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Delícia, Delícia, de Donna Kauffman | Resenha

‘Delícia, Delícia’: um tanto açucarado, mas com pouca consistência

Mudar não é fácil. Muito menos fugir do próprio destino. Mas tentar é sempre uma boa opção, principalmente quando tudo é regado a muito doce, chocolate e cupcakes. Como assim? Só lendo Delícia, Delícia, de Donna Kauffman, publicado pela editora Valentina para saber… E se deliciar.

Me perdoem os trocadilhos gastronômicos que, por ventura, possam aparecer por aqui, mas é simplesmente inevitável. Isso porque a trama é sobre a renomada confeiteira Leilane Trusdale, que, contrariando todas as expectativas, decidiu largar a agitação de Nova York e um emprego dos sonhos e se mudar para a pacata e doce (opa, a culpa não é minha! Está na sinopse) ilha de Sugarberry. O problema é que ela não esperava que o seu passado fosse segui-la, mas foi exatamente isso o que aconteceu, na forma um tanto quanto deliciosa de seu antigo chefe Baxter Dunne, também conhecido como Chef Hot Cakes, que resolveu gravar a nova temporada do seu programa justamente na ilhazinha de Leilane.

Foto: Vai Lendo

Delícia, Delícia é, como vocês podem imaginar, um livro açucarado. Um pouco demais, eu diria, e olha que eu sou completamente viciada em doce. A trama não foge daquele esquema de comédia romântica que a gente – eu, pelo menos – adora. E acrescente a isso muitas receitas e descrições de dar água na boca, além de algumas cenas um tanto quanto apimentadas. O problema é que, mesmo com toda essa mistura que tinha tudo para ser gostosa, a história pecou pela superficialidade, tanto da narrativa quanto na construção dos personagens. E isso prejudicou – e muito – o ritmo da leitura, que foi um tanto quanto arrastado (só melhorou mais da metade para o final).

Não que a gente não consiga simpatizar por Leilane. Pelo contrário. Eu entendi perfeitamente a sua necessidade de mudança e dou a maior força (quem sou eu, né?). Inclusive, nesse quesito, a autora até soube explorar bem essa guinada e me envolveu naquela áurea gostosa de cidade pequena. Que vontade de conhecer Sugarberry e todos os seus moradores! Voltando à protagonista, acho perfeitamente normal as suas dúvidas e inseguranças, especialmente quando ela precisa lidar com tudo aquilo que queria deixar para  trás. Mas me incomodou ela se sentir obrigada a repensar a sua vida, as suas vontades por causa de outra pessoa.

Foto: editora Valentina

E é aí que entra Baxter Dunne. Ou Chef Hot Cakes. Veja bem, Baxter tinha tudo para ser aquele personagem de virar a cabeça e fazer a gente trocar até mesmo chocolate por ele. O problema é que ele me pareceu um tanto quanto arrogante, prepotente e egoísta ao não entender e principalmente respeitar o sentimento de Leilane. E mais: chegar a achar que ela estava desperdiçando o talento dela fazendo cupcakes! Oi? A vida é dela. O talento é dela e ela sabe como usá-lo e, até mesmo, se deseja ou não desperdiçá-lo (aliás, não vejo nenhum desperdício; se teve uma coisa que eu senti durante a leitura, foi vontade de comer cupcakes). Ainda que ele corra atrás do prejuízo, fiquei com a impressão de que ele, de fato, não se conscientizou totalmente de tudo. Por isso mesmo, foi um pouco difícil acreditar e aceitar o casal, mesmo com a química. Desculpem, mas comprei as dores da Leilani.

Pelo menos, temos Alva e Charlotte. Que personagens cativantes e divertidas! Consegui imaginar totalmente essa senhorinha irreverente e desinibida. E ainda bem que Leilani tem Charlotte na sua vida para lhe dar um pouco de bom senso ou simplesmente fazer uma boloterapia. Confesso que até eu, que sou péssima na cozinha, fiquei com vontade de entrar para o Club de Cupcakes.

Delícia, Delícia tinha todos os ingredientes para nos apresentar a mais suculenta e gostosa das leituras, mas pecou pela falta de tempero e consistência (e, gente, alguém me segura nessas referências! Não consigo evitar!). Resumindo, foi uma experiência meio agridoce.

Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

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