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Uma Dobra no Tempo, de Madeleine L’Engle | Resenha

Uma Dobra no Tempo: uma viagem fascinante e atemporal

Magia, fantasia, ciência, tempo. Tudo é tão relativo e está, de alguma forma, interligado, ditando as atitudes do indivíduo e o comportamento da sociedade. Às vezes, ou melhor, quase sempre, a ficção não está tão longe da realidade.E nada como refletir sobre todas essas questões com quem tem prioridade. Ninguém menos do que a célebre Madeleine L’Engle com a obra Uma Dobra no Tempo, publicada por aqui pela HarperCollins Brasil.

Na história, acompanhamos a jornada de Meg e seu irmão caçula, Charles Wallace. Eles recebem uma visita um tanto quanto incomum durante uma noite escura e tempestuosa e embarcam, juntamente com o amigo Calvin e três criaturas muito peculiares, numa aventura pelo tempo e pelo espaço em busca do tesserato, um artefato que seu pai procurava, quando desapareceu sem deixar pistas.

Uma Dobra no Tempo é um clássico e isso a gente percebe já nas primeiras páginas e palavras escritas por Madeleine. O livro, que é o primeiro volume de uma série, completou recentemente 50 anos de seu lançamento. Mistura de ficção científica e fantasia, a história criada pela autora arrebata e nos envolve de uma forma um tanto quanto peculiar, exatamente como os seus próprios personagens. Tudo neste livro é mágico. E tudo neste livro também é tão real, dependendo do ponto de vista. Todas as reflexões, todos os conceitos e questionamentos apresentados por Madeleine são atemporais. E isso ajuda – e muito – no nosso envolvimento com a obra. A leitura, apesar de toda a teoria, é muito fluida. É impressionante como a gente não percebe que está devorando tudo aquilo. Senti quase como se eu estivesse tesserando com Meg, Charles e Calvin.

Por falar neles, que trio maravilhoso!! Que personagens encantadores e cativantes, cada um com a sua própria personalidade, suas diferenças. Eles se equilibram de uma maneira deliciosamente despretensiosa e divertida. Que mentes incríveis e interessantes de se acompanhar, ao longo da trama. Especialmente a de Charles, que mescla a inocência de sua idade com a maturidade oriunda da genialidade. Gostei demais também das intervenções das senhoras “Quem”, “Quequé” e “Qual”. Nomes tão pitorescos quanto suas donas. Confesso que gostaria que suas participações fossem maiores.

Uma Dobra no Tempo aborda questões fundamentais da existência e da convivência humana, com reflexões sociais até mesmo profundas, incluindo algumas citações bíblicas. Tudo isso aliado à ciência. Sensacional, não? Madeleine mostra com maestria que todos podem conviver e que todos os lados, crenças e pensamentos podem coexistir. A edição – linda, por sinal – traz ainda o discurso de agradecimento da própria autora pela medalha Newberry – tão emocionante quanto o livro -, bem como um posfácio incrível com um depoimento da neta de Madeleine contando a trajetória da avó. É nesse posfácio também que descobrimos todas as dificuldades da escritora para conseguir publicar Uma Dobra no Tempo e as controvérsias que o livro causou na época.

Em primeiro lugar, pelo fato de não conseguirem definir o gênero – fantasia ou ficção científica -e a faixa etária do livro. Para muitos, uma obra infantojuvenil. Para outros, um livro mais para os adultos que conseguiriam absorver de forma apropriada as reflexões geradas. E esse, inclusive, foi o outro motivo de discussões a respeito do texto de Madeleine. Por conta das citações religiosas, muitos chegaram a considerar Uma Dobra no Tempo uma fantasia bíblica (o que eu não concordo). Enquanto algumas pessoas reclamavam justamente dos temas abordados pela autora, considerando a obra um tanto quanto liberal e científica demais. Para mim, essa dualidade, essa ambiguidade foi justamente o que me agradou. Uma Dobra no Tempo não precisa ser definido, muito menos limitado, restrito a públicos e/ou gêneros. É um livro visionário, clássico, atemporal.

Conheça também a versão Graphic Novel do livro ‘Uma Dobra no Tempo’!

Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

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