Resenhas

Entre as Estrelas, de Katie Khan | Resenha

‘Entre as Estrelas: emoção, reflexão e DRs no espaço’

Duas pessoas sozinhas no espaço, à deriva.

Cada uma com sua posição ideológica, extremamente opostas.

Ambas possuem apenas 90 minutos de oxigênio em seus reservatórios.

Falando assim, você já começa a imaginar uma história de terror com traços de Jogos Mortais ambientada no espaço, né? Mas é o contrário disso. Entre as Estrelas, lançado pela editora Bertrand Brasil, traz uma das histórias de amor mais envolventes que já li.

O livro se passa no futuro. Estados Unidos e Oriente Médio foram aniquilados e só restou a Europa, ou melhor, a Europia –  uma utopia que se mantém a partir da rotação de suas comunidades. Esse sistema alimenta o desapego e o individualismo, pois, precisando se mover a cada três anos, as pessoas se separam de suas famílias, amigos e não conseguem manter relacionamentos de qualquer tipo por um longo tempo, incluindo os amorosos.

Nenhuma pessoa com menos de 35 anos pode namorar ou casar, segundo as regras de Europia. Mas, mesmo assim, o destino uniu os jovens Carys e Max. Ela, uma pilota e ele, um chefe de cozinha. Os dois não só tinham profissões bem diferentes, mas ideias super divergentes em relação à utopia em que viviam. Max, tão desapegado em suas relações, acabou se apaixonando por Carys e foi correspondido.

Entre as Estrelas narra o amor proibido de Carys e Max em duas linhas temporais distintas: passado e presente. No presente, os dois estão em uma missão espacial e não entendemos, de cara, como é a relação dos dois (se eles já se conheciam, como foram parar ali). A única coisa que sabemos é que eles correm risco de vida. Sem ninguém para salvá-los e sem aeronave, eles contam apenas um com o outro – e com um reservatório de oxigênio que durará por apenas 90 minutos.

Esse presente – que deixa nós, leitores, roendo as unhas a cada capítulo – começa a fazer mais sentido quando sabemos o passado dos dois. Há vários flashbacks durante toda a história, preenchendo lacunas deixadas pela linha temporal principal.

O resultado dessa estrutura narrativa é DESESPERO! É impossível largar o livro até a gente descobrir qual será o destino dos dois. Será que irão sobreviver? E, se sobreviverem, como ficarão juntos? Eu só queria gritar a cada capítulo que começava com “oitenta minutos”, “setenta e cinco minutos”.  Que sofrimento!

Apesar de ser o livro de estreia da autora, Katie Kahn sabe bem mexer com as nossas emoções. Ela não tem piedade na hora de criar os mais diversos problemas para Carys e Max, que, além de buscarem alguma forma milagrosa de salvação, ainda precisam lidar com fatores emocionais de qualquer casal. Já pensou em ter uma DR no espaço desviando de asteroides? É tipo isso.

Fiquei realmente impressionada com a qualidade da leitura. O ambiente claustrofóbico do espaço me deixava apreensiva; os personagens, muito bem construídos, eram revelados aos poucos e eu ia me apegando a cada um, apesar de seus defeitos; a história me intrigava e todos os pedaços se encaixavam de forma surpreendente.

Para uma leitora como eu, que nem é muito fã de ficção científica e romances, o livro foi uma verdadeira reflexão sobre amor, sociedade e como podemos construir um futuro melhor ao permitir que esses dois elementos se misturem.

Cresceu devorando os livros da Agatha Christie e esperando sua carta de Hogwarts. Sonha em tomar um café com a Patti Smith e dar um passeio no Maine com o Stephen King. É historiadora, roteirista, contista e contribui para o aumento da taxa demográfica de personagens.

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