dramas familiares que surpreendem o leitor.

A única coisa que pode tornar a leitura um pouco difícil é a linguagem, uma vez que foi escrito há mais de um século. No entanto, não é das mais rebuscadas e posso recomendar a ótima tradução da Zahar – só não leia os materiais extras, como o prefácio, primeiro porque contêm spoilers. Ainda assim, a leitura é tão poderosa que corre imensamente bem.

Então…

Espero que através dessa resenha você tenha entendido porque foi tão importante para mim ler Jane Eyre em um período de crescimento, de mudança. Acabo relendo-o toda vez que me encontro em encruzilhadas da vida e sempre me fornece um pouco mais de força para escolher que direção seguir. Que poder um livro pode ter, não é mesmo?

Título: Jane Eyre | Autora: Charlotte Brontë | Tradutora:  Adriana Lisboa | Editora: Zahar | Páginas: 536

Especial Irmãs Brontë

Apaixonada por música, cinema, séries e literatura, história mundial e andar de bicicleta. Sonha em ter muitos carimbos em seu passaporte, mas por enquanto escreve sobre o que leu, viu e gostou no Anatomia Pop.

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