Resenhas

Dois, de Oscar Nakasato | Resenha

‘Dois’: uma dicotomia familiar

Dois irmãos com ideais opostos. Duas vidas completamente diferentes. Será que o tempo é capaz de acertar as diferenças ou nem sempre laço sanguíneo é sinônimo de união? Afinal, o que une as pessoas? Qual o conceito de família, seu verdadeiro sentido? Dois, obra de Oscar Nakasato, publicado pelo selo Tordesilhas, da editora Alaúde, mostra a trajetória de dois irmãos na velhice, narrando as suas experiências e dramas familiares. São duas vozes distintas. A mesma história com dois olhares.

Zé Paulo e Zé Eduardo são irmãos, mas jamais se sentiram assim. Enquanto o primeiro é conservador e metódico, o outro é irrequieto e instável. Zé Paulo vive em Maringá, onde se casou e teve três filhos. Sempre seguiu as regras e julgava aqueles que as questionassem ou, simplesmente, pensassem diferente.  Zé Eduardo, por sua vez, sempre lutou pelos seus ideais. Partiu na juventude para São Paulo, onde lutou contra a ditadura e acabou sendo perseguido e exilado.

Dois mostra que uma história sempre tem dois lados e, dependendo daquele que narra, sente, tudo muda de figura. E esse retorno ao passado, mais precisamente na infância, é um dos pontos altos do livro, até porque mostra a origem da rivalidade dos irmãos. É interessante observar as distinções na criação dentro de um mesmo núcleo familiar e como isso colaborou para as diferentes visões de mundo, posicionamento e personalidade.

Na trama não existe certo e errado. São dois pontos de vista. E você consegue se identificar, ou pelo menos entender, os dois lados. A trama não busca um juízo de valores e, sim, apresentar a dualidade. A leitura reflete bastante a dicotomia latente hoje em dia, principalmente no que tange o viés político. É interessante observar também como isso acaba influenciando as relações familiares.

Dois é uma narrativa com duas vozes bem fortes (Zé Paulo e Zé Eduardo). Mesmo sem ter nenhuma distinção explícita (gráfica), identificando quem narra cada capítulo, é possível rapidamente saber a voz de qual irmão está sendo apresentada. A sensação é de que mais de uma pessoa escreveu o livro. Neste ponto, mérito do autor Oscar Nakasato, que soube, através do texto, dar vida aos personagens e construí-los de forma crível (e distintos).

Dois é uma obra densa, mas muito verdadeira. É o tipo de leitura que faz o público pensar nas relações familiares e, acima de tudo no elo: naquilo que une as pessoas, mesmo tão distintas. Também reflete a importância da família nos caminhos que escolhemos, ao mesmo tempo que mostra como estamos atrelados a este laço; tanto para o lado positivo quanto negativo.

Apaixonado por histórias, tramas e personagens. É o tipo de leitor que fica obsessivamente tentando adivinhar o que vai acontecer, porém gosta de ser surpreendido. Independente do gênero, dispensando apenas os romances melosos, prefere os livros digitais aos impressos, pois, assim, ele pode carregar para qualquer lugar.

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