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Sociedade J.M. Barrie – A Vida Secreta das Senhoras da Terra do Nunca, de Barbara J. Zitwer | Resenha

Sociedade J.M. Barrie: Barbara J. Zitwer cria a sua própria Terra do Nunca num livro simplesmente apaixonante, do qual não queremos “sair”

A experiência que traz sabedoria. E a juventude que representa a liberdade. Mas sempre desejando manter a inocência, a pureza e a magia da infância. Amor, família, amizade, superação. Temos tudo isso e somos completamente arrebatados em Sociedade J.M. Barrie – A Vida Secreta das Senhoras da Terra do Nunca, o lindo livro de Barbara J. Zitwer, publicado pela editora Novo Conceito. Só de começar a falar sobre ele, meus olhos enchem d’água e o coração fica aquecido. Esse foi um dos efeitos que essa obra me causou.

Na trama, acompanhamos Joey, uma arquiteta bem-sucedida, de Nova York, que já teve altos e baixos na vida e finalmente comemora a oportunidade de supervisionar a restauração da Stanway House, o lugar onde J. M. Barrie teria escrito Peter Pan, nada menos do que o seu livro favorito. Chegando lá, porém, Joey percebe que a tarefa não será das mais fáceis, em todos os sentidos, incluindo o pessoal. Mas é aí que entram as simpáticas octagenárias da Sociedade de Natação de Senhoras J.M. Barrie, um grupo de senhoras que enfrenta o desafio de nadar nas águas geladas do lago. Surpreendentemente, ou não, são elas que mudam a vida de Joey e mostram a ela que nunca é tarde para mudar e principalmente para ser feliz.

Desde que eu li a sinopse desse livro, sabia que precisava lê-lo. E, assim que li a primeira página e me deparei com o Manifesto da Sociedade de Natação de Senhoras “J.M. Barrie”, tinha certeza de iria adorá-lo. E minha intuição de leitora não falha. Só não esperava que esse livro pudesse, de fato, mexer tanto comigo, a ponto de estar com um sorriso no rosto e olhos marejados ao escrever essa resenha (é sério, gente, tô quase tirando uma foto para comprovar). Barbara nos presenteou com uma história que vai além dos romances e de uma homenagem às nossas histórias de infância favoritas. É um livro tão delicado e tão sensível, tão cheio de amor, que você sente que vai se lembrar de Joey e suas experientes amigas para o resto da vida. Que narrativa gostosa e leve! Daquelas que a leitura flui e a gente nem sente. E tudo tão bem construído e desenvolvido que me peguei criando um filme na minha cabeça, ao longo da leitura. Um “filme”/livro que eu não queria que acabasse nunca.

Manifesto da Sociedade de Natação de Senhoras “J.M. Barrie” / Reprodução

Um dos aspectos mais interessantes da obra, em minha humilde opinião, foi a capacidade da autora de nos apresentar personagens tão verdadeiros e desenvolvê-los de uma maneira extremamente natural. Joey, aos 37 anos, é uma mulher completamente apaixonada pelo trabalho que compensa a frustração de uma vida pessoal um tanto quanto solitária na carreira. Batalhadora, lutou para chegar onde quis, mas não consegue se sentir plenamente realizada, pois ainda falta algo em sua vida. Quem nunca? Mas é nessa viagem a Londres que a protagonista tem a chance de se redescobrir e, quem sabe, viver a vida que desejava e nem sabia. E, para começar, nada melhor do que retomar o contato com Sarah, sua melhor amiga com quem não fala há mais de 10 anos, desde que esta se casou e foi morar na terra da Rainha, e as coisas entre as duas simplesmente ficaram mal resolvidas. É a partir dessa relação que Joey é obrigada a rever uma série de decisões e atitudes, assim como a Sarah, e a avaliar as suas prioridades. E sabe o que é melhor? Você realmente torce para que tudo dê certo, para que as duas consigam se acertar. Barbara é tão precisa e objetiva ao expor as complexidades de uma amizade de tantos anos estremecida, que é impossível não nos relacionarmos. Tanto Joey quanto Sarah têm seus defeitos e qualidades, como qualquer ser humano. Ambas estão magoadas e ressentidas, e foi muito bacana ter aquela sensação de realmente testemunhar uma relação verdadeira entre duas mulheres adultas, com vidas agora totalmente diferentes, mas que entendem e têm consciência da importância de uma na vida da outra e lutam por essa amizade.

É claro que também não poderia faltar o amor, afinal, Joey nunca deu muito espaço para esse aspecto em sua vida e, após uma desilusão, resolveu se fechar ainda mais. Mas, felizmente para Joey, o coração não escolhe, não segue – em boa parte das vezes – a razão. E essa “descoberta” do amor para Joey também representou uma mudança significativa para uma mulher bastante cética e, até mesmo, cínica no que diz respeito a esses assuntos. Joey não apenas descobriu o amor. Ela descobriu a confiança, a força para lutar por aquilo que quer, e uma nova família. Adoraria me alongar também nessa parte, mas tenho medo de estragar o momento para os que ainda não leram o livro (por favor, façam isso agora mesmo! Podem até interromper a leitura da resenha aqui e voltar depois, que eu prometo que não vou ficar chateada, mas leiam esse livro). Joey é daquelas protagonistas com as quais você se identifica e pelas quais você, de fato, torce. Ela reconhece, ainda que contra a vontade, as suas próprias dificuldades, mas acaba criando coragem para enfrentá-las e superá-las.

Deixei para o final a minha parte favorita da história, porque sinto que, mesmo se eu dedicasse um texto inteiro sobre elas, ainda assim não seria o suficiente. Mas tentarei passar para vocês o que elas me passaram. As senhoras da Sociedade de Natação. Aggie, Viv, Gala, Meg e Lilia. Minha nossa, como eu queria pular para dentro do livro e abraçar uma por uma e sentar e ouvir as suas histórias e, até mesmo, me arriscar a nadar naquele lago gelado com elas. Que presente maravilhoso Barbara nos deu ao criar essas personagens tão fortes, tão carismáticas e marcantes. Amo cada uma delas e suas personalidades distintas e cativantes. Cada uma com sua trajetória, seu passado, suas tristezas e, ao mesmo tempo, com tanta sabedoria, superação e conselhos que certamente não ajudaram apenas a Joey. Eu sinto que essas senhoras também falam diretamente com os leitores. Foi tão lindo “conhecê-las” e a sua amizade de mais de 50 anos. Ver como elas entendem as peculiaridades e principalmente respeitam o momento e o espaço uma da outra. As cinco se completam e completam Joey. A interação entre o grupo e a protagonista é singela e, ao mesmo tempo, bastante intensa com trocas de experiências, relatos, sorrisos e lágrimas. Aliás, gargalhadas e MUITAS lágrimas. Eu tive um acesso de riso com o primeiro encontro de Aggie e Joey e também me debulhei ao longo da construção dessa amizade entre as seis. Sério, gente, vocês tinham que ver a cara do meu marido quando ele percebeu que eu estava desidratando por causa do livro. Mas foram lágrimas de pura emoção e alegria por acompanhar uma história que realmente aqueceu o meu coração. Sou dessas.

Sociedade J.M. Barrie me fez literalmente abraçar o livro quando concluí a leitura. Abracei porque senti que estava abraçando todos aqueles personagens que tanto me emocionaram, me divertiram e me fizeram sonhar acordada (né, Ian?). Abracei porque foi uma leitura leve e tocante. Abracei porque não queria que a história acabasse. Abracei porque me senti, de certa forma, transportada para Londres junto com Joey, desbravando a Stanway House e partindo, com todos eles, para a Terra do Nunca criada por Barbara J. Zitwer. Abracei porque eu também quero fazer parte da Sociedade de Natação de Senhoras J.M. Barrie!

Amazon Livraria Cultura  – Saraiva 

 

 

 

 

 

 

Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

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