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NESPE lança curso de pós-graduação em tradução literária com palestra da DarkSide Books

Em aula aberta, Núcleo de Estratégias e Políticas Editoriais se reuniu com editores da DarkSide para falar sobre o papel e a importância do tradutor e apresentar o novo curso, voltado para o mercado editorial

Sábado à tarde, sol e… sala de aula lotada! Não, você não leu errado. Quem conseguiu a proeza foi o NESPE (Núcleo de Estratégias e Políticas Editoriais), junto com os editores da DarkSide Books, na aula aberta Tradução: DarkSide e Outros Assombros para apresentar a pós-graduação em Tradução em Língua Inglesa para o Mercado Editorial. O evento aconteceu no último sábado (12), na Universidade Santa Úrsula, no Rio de Janeiro. E o papo teve tudo o que nós, leitores e aspirantes ao mercado editorial, gostamos e queremos: livros, dicas, aprendizado e boas risadas.

A editora Denise Schittine, coordenadora da pós, destacou que o diferencial das aulas será voltado para o lado mais prático da função,  justamente para capacitar os profissionais e ajudá-los a absorver melhor as nuances da linguagem e dos padrões de textos.

“Essa pós eu montei porque é um sonho meu”, declarou Denise, em entrevista ao Vai Lendo. “Eu também sou editora, então eu estou do lado de lá.  Eu sou uma das pessoas que avaliam os tradutores. Primeiro, um bom tradutor precisa ter uma boa ideia de cultura, de contexto da língua para a qual ele está traduzindo. Ele tem que conhecer bem o autor que ele está traduzindo. Tem que pesquisar, né? Ele tem que ter um bom português, um bom inglês, espanhol, italiano. A gente vai reforçar o lado prático da tradução. Então, a pós, além da parte teórica muito forte – teremos professores de teoria literária e de crítica literária – tem também a parte prática, que será dada pelos editores, tradutores, preparadores de original. Muito exercício em sala, que é para eles entenderem as diferenças, as comparações. O que acontece quando é o inglês britânico, por exemplo? O inglês da Irlanda? O norte-americano? São diferentes. São formas culturais de ver as coisas diferentes”.

Da esquerda para a direita: os coordenadores do NESPE, Cibele Bustamante e Leandro Müller, e a coordenadora pós em Tradução, Denise Schittine

Pela DarkSide estiveram presentes Christiano Menezes, um dos fundadores da editora, Bruno Dorigatti e Lielson Zeni. Para eles, é fundamental conhecer o profissional de tradução, o seu perfil, e adequá-lo à obra que será traduzida.

“Estamos trabalhando para melhorar cada vez mais a parte do texto”, afirmou Lielson durante a aula. “Estamos sempre tentando afinar a conversa com os tradutores. A tradução tem muito de autoria. Se pusermos o mesmo texto para cinco ou seis tradutores, teremos traduções diferentes na mão. Ele vai ter o perfil de cada um desses tradutores. Nosso trabalho é achar o melhor perfil para aquele livro. A melhor pessoa que poderia fazer a melhor tradução para determinado livro. Temos um processo de busca e pesquisa intenso”.

Christiano, inclusive, ressaltou que o perfil do tradutor influencia – e muito – no resultado final e que é necessário tornar a tradução também um diferencial para o produto, no caso, o livro. E reiterou que as notas do tradutor devem ajudar a aprimorar a experiência dos leitores.

“O perfil de cada profissional, de fato, conta muito no final de cada uma das traduções”, complementou ele. “Seja a bagagem de pesquisa ou características acumuladas. Tentamos juntar as peças certas para trazer um produto, dar vida ao produto. Encontrar um tradutor que realmente se identifica com a obra ajuda muito, o resultado final é muito bom. Fica uma jornada mais prazerosa para todo mundo e deixa o resultado final muito forte principalmente para quem vai consumir esse texto. Respeitar as características do tradutor é, antes de tudo, respeitar o leitor.  A ideia da nota não é justificar, mas contextualizar. Precisamos pensar na experiência do leitor. Nos preocupamos em fazer uma caminhada com o leitor, independentemente da bagagem, da idade. Queremos que ele se encante com a palavra. A nota é para induzir. Sendo correta, faz com o que o leitor caminhe para o andar de cima. Nunca para facilitar, mas ajudar”.

A equipe da DarkSide, da esquerda para a direita: Christiano Menezes, Lielson Zeni e Bruno Dorigatti

Eles também  discutiram a presença da internet, hoje em dia, neste processo, uma vez que as redes sociais aproximaram os leitores das editoras. E, com um público tão exigente quanto o da DarkSide, a cobrança pela qualidade da tradução é cada vez maior. Mas, isso, Christiano, Bruno e Lielson garantiram que não é um problema. Pelo contrário. O público tem a oportunidade de ajudar, e muito, durante o processo.

“Esse feedback dos leitores é instantâneo”, disse Bruno. “Já fizemos consertos com isso e também fomos atrás de títulos que os leitores pediram. Conhecemos alguns títulos que nos eram desconhecidos. Essa troca é intensa, e nós procuramos avaliar, sim, sobretudo em relação ao texto. Geralmente, o leitor está certo. É fundamental. É importante ter esse retorno. Você tem que ouvir os leitores. Está fazendo livro para as pessoas. E, na medida do possível, tentamos responder a todos”.

Christiano ainda exaltou a troca de experiência e de impressões com os leitores.

“Todo o processo de tradução é muito enriquecido por essa troca com os leitores”, reiterou. “Quando sai a segunda edição de um livro tem sempre algo que você consegue lapidar e geralmente o mérito, nessa hora, é dos leitores. É uma troca muito bacana. E nós fomos deixando isso mais consistente a cada ano. Lógico que existem erros e escolhas equivocadas, mas com o objetivo de fazer sempre o melhor. Como são muitos, é como se fosse um grande clube de leitores. E, às vezes, eles conseguem esmiuçar uma frase. E chega de forma tão clara para nós, já vem muito maduro. Talvez, essa troca seja uma das coisas mais legais”.

E, para aqueles que estão começando, eles sugerem muito foco, estudo, profissionalismo e, claro, leitura.

“Eu preciso saber que tipo de tradutor você é, preciso que se apresente para eu saber em que projeto posso te encaixar”, aconselhou Lielson. “Dentro desse grupo terão outras características essenciais. Preciso confiar que vai entregar no prazo. Que não vai se importar com alterações. Não é só um perfil. Passa por um certo caráter. Eu procuro uma tradutor, um profissional que se importe com o livro mais do que consigo mesmo. Preciso de pessoas que queiram fazer livros, não aparecer”.

“Tem que partir de uma verdade”, apontou Bruno. “Tem que ser um leitor, acima de tudo. A leitura é o primeiro passo e, depois, você vê as suas especificidades”.

“A gente quer um tradutor que saiba fazer o seu trabalho, que entenda a influência que gera no produto final, que tenha bagagem”, concluiu Chris. “O objetivo é o produto final, o leitor. Você tem que se dedicar, se aprimorar e ter foco. Se você tem foco, consegue atingir o que quer. Você tem que saber para onde quer ir e em qual pessoa quer chegar”.

Aula aberta aconteceu no último sábado, dia 12, para apresentar a pós em Tradução em Língua Inglesa para o Mercado Editorial

Denise, por sua vez, também comentou a questão do reconhecimento, da pouca valorização que o tradutor ainda tem no mercado editorial e destacou a relação positiva da própria DarkSide com esses profissionais.

“Realmente há essa dificuldade de reconhecer esse trabalho, o profissional”, indicou. “Essa palestra foi muito importante. A DarkSide valoriza os seus tradutores. Os clássicos são lançados  com tradutores fazendo autógrafos no livro, ou seja, ele é considerado um segundo autor. É uma pessoa muito importante porque, na verdade, alguns leitores não teriam acesso àquela obra se não fosse essa pessoa fazendo esse meio de campo. Então, é óbvio, eu sempre costumo dizer – isso como editora, mais do que tradutora, porque eu  também traduzo do espanhol –  que o papel do tradutor e do editor é ser o mais invisível possível. Quanto mais invisível você é, mais você aparece. Por outro lado, o tradutor é quase um autor também. É preciso que se valorize essa pessoa. Os editores valorizam cada vez mais. O que falta é o público conhecer. Está lançando uma obra? Leva o tradutor para fazer. Se não fosse ele, talvez, aquela obra não chegaria ao leitor, que é o nosso grande ponto final. Onde queremos chegar. A gente sonha com os leitores. A gente quer que o leitor fique satisfeito”.

Para maiores informações sobre a pós-gradução em Tradução em Língua Inglesa para o Mercado Editorial acesse: http://www.nespe.com.br/pos-traducao/  

Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

Um comentário

  • Fabiana Lima

    Muitas editoras carecem de bons tradutores e não poderia deixar de dizer: REVISORES! EM NOME DE JESUS!

    Porque é cada erro que SÓ pedindo perdão de joelhos e rezando uns mil pais nossos para ser perdoado (e olhe lá) …

    Além de tradutores que ENTENDAM DO QUE ESTÃO FALANDO, pois recentemente li um romance de época traduzido de uma forma tão horrível que deturpou totalmente a história, cheio de gírias e palavras QUE NUNCA SERIAM USADAS NA ÉPOCA da trama…

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