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Recursão, de Blake Crouch | Resenha

‘Recursão’: viagem no tempo e memória

A oportunidade de ler Recursão, de Blake Crouch, publicado pela editora Intrínseca, foi uma maravilhosa surpresa. Eu estava de olho nesse livro há algum tempo e cheguei bem perto de comprar, mas, antes que fizesse isso, eu o ganhei de presente.

Amei o presente! Para mim, livros são o melhor presente — pelo menos, os livros que quero ler, né.

Recursão é indubitavelmente uma ficção científica, que possui um tema bem complicado de se trabalhar, na minha opinião, que é a viagem no tempo. E o autor mistura isso com um elemento que sempre me fascinou em qualquer tipo de história: a memória e o poder que ela tem sobre as pessoas e sobre tudo o que elas fazem e são.

É por isso que eu posso dizer que gostei muito de ler esse livro.

A trama se passa na maior parte do tempo alternando entre os anos de 2007 e 2018, com a narrativa também alternando entre os protagonistas Helena e Barry.

Ele é um investigador de Nova York, solitário e com um passado triste, depois de perder a filha e se divorciar da mulher. A história começa com Barry indo até um prédio, onde uma mulher pretende se jogar depois de dizer ter se lembrado de toda uma vida que ela, aparentemente, nunca viveu.

Isso se chama SFM — Síndrome da Falsa Memória.

Já Helena é uma cientista, cujo objetivo é conseguir criar uma tecnologia capaz de armazenar memórias e permitir que sejam visitadas posteriormente. Com isso, ela sonha em conseguir amenizar os sintomas do Alzheimer.

É um motivo nobre, mas está na cara que vai dar encrenca.

Acho que nem precisa ler o livro para saber que essas duas linhas temporais da história estão interligadas e que uma leva à outra. A questão que você pode querer saber é: como?

Mas, para responder isso, você vai ter que ler o livro.

No contexto geral, eu não tenho nada do que reclamar quanto ao livro. Os personagens estão muito bem formados e apresentados, a história também flui bem e o esquema de separar os acontecimentos por datas em vez de capítulos propriamente funcionou muito bem. E eu simplesmente adorei o título, é curto, fácil de lembrar e achei que combinou demais.

O que eu quero falar é sobre o tema. Na minha opinião, viagem no tempo é um dos temas mais complexos de serem abordados. Existe muita controvérsia, muitas teorias e nenhuma certeza.

Logo, fica meio difícil ter algo em que se basear.

Pessoalmente, eu achei fantástico que o autor tenha ligado tão diretamente a viagem no tempo com a memória. Mas, ao mesmo tempo, achei que tornou o processo meio pessoal demais e um pouco unilateral, já que parte da ideia de que, se uma pessoa retorna no tempo, automaticamente o mundo inteiro segue o mesmo loop. E pensar que apenas uma pessoa seria capaz de prender o mundo inteiro na mesma repetição várias e várias vezes, sem que isso possa ser percebido — na verdade, até pode ser percebido, mas não vem ao caso aqui explicar como, e também porque eu provavelmente soltaria algum spoiler se tentasse.

De qualquer forma, o jeito como Crouch colocou essa viagem no tempo dá a entender que o retorno no tempo de uma pessoa afeta diretamente todas as outras e eu não sei se consigo entender como a decisão de uma única pessoa poderia afetar bilhões de outras.

Talvez eu esteja pensando demais. Até mesmo porque isso não diminui a qualidade da história. Só me fez questionar mesmo.

Quanto ao trabalho da editora, está tudo muito bem feito. O livro foi publicado no Brasil pela Intrínseca, que fez um ótimo trabalho. Eu só acho que teria gostado mais se o símbolo de infinito tivesse sido deixado integralmente dentro dos limites da capa. E também fiquei curiosa sobre o motivo de terem usado amarelo. Mas nenhuma das duas coisas faz com que a leitura não seja ótima.

Recursão estava na minha lista de desejos há algum tempo e a leitura não me decepcionou. Acho que os fãs de ficção científica e viagem no tempo podem curtir muito.

Título: Recursão | Autora: Blake Crouch | Tradutoras: Sheila Leouzada | Editora: Intrínseca | Páginas: 320

 

Um comentário

  • Giselle Cruz

    Acreito que a cor amarela tenha a ver com a cor que faz campanha na luta contra o suicídio. Lembra? Setembro amarelo.
    E o livro aborda o tema ao falar do suicídio ligado a Síndrome de falsa memória.

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