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A Menina Que Não Acredita em Milagres, de Wendy Wunder | Resenha

‘A Menina Que Não Acredita em Milagres’: uma história para você rir, chorar e celebrar a vida

Você acredita em milagres? O que, para você, é um milagre? Apenas algo que seria considerado impossível ou improvável acontecer? Ou, quem sabe, o milagre não seria nós mesmos, a nossa vida? Às vezes, quando perdemos o controle das coisas ou nos deparamos com uma situação irreversível, ansiamos por um milagre. Por alguma coisa que nos dê o mínimo de esperança e força frente ao inevitável, no caso, a morte. Estar ciente do próprio fim é perturbador, e geralmente somos obrigados a nos resignar. Por que desistir totalmente? Se ainda há um sopro de vida, é a ele que nos agarramos, em busca do nosso próprio milagre. E é isso o que Wendy Wunder nos mostra em A Menina Que Não Acredita em Milagres, lançamento da editora Novo Conceito.

A Menina Que Não Acredita em Milagres

Na trama, Campbell é uma jovem de 17 anos, totalmente descrente. Ela não acredita em Deus, muito menos em milagres. Isso porque ela sabe que tem pouco de vida, não deve nem chegar aos 18 anos, e resolve que quer fazer tudo o que ainda não fez, no tempo que lhe resta. Até que sua incansável mãe a convence a fazer uma viagem para Promise, um lugar conhecido por seus acontecimentos milagrosos. Mesmo cética, Cam precisa lidar com fatos inexplicáveis e também com a descoberta do primeiro amor. Agora, ela começa a repensar em tudo o que acreditava, ou não acreditava, e a encarar o fato de que, talvez, ela realmente esteja testemunhando um milagre.

A Menina Que Não Acredita em Milagres faz rir, chorar (inclusive, aconselho a não ler em público, principalmente em transportes, a não ser que você não se importe de chorar copiosamente no ônibus e fingir que está apenas assoando o nariz, e não desidratando) e, mais importante, faz a gente refletir, repensar a nossa própria vida e o que realmente nos importa. Ainda que trate sobre um tema delicado e bastante melancólico, o livro não pesa no drama, muito menos, apresenta a situação de maneira forçada. Pelo contrário, Wunder nos emociona com toda a sua delicadeza e leveza e, por vezes, bom humor. A narrativa é de uma sensibilidade emocionante, que chega a aquecer e a acalentar os nossos corações, mesmo nos momentos mais tristes.

Muito disso também se deve às personagens da história. Cam, a protagonista, por exemplo, poderia ser uma adolescente como outra qualquer, não fosse o caso de estar doente e ter pouco tempo de vida. Essa consciência a torna fechada, um pouco amargurada e bastante cética. No entanto, Cam também é extremamente sensível e, até mesmo, engraçada. Sua capacidade de tirar sarro da própria condição e não levar tudo tão a sério é admirável, embora, em alguns momentos, eu tenha ficado um pouco incomodada com suas atitudes e reações. Principalmente por causa de sua família. Contudo, essa personalidade precocemente mais madura de Cam é um contraponto à ingenuidade de sua irmã caçula, Perry, que acredita piamente em unicórnios, e à ansiedade e impulsividade de sua mãe, Alicia. Aliás, Alicia é uma personagem muito, muito querida. Como toda mãe, ela é capaz de qualquer coisa para salvar a vida de Cam, inclusive, abrir mão de seus próprios sonhos. E Perry, por sua vez, está na fase de pré-adolescente e, como tal, tem lá seus momentos nem tão agradáveis, mas, no fundo, ela quer apenas fugir de uma realidade na qual não terá mais a irmã mais velha para guiá-la, e com a qual não sabe – e nem quer – lidar. A interação entre as três é divertida e muito bonita.

A Menina Que Não Acredita em Milagres

Ainda falando sobre os personagens, impossível não citar aqueles chamados de “secundários”, mas que em A Menina Que Não Acredita em Milagres têm tanta importância quanto as protagonistas. Nana, a avó de Cam, é um bálsamo de cumplicidade e de leveza em meio a um turbilhão de emoções. E também de risadas. Foram as tiradas dela que me arrancaram gargalhadas, por incrível que pareça. Também não tem como ter empatia pelo fiel e esforçado Izanagi. Lily, a melhor amiga de Cam e que também tem câncer, traz algumas  lições valiosas à personagem – e a nós mesmos. E o que dizer dos moradores de Promise? Todos, sem exceção, ganharam um lugar muito especial no meu coração por toda a amizade e lealdade. E, por último, mas não menos importante, Asher. Asher, o salvador, aquele que está sempre pronto para ajudar os outros, mas não se permite ser ajudado. Aquele que se vê obrigado a ter uma vida que, talvez, não seja a que ele queira, mas que tem medo de mudar, por acreditar que está eternamente ligado ao lugar do qual seus pais saíram e nunca mais voltaram. Asher, que fez Cam se redescobrir e acreditar novamente nas pessoas e principalmente no amor. Asher, que deu a Cam o sopro de vida que ela tanto ansiava e não se permitia buscar. Asher, que ajudou Cam a abrir a mente e acreditar que milagres podem, sim, acontecer e que não necessariamente eles são da maneira que esperamos.

A Menina Que Não Acredita em Milagres

A Menina Que Não Acredita em Milagres é uma leitura que flui, detalhista e quase lúdica, com um narrador em terceira pessoa que nos emociona com sua descrição um tanto poética, não apenas dos acontecimentos, mas também das emoções das personagens. É um livro que nos mostra que devemos aproveitar o presente, sem nos prender ao passado e não nos ater apenas ao futuro. É o hoje que importa. São os momentos que vivemos agora que nos transformarão e nos darão as lembranças inesquecíveis e o aprendizado para o resto das nossas vidas. É um livro que fala sobre perdão e redenção. Sobre perdas, luto e esperança. Um livro que nos ensina a nunca esconder os nossos sentimentos, mas demonstrá-los. Principalmente para as pessoas que amamos. A reconhecer aquilo que nos é mais caro e não nos preocuparmos com pormenores. É um livro que nos ensina que a vida é, sim, dura, mas que todos temos forças para encarar os desafios e superar os obstáculos e, mesmo que, às vezes, isso não seja possível, pelo menos, podemos tentar. E é assim que nascem os nossos próprios milagres.

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Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

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