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Entrevista: Fabíola Simões

Fabíola Simões
Fabíola Simões / Divulgação

Viver cada dia intensamente e priorizar aquilo que realmente importa. Não deveria ser algo tão difícil, porém, percebemos ao longo dos anos o quanto a superficialidade tomou conta dos desejos e anseios das pessoas, em detrimento daquilo que é verdadeiro e natural. E é essa necessidade que, muitas vezes, nos faz esquecer a nossa própria essência e nos leva a uma busca desenfreada por uma identidade que perdemos no meio do caminho. Em seu novo livro, Deixei Meu Coração em Modo Avião, lançado pela Faro Editorial, Fabíola Simões quer justamente promover essa reflexão no que diz respeito às nossas relações e ao nosso papel no mundo moderno.

Criadora da página A Soma de Todos os Afetos, com mais de 2,5 milhões de seguidores no Facebook, ela reúne textos sobre sobre amor, perda, relacionamentos, amizade, família, autoestima e aceitação. Em sua nova obra, ela convida os leitores a participarem desse processo de redescobertas.

“A intenção do meu livro é levar o leitor a se reconectar consigo mesmo”, explicou Fabíola em entrevista ao Vai Lendo. “Através de crônicas que refletem um pouco do meu olhar, convido o leitor a refletir sobre aquilo que ele prioriza na sua vida. Pois, muitas vezes, vamos vivendo, sobrevivendo dia a dia, dando valor a coisas insignificantes e nos esquecendo daquilo que deveríamos valorizar. Muitas vezes, estamos tão envolvidos com as influências externas, com o barulho do mundo, com as expectativas que criamos, que nos esquecemos do principal: nós mesmos e aquilo que mais internamente desejamos”.

Mais do que retratar questões, conflitos e outros aspectos do nosso cotidiano, as crônicas de Fabíola também cumprem um papel quase motivacional ao instigar os leitores a procurarem pontos positivos em suas vidas. Isso, aliás, é algo que a própria escritora afirmou tentar exercer no seu dia a dia.

“Eu percebo essa impressão que as minhas crônicas têm de motivar, de levar a uma reflexão positiva, mesmo quando a realidade é difícil”, disse. “Quando um autor escreve, ele não escreve somente para a pessoa que o lê, mas também para si mesmo. E eu preciso acreditar que as coisas vão dar certo, esse é meu jeito de lidar com a vida e com as suas imperfeições. E, mesmo quando as coisas não saem conforme o combinado, resisto e digo que a gente só cresce quando a vida desafia algumas de nossas certezas”.

E foi justamente essa percepção que a ajudou a lidar com a frustração do adiamento dos eventos de lançamento do livro, em virtude da pandemia.

Deixei Meu Coração em Modo Avião, de Fabíola Simões
‘Deixei Meu Coração em Modo Avião’, de Fabíola Simões/ Divulgação

“No início, eu fiquei muito triste e frustrada”, afirmou. “Mesmo não querendo, a gente cria expectativas, planeja, sonha. Porém, depois, percebi que não tinha como ser de outro jeito, mesmo que eu quisesse. Então, acho que essa noção de que não havia outra alternativa me fez aceitar melhor os fatos. Nem tudo dependia de mim, nem tudo estava ao meu alcance de resolver. Isso é algo que eu sempre falo nos meus textos: a gente pensa que está no controle de tudo, mas não está. A gente pode sonhar, pode fazer planos, pode querer muito alguma coisa. Porém, a vida tem suas próprias regras e, às vezes, a gente tem que lidar com o inesperado. Aquilo que te pega de surpresa num dia comum e faz tudo mudar. É difícil, mas também transformador”.

Com um público fiel em sua página e no seu canal do Youtube, Fabíola lamentou não poder estar em contato direto com os leitores, mas exaltou o carinho e de todos e a boa recepção de sua nova obra.

“O lançamento do meu terceiro livro pela Faro foi a concretização de um grande sonho, pois desejava muito entrar numa livraria física e encontrar o livro exposto, acessível ao público”, apontou. “Porém, logo que o livro chegou às livrarias físicas, a quarentena começou e mal tive tempo de curtir a alegria de encontrá-lo nas prateleiras. Sei que essa fase é passageira e vou ter essa felicidade novamente, mas, com certeza, houve uma quebra na expectativa e um desejo de que o livro chegue aos leitores de outra forma, pelas vendas online, do jeito que é possível no momento. A gente tem que se adequar àquilo que a gente não planejou, mas que a vida planejou para a gente. O retorno em relação aos leitores, todavia, está maravilhoso, muito além do esperado. Todos os dias recebo mensagens muito carinhosas, muitas fotos de leitores, muitos feedbacks positivos. Isso é muito gratificante!”.

Numa época em que vemos o ódio e a intolerância serem cada vez mais disseminados nas redes sociais, o conteúdo de Fabíola vai na contramão dessa tendência. No entanto, ainda assim, ela confirmou ser necessário pesar bem as palavras ao abordar temas que possam ser considerados polêmicos para não gerar discórdia entre aqueles que não conseguem lidar com opiniões divergentes.

“Hoje, minha página no Facebook é administrada por uma equipe que busca postar matérias que vão de encontro ao conteúdo dos meus textos”, contou. “Como são muitos seguidores, nem sempre agradamos a todos e recebemos algumas críticas e comentários não tão agradáveis. Eu aprendo com os feedbacks que recebo, e aqueles não tão simpáticos eu tento ignorar. O maior desafio que encontro é conseguir falar de temas polêmicos de uma maneira que não gere tanta discórdia. Pois as pessoas estão muito inflamadas ao defender os seus pontos de vista, principalmente quando o tema é delicado. Então, evito me expor quando o assunto pode gerar muito ‘bate boca'”.

Em tempos de isolamento social, muitas dúvidas, incertezas e medos, a obra de Fabíola se mostra um alento e uma alternativa para que possamos, se não encontrar, pelo menos, buscar algum equilíbrio. Para ela, a literatura tem essa capacidade de transformar e de confortar.

“Nesse momento de incertezas que vivemos, a proposta do livro pode ajudar porque temos recebido uma enxurrada de informações, muitas vezes, desencontradas, e isso gera muita angústia e ansiedade”, concluiu. “Ao propor um silenciamento, um afastamento saudável daquilo que nos rouba a paz, a leitura pode trazer algum tipo de alívio e conforto. Acredito, sim, que a literatura pode exercer esse papel de acalmar a mente, sossegar o coração e organizar as emoções. Quando nos identificamos com as histórias que lemos, quando elas conseguem trazer um entendimento maior sobre as nossas próprias experiências, quando abrem um campo de reflexões, com certeza, a literatura cumpriu o seu papel. Como leitora, acredito que a literatura salva”.

Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

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