Resenhas

Um Milhão de Finais Felizes, de Vitor Martins | Resenha

‘Um Milhão de Finais Felizes’: aquela leitura necessária e amorzinho que você precisa ler para ontem

Depois de estrear no mercado editorial com Quinze Dias, romance publicado pela Globo Alt, em 2016, Vitor Martins lançou neste ano Um Milhão de Finais Felizes, também pelo selo jovem da Globo Livros. Ambos falam sobre um romance gay, mas a diferença está nas fases. Se, em Quinze Dias, Vitor nos traz Felipe e Caio, dois adolescentes, em UMDFF (sim, estou abreviando por praticidade), temos Jonas e Arthur que estão naquele limbo pós-ensino médio, no meio da faculdade, em que precisamos escolher o caminho da nossa vida cedo demais.

Jonas é um atendente do Rocket Café, uma espécie de Starbucks com temática espacial, mora com seus pais – uma mãe super religiosa e um pai opressor – e suas alegrias residem nos poucos amigos que tem: Karina, sua colega de trabalho, uma atriz gorda de descendência asiática; Danilo, um dançarino entusiasta que constantemente cuida dos seus irmãos; e Isadora, bastante presa à sua vida da faculdade, quase não tem tempo para encontrar seus amigos da escola.

O trabalho de atendente ajuda a pagar as contas – inclusive boletos infames do pai -, mas a verdadeira vocação de Jonas é ser escritor. Todos os dias, ele carrega como se fosse parte do próprio corpo um caderninho recheado de ideias para livros que ele completa com o tempo. E é nesse dia a dia que ele conhece Arthur, um cara ruivo e de barba ruiva (muito importante!) que chega no Rocket Café e deixa Jonas encantado. Ele vem e vai tão rápido que nosso protagonista só tem tempo para ter uma ideia para um novo livro graças a um pequeno flerte entre os dois: que venha a história de Piratas Gays!

Embora o casal seja uma grande parte de Um Milhão de Finais Felizes, achei incrível como Vitor conseguiu que seu livro transborde para mais que uma história romântica. Em Quinze Dias, nós vemos um pouco a questão da gordofobia e a aceitação do próprio corpo, mas em UMDFF o autor soube passear entre o romance, a evolução da personalidade de cada personagem, representatividade, entre outras coisas mais.

Em um dos seus vídeos, Paulo Ratz, do canal Livraria em Casa, disse que adorou como Vitor evoluiu como escritor nesse segundo livro e eu não consigo deixar de concordar. Ele é um autor bem-humorado, que sabe tratar temas pesados com leveza sem tirar a importância e a necessidade do debate deles. Além disso, a construção dos personagens, em especial a de Jonas, é maravilhosa. O protagonista passa por grandes mudanças e se transforma de uma forma crível, onde não muda completamente de personalidade mas, sim, cresce sem perder sua essência.

Um Milhão de Finais Felizes foi a leitura de setembro no clube de leitura dos canais De Livro em Livro, Xícara Quente e Louca dos Livros, o Buddyread DLX, e nós discutimos a necessidade do livro anexo. Sim, livro anexo porque Vitor também escreveu, ou melhor, fez Jonas escrever Piratas Gays. Pode não ser a melhor história do mundo, mas eu acredito fortemente que PG veio para mostrar o quanto Jonas amadurece durante a história. Por isso, abracei esse extra e me deixei levar.

Mesmo com o foco da história em Jonas, ainda conseguimos perceber o quanto os outros personagens mudam com ele. Adoro a trajetória de Arthur e Danilo, especialmente quando percebemos que nem tudo são flores, mesmo quando os personagens parecem ser só sorrisos e good vibes. Acredito fortemente que cada personagem foi super necessário e não tiraria nenhum. Inclusive, Vitor, pode fazer um livro só para Karina, pelo amor dos deuses? Por favor, nunca te pedi nada!

Para quem acompanha o autor nas redes sociais, ou em sua newsletter, fica bem claro a quantidade de si mesmo que ele depositou em UMDFF. Imagine para quem o conhece e convive com ele? Não necessariamente só em Jonas, mas na obra como um todo. Sobre isso: muito obrigada, Vitor. Foi um ato de muita coragem e espero que você esteja recebendo todo esse amor de volta.

Pois bem, momento tiete acabou. Voltemos ao livro. Um Milhão de Finais Felizes quebra estereótipos, sensibiliza leitores e deixa nosso dia mais leve. Ele fala com a nossa alma, nos momentos bons e nos mais complicados, e se torna facilmente um dos favoritos da estante. Mal posso esperar pelos próximos trabalhos do autor. Enquanto não chegam, pode pegar UMDFF para ler sem medo. Vai adorar.

Apaixonada por música, cinema, séries e literatura, história mundial e andar de bicicleta. Sonha em ter muitos carimbos em seu passaporte, mas por enquanto escreve sobre o que leu, viu e gostou no Anatomia Pop.

Um comentário

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *