Resenhas

Ecos, de Pam Muñoz Ryan | Resenha

‘Ecos’: um livro cheio de tons

Eu já li mais de um livro que tem a música como parte da trama, mas nunca tive o prazer de encontrar uma história que a tivesse como temática principal de forma tão bonita. Em Ecos, de Pam Muñoz Ryan, publicado pela editora Darkside Books, a música é uma personagem.

E que personagem…

A trama de Ecos pode ser vista, de certa forma, como uma antologia. Eu pensava assim até perceber quem realmente era a personagem principal.

Uma gaita. Depois disso, percebi que era tudo uma história só.

Abençoada por três irmãs amaldiçoadas, oriunda de uma espécie de conto de fadas — tem até a bruxa malvada —, a gaita é mágica. E essa mágica fica evidente em sua música. Ela é enviada pelo mundo como a única chance de devolver a liberdade das três irmãs. Elas seriam livres quando essa gaita salvasse a vida de alguém. E eu, como a frouxa que sou, já fiquei arrepiada quando li essa parte, logo no início.

Enfim, a gaita passa pela sua Era e percorre o mundo, indo parar nas mãos de um garoto que sonha em ser um maestro, regendo orquestras imaginárias, mas com medo do que as pessoas vão achar ao ver o seu rosto marcado, em plena Alemanha nazista. Depois, ela vai para os Estados Unidos, onde é comprada para um menino órfão, cujo maior desejo é ter um lar para si e seu irmão. Por fim, ela é adotada por uma descendente de latinos, em uma América desigual e preconceituosa, logo após Pearl Harbor. Tudo o que ela quer é fazer música. E, assim, a gaita vai passando de mão em mão e mudando a vida daqueles que ouvem a sua música.

Essa é uma pequena premissa do que você vai ver se aceitar conhecer essa história incrível. E eu sugiro que aceite. Como quem lê as minhas resenhas deve saber, eu sou uma das criaturas mais choronas que conheço quando se trata de histórias. Mas, com Ecos, eu chorei de emoção. Ryan conseguiu me atingir profundamente com todas essas histórias. E pode ter certeza de que procurarei outros livros dela.

A história de Ecos é lindamente bem amarrada, finalizada de maneira primorosa e, sem sombra de dúvidas, é tão linda que eu não consigo parar de imaginar por minha própria conta o que aconteceu com os personagens depois de terminada a trama. Eu continuo criando e criando vidas para eles. Acho que isso, de certa forma, é saudade. Cada conto aborda uma temática problemática — os horrores do nazismo, o medo de perder o pouco que tem e nunca conseguir o que quer e o preconceito racial. E acho bem válido comentar que, no fim da narrativa de cada conto, a autora consegue deixar o leitor com o coração na mão, pensando no pior, mas com esperanças do melhor.

Quanto ao trabalho da editora, está excelente — acho que, mesmo se estivesse uma porcaria, eu nem daria atenção porque, com uma história dessa, o livro podia ter sido impresso em papel higiênico que eu amaria. A capa está muito bonita — adorei as cores, mas não vi muita lógica na arte das crianças na frente, poderiam ter feito algo mais coerente. Mas a diagramação está lindíssima e do restante não tenho do que reclamar.

Já haviam me dito que Ecos tinha uma história linda, mas eu sinceramente não esperava ser tão tocada assim. Quando terminei de ler, foi como se eu tivesse acabado de ouvir uma música em prosa dentro da minha cabeça, sob o ritmo da minha própria leitura.

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