Novos Autores / Independentes

Maurício Limeira: o caminho árduo de um escritor independente

Escritor falou de ‘O Terraço e a Caverna’, livro que traz debates sobre autismo e a deficiência física, a partir de perspectivas infantis, e os desafios para ganhar algum espaço no mercado editorial

A paixão que vem desde cedo e um talento que, desde a adolescência, se transforma nos mais variados estilos narrativos. Contos, poemas, peças de teatro, romances, roteiros. O funcionário público Maurício Limeira prefere não se limitar a gêneros na hora de escrever. Tanto que saiu do terror, com O Adversário, para o premiado O Terraço e a Caverna, um drama emocionante com um misto de fantasia.

“Realmente tenho mais facilidade com a fantasia e o terror, mas prefiro não me limitar”, afirmou Maurício em entrevista ao projeto VAI LENDO NOVOS AUTORES/INDEPENDENTES. “Geralmente, é a história que me escolhe, e não o contrário. Mas, às vezes, também procuro me desafiar, fazer algo que nunca fiz”.

Por falar em desafio, com O Terraço e a Caverna, Maurício não apenas mostrou que se arriscar vale a pena, como também levantou debates importantes, abordando temas como o autismo e a deficiência física, ambos através das perspectivas de crianças. Algo muito delicado, porém, necessário. Tanto que a obra foi premiado em concurso promovido pela Fundação Cultural do Pará.

‘O Terraço e a Caverna’, Maurício Limeira / Divulgação

“Eu nunca havia escrito histórias com crianças como protagonistas, então quis experimentar”, explicou. “Como não queria fazer nada muito adocicado, imaginei os problemas apresentados no livro. Não fiz muita pesquisa, li alguns artigos por alto, mas não me aprofundei. A realidade dos moradores de comunidades é bem conhecida, então não é preciso correr muito atrás de informação. Quanto à doença de Quinha, foi inventada, baseada no autismo. Meu interesse era descobrir o que havia dentro da cabeça dela, que mundo particular aquela menininha escondia ali dentro. Depois, foi só pensar os acontecimentos e deixar a emoção rolar. Para falar a verdade, houve muitos momentos em que a história parecia se desenrolar sozinha, principalmente nos eventos envolvendo a Quinha. Isso acontece bastante quando escrevo, e é uma das coisas que mais me dá prazer em literatura. Há momentos em que o personagem toma atitudes ou diz coisas que não estavam planejadas. Já aconteceu de uma história tomar um caminho e, no final, seguir outro bem diferente do que eu pretendia no início. E há uma curiosidade interessante: depois de ter terminado o livro, li uma notícia de jornal sobre uma família que, como a de Paco, foi descoberta vivendo em obras abandonadas do metrô”.

Maurício ressaltou que os concursos literários são, de fato, importantes e o resultado é bastante produtivo, tanto pela questão financeira quanto de divulgação. No entanto, ele indicou que não gostaria de ter que precisar deles para trabalhar as suas obras. Maurício ainda destacou as dificuldades enfrentadas na hora de se publicar um livro no Brasil, especialmente se for um autor iniciante, visto que, muitas vezes, depender de outros veículos para promover seu trabalho acaba virando mais um estresse. E, com isso, o escritor que não conseguir se fazer conhecido, passa a ter menos oportunidades e consequentemente menor espaço.

‘O Adversário’, de Maurício Limeira / Divulgação

“É preciso muito trabalho de pesquisa na hora da divulgação, embora eu não seja o melhor exemplo nessa área, pois não possuo conta em Facebook, nem Twitter ou Instagram”, declarou. “Se você não tem como bancar um agente literário, é preciso procurar sites/blogs que topem divulgar a sua obra e que trabalhem com o gênero da obra. É preciso dar uma lida nos textos desses blogs, ver a escrita dos autores/colaboradores. Vi casos de blogueiros que aceitaram resenhar determinado livro, eu mandei o livro e, na resenha, colocaram coisas tipo ‘eu não gosto desse tipo de história’. Atitude pouco profissional. Se você vai resenhar um livro, deve apontar as qualidades e defeitos do que leu, e não se limitar ao gosto/não gosto. Fora casos de blogueiros que se comprometem a fazer a resenha, mas desaparecem quando você manda o livro. Nem fazem a resenha nem respondem suas mensagens. Isso tudo faz parte. Além do investimento com Correios, que não é pouco, também imprimo releases dos meus livros pra distribuir em livrarias, faculdades, onde der. Não pode faltar disposição”.

E, além da falta de espaço na mídia, há também o problema com os custos, já que publicar um livro de maneira independente também requer muitos gastos de um autor.

“Publicar livros não é difícil”, concluiu. “Não faltam editoras online realizando esse trabalho gratuitamente. O problema é que essas editoras, em sua maioria, não investem no autor. Apenas publicam e botam em seus sites. Em alguns casos, anunciam em suas páginas nas redes sociais. Além disso, o sistema que elas adotam, de impressão por demanda, encarece o livro, às vezes duplicando o valor que você conseguiria bancando a publicação do próprio bolso. Eu já publiquei por editoras online, até tenho alguns livros em algumas, mas, hoje, prefiro bancar a publicação e anunciar no Portal dos Livreiros, que considero o local mais em conta para divulgar/vender livros na internet. Há um círculo vicioso na questão da venda: se você não é famoso, não vende; se não vende, não é famoso. O melhor caminho para a obra é conseguir ser divulgado em um grande veículo impresso e ter a mesma disponível nas livrarias físicas. Como fazer isso? Não sei. Mas também é possível, se você for desinibido e bom de papo, o que não é o meu caso, adotar a estratégia do independente/alternativo e sair vendendo o livro de mão em mão, nas ruas, em eventos. Escrever é algo que me dá prazer, é o que eu sei fazer de melhor, e que ocupa boa parte do meu tempo livre. Mas, por enquanto, está longe de me sustentar.

Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

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