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Matadouro-Cinco, de Kurt Vonnegut | Resenha

‘Matadouro-Cinco’:  um livro antiguerra, de fácil compreensão, reflexivo e, acima de tudo, divertido

A guerra, por mais absurda que seja, é constantemente glamourizada na ficção. São histórias que reforçam a luta coletiva na busca por um ideal, culminando num ato heróico. É claro que são recheadas de batalhas, violência, sangue e muita (mas MUITA) morte. Mas isso é um “mero detalhe” para um desfecho de superação, conquista e, no caso da literatura norte-americana, um nacionalismo exacerbado. Em contrapartida a esta matança sem sentido e desnecessária, Matadouro-Cinco, uma das principais obras de Kurt Vonnegut, traz toda a crítica do autor aos absurdos da guerra, sem perder, claro, o bom humor. E, para comemorar os 50 anos da obra, a editora Intrínseca trouxe, em 2019, uma edição de capa dura incrível para este clássico moderno.

Billy Pilgrim, protagonista da obra, assim como Kurt Vonnegut, testemunhou, como prisioneiro de guerra, em 1945, o bombardeio que destruiu a cidade alemã de Dresden. Como é apresentado no prefácio do livro, retratar a sua vivência na Segunda Guerra Mundial, em especial neste episódio, era um desejo do autor concretizado na obra.

Matadouro-Cinco narra a trajetória de Billy, que, depois de ser capturado por tropas inimigas e forçado a trabalhar na fabricação de suplementos vitamínicos em um depósito de carnes, acaba sobrevivendo ao bombardeio em Dresden. Depois de ter visto todos os tipos de mortes e crueldades arbitrárias e absurdas, Billy volta à realidade de consumo norte-americana. Intercalando episódios comuns da sua vida com uma experiência fantástica de viagens no tempo e no espaço, o personagem apresenta a sua insana biografia ao público.

O coloquialismo marca a linguagem do livro. A mensagem antiguerra do autor é muito clara e, com uma escrita ágil, afiada e recheada de humor, fica fácil a compreensão. Não tem muito rodeio. Isso facilita o leitor viajar na loucura que é a vida de Billy Pilgrim, uma vez que a narrativa não segue uma cronologia temporal, o que poderia dificultar o entendimento da obra.

Mesclar relatos históricos, humor e ficção científica é o que faz Matadouro-Cinco ser esse sucesso. O ápice do trabalho de Vonnegut, para mim, é a crítica ao fato de a nossa sociedade se acostumar com tudo. Quando o autor utiliza excessivamente a expressão “é assim mesmo” no texto, ele mostra o quão banal são as nossas reações diante de atrocidades ou o simples fato de aceitarmos “de boas” certas condições. E, ironicamente, é assim mesmo.

A narrativa de Matadouro-Cinco é bem simples, sem grandes reviravoltas, o que a torna – justamente por isso – fascinante. O humor singelo escancara duras crítica às guerras e a toda esta apatia social diante de tamanhas atrocidades, além de quebrar este ideal glamourizado, que a ficção insiste em retratar.

Matadouro-Cinco é um livro antiguerra, de fácil compreensão, reflexivo e, acima de tudo, divertido. Uma história que beira o absurdo, mas que, no fim, mostra que absurda mesmo é só a guerra. Nos períodos em que o desejo de pegar em armas parece a única saída, a leitura de Kurt Vonnegut  se mostra atual e obrigatória.

Apaixonado por histórias, tramas e personagens. É o tipo de leitor que fica obsessivamente tentando adivinhar o que vai acontecer, porém gosta de ser surpreendido. Independente do gênero, dispensando apenas os romances melosos, prefere os livros digitais aos impressos, pois, assim, ele pode carregar para qualquer lugar.

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