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Minha vida Fora dos Trilhos, de Clare Vanderpool | Resenha

‘Minha vida Fora dos Trilhos’: Uma viagem inesperada e surpreendentemente emocionante

Quem me conhece sabe que o meu gênero literário preferido é a Literatura Fantástica, então naturalmente até eu fiquei surpresa quando realmente me interessei em ler Minha vida fora dos trilhos, de Clare Vanderpool, publicado pela editora Darkside Books.

Clare Vanderpool é uma escritora de livros para crianças — essa foi novidade para mim, não que o Minha vida fora dos trilhos seja imprópria para crianças, mas confesso que isso nem passou pela minha cabeça —, americana e nativa do Kansas. É membro da Society of Children’s Book Writters and Illustrators — Sociedade dos Escritores e Ilustradores de Livros Infantis, tradução minha — e seu primeiro livro foi o Moon over Manifest, que é justamente o Minha vida fora dos trilhos — porque traduziram o título assim é algo que francamente foge ao meu conhecimento.

Minha vida fora dos trilhos é uma ficção histórica, sem nem um pinguinho de fantasia, sci-fi ou terror — pelo menos, eu não vi, se deixei passar, por favor, alguém me diga. E isso me intrigou muito pelo livro ter sido publicado pela editora Darkside Books, cuja proposta é publicar histórias que se encaixem na Literatura Fantástica — especificamente fantasia e terror. Então, eu realmente fiquei surpresa — talvez tenha algo a ver com a outra obra de Vanderpool, também publicada pela Darkside, Algum lugar nas estrelas.

Notem que eu disse surpresa e não decepcionada. Definitivamente, não fiquei decepcionada. Eu diria até que fiquei bem impressionada, porque eu realmente não curto ficções históricas propriamente ditas.

Mas dessa eu gostei. Principalmente, do final, que foi meticulosamente dosado com felicidade e tristeza — sim, eu chorei, como sempre, mas terminei sorrindo também.

Vai entender… Coisas de leitor.

Mas como posso falar do final da história se sequer falei dela ainda? Vamos a um rápido resumo, então.

A história possui dois focos históricos e narrativos. Um deles se passa em 1936 e é contado por Abilene Tucker, uma menina de 12 anos que, depois de viver com o pai, viajando de trem, no sul dos Estados Unidos, é mandada pelo pai para a pequena cidade de Manifest, no Kansas. E é em Manifest que Abilene vai mergulhar em na história dessa pequena cidade, na época da Primeira Guerra Mundial, entre os anos 1917 e 1918.

É aí que entra o segundo foco narrativo, do qual não pretendo falar muito para não estragar a surpresa. Mas acho que é seguro dizer que essa história que nossa querida Abilene vai escutar e nós vamos ler é contada de maneira bem misteriosa.

Apesar de não ter nenhum dos elementos fantásticos aos quais estou acostumada — e os quais eu amo de paixão —, gostei bastante da trama do livro e, principalmente, da forma como ela foi se desenrolando. Como eu já disse mais acima, adorei o final.

E, cá entre nós, um bom final faz toda a diferença.

Além de ser interessante pela forma como foi apresentada e pelo conteúdo em si, a história também nos mostra fatos que realmente aconteceram, como a desconfiança sobre os estrangeiros que iam para os Estados Unidos em busca de uma vida melhor, as grandes dificuldades pelas quais eles passavam, a importância de se ter uma origem e um nome de família naquela época — até hoje, ainda é um pouco assim — e, acima de tudo, o imenso drama que foi a Guerra na vida dessas pessoas.

Para quem ler esse livro, eu realmente sugiro que leia também a nota da autora, onde ela explica de onde tirou vários elementos e personagens. Eu li depois de ter terminado o livro — até mesmo porque a nota fica no final do livro —, mas acho que seria muito bom ler antes, talvez, porque já daria uma esclarecida em algumas coisas.

O que me incomodou um pouco foi a forma como foi feita a narrativa. Visto que parte da história é narrada por uma criança de 12 anos, acho que determinados trechos ficaram fora desse contexto etário da Abilene — a menina diz que não sabe o que significa “casa de vidência” e nem “antro de iniquidade”, mas sabe usar a palavra conglomerado de maneira irônica.

A despeito disso, a história é bem interessante. Mas se você pegar esse livro esperando ter alguma ação, esquece. Não é esse o objetivo.

Quanto ao trabalho da editora, está bom, principalmente no que se refere ao material visualmente falando — esse é um dos pontos fortes da Darkside, fazer livros bonitos. A capa, principalmente — mais de uma vez, fui surpreendida no ônibus, enquanto lia, por olhares curiosos de leitores fazendo contorcionismo na tentativa de ver a capa —, que foi muito elogiada. Não apenas a parte externa, mas a externa também está muito bem trabalhada. A única coisa que me incomodou foi a tradução do título — que, convenhamos, não tem nada a ver com título original, mas isso já ingressa em uma discussão muito complicada para ser debatida aqui —, mas eu não sei se isso foi de fato obra da editora.

Minha vida fora dos trilhos definitivamente fugiu da minha zona de conforto, mas eu não posso dizer que foi uma aventura ruim — eu até chorei, olha só. Certamente serviu para aumentar a minha simpatia com ficções históricas.

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