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Inspeção, de Josh Malerman | Resenha

Inspeção, de Josh Malerman, Resenha

‘Inspeção’: falhas na premissa e um começo arrastado quase colocam tudo a perder

E se toda a sua realidade fosse uma grande mentira? Em Inspeção, escrito por Josh Malerman, autor de Caixa de Pássaros, ambos publicado pela editora Intrínseca, nos deparamos com um experimento onde garotos são criados sem saber da existência do sexo oposto. Isolados em uma torre, no meio da floresta,  26 meninos – chamados pelas letras do alfabeto – são criados em um internato para se formar prodígios em artes, ciências e atletismo. Para o criador desta teoria, o sexo feminino seria uma distração para os rapazes. 

No outro lado da floresta, afastado da torre dos meninos, um grupo de meninas, em condições similares, também participa do mesmo projeto. Entretanto, quando começam a se despedir da infância, o menino J e a menina K (cada um na sua torre) passam a questionar algumas verdades e acabam descobrindo algo que não deveriam.

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Ao ler a premissa de Inspeção, confesso que fiquei bastante entusiasmado. É um experimento insano e aterrorizante. Até mesmo plausível, por que não? Tem maluco para tudo. Às vezes, me questiono: será que existem realidades paralelas por aí? Vidas em laboratório simulando outras formas de sociedade? Levando em consideração a existência de estudos secretos, clandestinos, desrespeitando as leis e o indivíduo, não me surpreenderia se aparecesse um caso bizarro, como o da Parentalidade. Vai saber…

primeira página Inspeção de Josh Malerman

Problemas na premissa e um começo arrastado

Inspeção é uma narrativa que surge de uma ideia absurda de Parentalidade. Como uma teoria apresenta muitas falhas, é de se imaginar que o autor use estas brechas no sistema para criar toda a trama, a revolta contra este regime opressor. Entretanto, boa parte destas falhas no sistema, que tange a natureza do homem, é omitida, sem ao menos uma explicação. Não existe um questionamento para além de encontrarmos a nossa origem ou por que não surgem novos meninos. E isso nem é tão profundo assim.

O livro peca, nas duas primeiras partes, em objetividade, buscando, sem sucesso, ser uma obra introspectiva. O ritmo é lento. Chato de acompanhar. Os questionamentos são rasos e fica a cargo do escritor Warren – contratado para criar tramas que reforçam a cultura da Parentalidade para os meninos, e que agora está arrependido – as melhores reflexões. 

É impossível negar a qualidade nos trechos de questionamentos de Warren, porém estas passagens atravancam a história do menino J, que perde espaço em reflexão. Algo, a meu ver, pela premissa, muito mais interessante. Afinal,  o personagem é o maior oprimido deste sistema e merecia um melhor desenvolvimento de pensamento.

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A surpresa

A terceira parte do livro abre com uma virada na narrativa que salva Inspeção do mesmo destino de Piano Vermelho: ser esquecível. 

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Aqui, vou abrir um parênteses. Tenho uma mania de não ler sinopse ou só passar o olho. Provavelmente, quando o livro foi lançado, eu dei uma olhada, gostei e ficou por isso mesmo. Quando comprei, um ano depois, já nem lembrava da trama. Então, para mim, quando a menina K surge, foi um baita plot twist. Fiquei surpreso ao saber que estavam fazendo um experimento com elas também. Na minha opinião, algo tão significativo eu omitiria da sinopse. Assim, todos teriam esse choque positivo.

Orelha Inspeção livro

Agora, sim, uma leitura frenética

Enfim, quando a narrativa foca na menina K, tudo muda. Fiquei em êxtase. Era isso que eu esperava de Inspeção! Uma leitura arrebatadora, tensa e chocante. Protagonizada por uma personagem curiosa, questionadora, que corre atrás dos seus objetivos e luta pelos seus ideias. 

Parte III Inspeção

A trama das meninas é bem mais instigante. Deixa os meninos como meros acessórios e, de fato, são. Sim, faltam questionamentos. No entanto, a ação e as reviravoltas sustentam toda a narrativa. Algumas cenas protagonizadas por elas são fantásticas. Uma delas, inclusive, me provocou arrepios e outra, perplexidade. No fim, vibrei.

Acredito que, se Inspeção desse mais destaque para as meninas desde o começo e investisse mais na ação e no horror, teríamos outro tipo de resenha aqui. Virei fã destas garotas. Elas salvaram a leitura.

Josh e os universos extensos

Josh tem um talento único para escrever uma narrativa tensa. Entretanto, acredito que, quando ele amplia demais o universo e as tramas, se perde um pouco. O ritmo fica muito irregular (principalmente nas duas partes iniciais), a história não anda e a tensão esfria. 

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Inspeção é uma boa leitura, apenas. Tem seus momentos grandiosos, porém, é mal costurada e pouco objetiva. Uma desperdício para uma premissa tão interessante.

Título: Inspeção | Autor: Josh Malerman | Tradutora: Carolina Selvatici | Editora: Instrínseca | Páginas: 416

Apaixonado por histórias, tramas e personagens. É o tipo de leitor que fica obsessivamente tentando adivinhar o que vai acontecer, porém gosta de ser surpreendido. Independente do gênero, dispensando apenas os romances melosos, prefere os livros digitais aos impressos, pois, assim, ele pode carregar para qualquer lugar.

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