Resenhas

Duna, de Frank Herbert | Resenha

‘Duna’: um clássico, mas um pouco decepcionante

Já fazia um bom tempo que eu vinha querendo ler Duna, de Frank Herbert, recentemente reeditado pela editora Aleph. Eu já vi muitas críticas extremamente positivas sobre o livro e é uma ficção científica — eu adoro esse subgênero —, então estava bem animada.

Bom, as coisas não foram exatamente como eu queria.

Duna se passa em um futuro distante, em um universo intergaláctico, que ironicamente funciona segundo os preceitos feudais. Os planetas são comandados por Casas nobres, que devem obediência à Casa do Imperador. A trama começa com a mudança da família Atreides, uma família nobre, comandada pelo Duque Leto Atreides, de Caladan — um planeta agradável e belo, lar da família Atreides desde sempre — para Arrakis — um planeta hostil e muito, muito seco, também conhecido como Duna. Inicialmente, essa é o problema apresentado, mas além disso, há também os dramas da nobreza — porque, naturalmente, é um querendo matar e tomar o lugar do outro, como é ainda hoje, tudo cheio de sangue, morte e traição. Ou seja, é melhor o Duque Atreides tomar cuidado, porque a coisa está ficando feia para o lado dele.

O personagem principal é Paul Atreides, o único filho do Duque, cuja própria existência é cercada de mistérios e profecias. Com 15 anos no início da história, Paul se vê obrigado a mudar completamente a sua vida e concepção de lar, sem falar de toda a dificuldade que ele tem de entender a si mesmo e as suas próprias habilidades.

Esse foi um dos piores resumos que eu já fiz na minha vida, mas ironicamente foi o melhor que eu consegui sem falar demais.

Foi mal, gente.

Então… não sei nem por onde começar.

Como eu disse antes, já vi várias críticas superpositivas sobre esse livro, o que me deixou muito empolgada com a leitura — talvez esse tenha sido o meu erro.

A primeira vez que Duna foi publicado foi em 1965, ou seja, é o que se chama de clássico. Nesse caso, um clássico da ficção científica e é tido até hoje como um dos alicerces desse magnífico subgênero.

Até aí tudo bem, reconheço a genialidade da história e da imensa criatividade e visão do autor ao criar um universo tão rico, com temas tão atuais. Gostei das ideias e citações filosóficas, religiosas e psicológicas que o autor apresenta ao longo de toda a obra e que fazem muito sentido. E a notória riqueza do universo criado por Herbert, que montou todo um ecossistema para Duna e, consequentemente, um povo e uma religião para esse planeta.

Tenho que admitir que, quanto a isso, fiquei impressionada. Sem falar da riqueza dos diálogos — um ponto importantíssimo para qualquer obra que os possua.

Mas mesmo reconhecendo tudo isso, eu não posso dizer que gostei do livro. Foi bom ter lido, mas não foi uma leitura que eu curti.

A narrativa de Herbert se aproxima muito das narrativas dos livros atuais, o que também chama a atenção para a obra.

Sem falar que Herbert se atreveu a escrever sobre um futuro muito distante, algo também muito raro naquela época — apesar de, naquela época, já existir a série Fundação, de Isaac Asimov, e algumas obras de Philip K. Dick.

Uma das coisas que me incomodou em Duna foi a própria trajetória de crescimento do Paul, o que seria um ponto chave da trama. Mas eu achei esse crescimento inconstante. Em determinado momento, quando o Paul parece finalmente ter crescido e suas habilidades parecem ter evoluído a um ponto acima da média e o leitor começa a achar que finalmente o personagem vai começar a agir, ele decai de novo e volta a se comportar como um menino assustado e que não sabe o que fazer. Só bem no final da história que ele se comporta do jeito que o leitor vai esperando ao longo de mais da metade das 680 páginas do livro.

Outro ponto que não me agradou muito foi que quase em nenhum momento o autor deixa o leitor se surpreender com algum acontecimento inesperado. Sempre tem algum personagem que supõe que algo vá acontecer, ou alguém tem uma visão do futuro etc. Ou seja, o “o que” nunca é uma surpresa. O leitor só precisa se perguntar “quando” — às vezes, nem isso. E olha que eu gosto de spoilers, mas dessa vez a falta de mistério conseguiu me incomodar.

O que realmente me irritou — apesar dessa palavra soar um pouco pesada, eu estaria mentindo se dissesse outra coisa — foi a enrolação que eu vi na narrativa. Episódios que poderiam ocupar apenas cinco páginas, o autor conseguiu estender por quinze. E a todo o momento, ele diz o que o personagem está pensando e mancomunando e ele parece se preocupar demais em explicar esmiuçadamente o que tudo aquilo quer dizer. Eu também achei isso bem chato, porque ele conseguiu acabar com toda e qualquer chance de mistério e de fazer o próprio leitor raciocinar com o personagem e com a história, porque está tudo mastigado e explícito.

Enfim, achei chato. O autor aborda assuntos interessantíssimos, mas a meu ver não soube criar uma narrativa que transmitisse bem isso. O livro ficou maçante e sem graça. Se eu pego um livro, espero aprender alguma coisa com ele — e, de fato, aprendi muita coisa —, mas também espero me entreter. De que adianta ler algo rico em conteúdo, se não me deixa feliz? Acho que o autor poderia ter tirado muito mais da história. Pronto, falei.

Quanto ao trabalho da editora, está ótimo. Eu não tive a chance de ver a edição anterior, mas ouvi falar que o material em si tinha deixado muito a desejar. No entanto, essa nova edição está muito boa. Eu adorei a capa — parece que ela foi feita especialmente para o Duna, o que ganha muitos pontos —, e ainda é capa dura, o que dá um charme a mais. A diagramação está bem feita e a fonte está boa para leitura. A editora fez um bom trabalho.

Não vou mentir, Duna foi uma grande decepção para mim — talvez, movida pelas críticas extremamente positivas, eu tenha ido com sede demais à fonte. Justamente por ser um clássico, galgando um território da literatura, na época, pouco explorado, e por ter uma trama realmente muito boa, eu vou dar 4 estrelas. E pela apresentação da história — que foi o que me desagradou, embora tenha me desagradado muito mesmo —, eu vou me dar o direito de tirar uma estrela.

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