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As Coisas Que Fazemos Por Amor, de Kristin Hannah | Resenha

As Coisas Que Fazemos Por Amor: um retrato emocionante sobre família

Família vai muito além dos laços sanguíneos. Alguns parentes a gente não escolhe. Mas aqueles que gostaríamos de ter para sempre ao nosso lado, sim. Pai e mãe são aqueles que cuidam, que amam. Em As Coisas Que Fazemos Por Amor, publicado pela editora Arqueiro, Kristin Hannah nos presenteia com uma história sensível, delicada e humanamente profunda sobre união, perdas, superação e, acima de tudo, amor. Muito amor.

Na história, Angela DeSaria é a caçula de três irmãs, a mais metódica e que planejou praticamente a vida inteira. Ela só não contava que seu maior sonho pudesse não se realizar: a maternidade. Após anos tentando engravidar, seu casamento não resiste ao estresse e ao sofrimento de anos de frustração. De volta à cidade natal e à carinhosa e barulhenta família italiana, Angie não poderia imaginar que lá encontraria uma jovem que iria mudar a sua vida. Lauren é uma adolescente esforçada e inteligente, que só queria uma chance na vida e, acima de tudo, o amor de sua mãe alcoólatra e negligente. A conexão entre Angie e Lauren é imediata e, juntas, ambas suprem a maior falta em suas vidas: de uma filha e de uma mãe. Até que o destino se encarrega de testá-las para que elas consigam encontrar o verdadeiro significado de família.

As Coisas Que Fazemos Por Amor é um livro que prende. E logo nas primeiras páginas. Sem perceber, fui arrebatada pela escrita doce, objetiva e envolvente de Kristin, que praticamente me incluiu naquele turbilhão de sentimentos e emoções da querida e carismática família DeSaria. É tudo muito real, palpável. Gostei tanto daquelas personagens que gostava de fingir que elas existiam.

Angie é uma das protagonistas mais bem retratadas e construídas que eu já vi. Ela é real e humana. Focada, esforçada e bem-sucedida, mas que vê a vida virar de cabeça para baixo após inúmeras tentativas de engravidar que não deram certo. Como este era o seu grande sonho, Angie acaba perdendo o controle de tudo, do seu casamento e até de si mesma. E quem pode culpá-la? É muito emocionante acompanhar a sua reestruturação e redescoberta. Voltar para a sua cidade e lidar com os julgamentos e intromissão de uma família extremamente participativa. Seu fortalecimento e amadurecimento são inspiradores, e é impossível não torcer pela sua felicidade.

Assim como por Lauren, uma jovem de apenas 17 que sonha em ter um futuro melhor do que o que a sua mãe lhe apresenta. Mesmo sendo muito jovem, ela precisou virar adulta precocemente e encarar uma vida muito difícil e cheia de obstáculos. Dói muito o coração testemunhar a luta de Lauren por uma chance na vida e principalmente para ser amada como todo mundo merece ser, principalmente por sua mãe. E dói mais ainda saber que a trama que Kristin nos mostra em As Coisas Que Fazemos Por Amor não difere muito do que vemos no dia-a-dia. Quantas Laurens ainda não estão por aí, encarando o mundo de frente sem qualquer apoio? Que precisam abdicar de seus sonhos, da sua juventude? A relação entre Lauren e Angie é das mais bonitas e profundas. Porque significa entrega, dedicação e amor incondicional. Um amor que sobrava em uma e faltava para a outra.

E o que falar das DeSarias? Ah, que família! Tudo bem que esse jeitão italiano para alguém que está passando pelo que Angie passou não deve ser fácil, uma vez que todas elas se sentem no direito de opinar e de se intrometer na vida de cada uma. Mas o carinho, a união e o amor que emana de Mama, Mira e, até mesmo, de Livvy é singelo e muito verdadeiro. Quem não gostaria de ser convidado(a) para provar um dos saborosos pratos italianos de Maria ou apenas de sentar para conversar com essas mulheres fortes e sábias? A dinâmica da família é leve, divertida e séria na medida certa, tudo com bastante equilíbrio. Porque, apesar da alegria contagiante e da efusão italiana, todos têm os seus próprios problemas e questões para enfrentar. Kristin, mais uma vez, consegue cativar os leitores e estimular uma identificação que só torna a leitura ainda mais prazerosa. Gostaria de falar um pouco sobre Conlan também, o ex-marido de Angie, mas qualquer outra coisa que eu dissesse poderia soar como um spoiler (tô tendo que usar todo o meu autocontrole!). Mas, olha, ele me emocionou – e muito.

As Coisas Que Fazemos Por Amor não é um livro que vai te fazer sorrir o tempo todo. Pelo contrário. Como a vida real, ele tem seus momentos bons e os momentos ruins. Ele faz a gente rir, mas também chorar e pensar, pensar, pensar. Refletir sobre tudo. Sobre a importância do amor e da família. Sobre oportunidades e privilégios. Luta e superação. Perdas e perdão. Sobre a vida.

Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

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