Resenhas

A Santa Aliança, de A. J. Kazinski | Resenha

‘A Santa Aliança’: uma ficção surpreendente e não muito distante da realidade

Os fins realmente justificam os meios? O que define a nobreza de uma pessoa? O poder corrompe, cega e desvirtua. Intrigas, corrupção, reviravoltas. A. J. Kazinski – pseudônimo da dupla dinamarquesa Anders Rønnow Klarlund e Jacob Weinreich -nos entrega um prato cheio para devorarmos avidamente em A Santa Aliança, publicado pela editora Tordesilhas.

Na trama, acompanhamos a jornada de Eva, uma jornalista em declínio que praticamente chega ao fundo do poço após a morte do namorado, morto no Afeganistão, e perder o emprego. Tentando recuperar a vida, ela começa a trabalhar numa creche em Copenhage, e é aí que ela vê tudo mudar radicalmente. Sem conseguir resistir à tentação de investigar a verdade sobre um crime relatado em um desenho infantil, Eva mal poderia imaginar que iria mexer em instâncias extremamente poderosas da sociedade dinamarquesa, que dirá a própria família real. Em sua busca, ela se vê envolvida em uma rede de segredos que envolvem, inclusive, a formação da Santa Aliança, uma coligação monárquica criada no século XIX.

Desde que li a sinopse desse livro, me interessei. Sou jornalista e apaixonada por histórias e tramas conspiratórias. E que felicidade a minha ao ter as minhas expectativas superadas! Nunca havia lido nada de Kazinski (agora, porém, os outros dois livros estão obviamente na minha lista) e fiquei completamente hipnotizada por sua escrita. Que narrativa brilhante e surpreendente! Desde o primeiro momento, somos fisgados por toda a situação e ficamos completamente obcecados pela investigação de Eva (eu fiquei, pelo menos). Inclusive, um dos destaques da obra, em minha humilde opinião, é justamente o fato de termos dois pontos de vista totalmente antagônicos, ao longo da história: de Eva e de Marcus. Essa dualidade tanto de texto quanto na essência dos personagens (a “mocinha” e um dos “vilões” da história) imprime um ritmo alucinante à história e instiga a querer sempre mais, para saber até onde tudo aquilo vai dar.

Se, por um lado, me senti completamente sufocada, angustiada e excitada para descobrir toda a trama pelo lado de Eva – além de “viver” a caçada junto com a protagonista -, por outro, fiquei totalmente hipnotizada, desconcertada e indignada tamanha frieza, manipulação e inteligência da parte de Marcus e seus companheiros. Tudo isso graças à riqueza de detalhes e da belíssima construção da trama, que nos faz absorver e principalmente questionar todo o conteúdo e todas as informações contidas nas páginas. Admiro muito a coragem dos autores de expor – ainda que de maneira “ficcional” – as questões polêmicas e o lado sombrio e, até mesmo, perturbador da monarquia. Confesso que fiquei curiosa para saber como esse livro foi recebido na Dinamarca. Por vezes, eu me peguei literalmente de boca aberta durante a leitura, em completo estado de choque com as coisas que lia. Porque, para mim, tudo fez bastante sentido. De verdade. Aliás, precisei me segurar muito para não seguir os passos de Eva e começar a procurar por informações das famílias reais e a formação da Santa Aliança. Mas achei melhor ser mais prudente do que ela, claro, e me contentar com a ficção mesmo.

Ainda que, em alguns momentos, eu tenha ficado com aquela sensação de que as coisas estão acontecendo muito rápido e de que, mesmo com o talento, Eva contou com um bocado de “sorte”, mais até do que poderia ser considerado normal e aceitável, preciso destacar que o desenrolar da trama e principalmente a construção dos personagens foram praticamente perfeitos. Não apenas Eva e Marcus, mas também os secundários que tanto agregaram à história.Com eles, Eva foi amadurecendo e se fortalecendo ao longo do livro, recuperando a determinação e a vontade de viver. Os diálogos entre ela e seu professor e, depois, na Itália, foram sensacionais. Através deles, eu senti que os autores quiseram mandar um recado. E, para mim, conseguiram. Uma verdadeira aula de história. Marcus, por sua vez, confia tão cegamente em sua causa que se fechou para o resto do mundo… Ou não. Seu dilema chega a ser incômodo e arrebatador. Porque isso é real. E nós temos exemplos perturbadores de causas que levam pessoas ao extremo.

E, por falar em história, gostaria de fazer uma menção mais do que honrosa ao tradutor da obra, Mário Vilela. Se o livro em si já foi brilhantemente escrito, a tradução não ficou atrás, principalmente com o cuidado que Mário notoriamente teve com o trabalho e também com os leitores. Suas notas com informações precisas e muito bem explicadas enriqueceram ainda mais a leitura, e eu gostaria de agradecê-lo por isso!

Para quem gosta de um bom romance policial, de jornalismo investigativo e história, A Santa Aliança é uma excelente opção! É cativante, envolvente e de tirar o fôlego! E faz a gente pensar e refletir sobre os rumos que o mundo está tomando (ou melhor, que o mundo sempre deu, mas não conseguimos ou não queríamos enxergar) a importância da informação. É um livro sobre superação, força, corrupção, poder, verdade. É um livro duro, revelador e inteligente.

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Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

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