Resenhas

Nove Desconhecidos, de Liane Moriarty | Resenha

Por que é tão difícil estarmos satisfeitos com as nossas vidas? Aceitarmos que o que temos é o suficiente? Essa busca constante pela perfeição e/ou pela completude geralmente nos leva a uma sensação bastante incômoda de frustração, responsável por uma ansiedade crescente e, até mesmo, pela depressão. E é justamente sobre esses anseios que Liane Moriarty fala em seu novo livro, Nove Desconhecidos, publicado aqui no Brasil pela Intrínseca (inclusive, a obra foi lançada antes através do Intrínsecos, o clube de assinaturas da editora). E, mais uma vez, a autora é dura e certeira.

Em Nove Desconhecidos, um grupo de nove pessoas se encontra em Tranquillum House, um spa que fica bem afastado da cidade e proíbe qualquer tipo de contato com a civilização. Ou seja, sem celulares, carro nem qualquer contato com o exterior. O objetivo é elas aproveitarem esse tempo para refletirem e se redescobrirem. Durante 10 dias, essas pessoas terão que lidar com suas inseguranças, medos e questões interiores. Tudo isso sob a vigilância severa e quase obsessiva da diretora do spa, Masha.

A temática de Nove Desconhecidos não poderia ser mais atual. E pertinente para o momento que estamos vivendo. Isso porque, com suas personagens, Liane traça uma avaliação extremamente detalhada e realista de nós, como sociedade, e do ser humano, como indivíduo. No livro, são nove pessoas buscando uma resposta. Mas poderia ser qualquer um(a). E o formato da narrativa, que alterna entre os personagens para apresentar diferentes pontos de vista e diferentes formas de se lidar com questões das mais variadas, contribui – e muito – para essa identificação. Perda, luto, drogas, depressão, estresse, problemas com peso, dinheiro, maternidade. Tudo tão real. Tão natural e direto. Tão Liane.

Apesar de o livro girar em torno de nove personagens, além de Masha e seus funcionários, é Francis quem sobressai, e particularmente é a minha personagem preferida. Escritora de romances best-sellers, porém, em decadência e com sérios problemas de aceitar críticas, ela chega à Tranquillum House para, quem sabe, aproveitar para relaxar e curar um problema físico, além de tentar esquecer os problemas do coração. Francis é tão humana que parece ser de verdade, quase como se ela mesma estivesse contando a sua própria história pra gente. E, ainda que tenha as suas questões, diferentemente dos demais, ela não chega a sucumbir ao egoísmo e/ou à vaidade, em alguns momentos. Masha é outra personagem igualmente fascinante, porém, quase intolerável. Talvez, porque ela escancare essa nossa necessidade quase urgente por controle e aceitação. Difícil de engolir e principalmente de aceitar.

A escrita de Liane é excepcional. Ela consegue mesclar momentos de seriedade e de reflexão profundas com situações cômicas quase absurdas. E é impressionante como Liane também desenvolve bem a relação e a dinâmica das personagens, mesmo sendo muitas e todas com personalidades e características bem distintas. Nove Desconhecidos faz críticas, propõe avaliações pessoais e mostra que, cada vez mais, precisamos parar de buscar algo que provavelmente nunca teremos porque, vejam só, não precisamos. Assim como não precisamos nos esforçar para seguir padrões impostos. Nove Desconhecidos é diferente dos livros que li de Liane e, ainda assim, mais uma vez, foi uma leitura incrível.

Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

Um comentário

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *