Entrevistas,  Especiais

Clubes de assinatura de livros: uma experiência além das páginas

O Vai Lendo conversou com a TAG Experiências Literárias, Turista Literário e Pacotão Literário sobre a tendência que está mudando a nossa forma de ler e de promover o hábito da leitura

Uma experiência literária que vai além das páginas. Além da leitura e do prazer que ela nos proporciona. A oportunidade de ser surpreendido(a) e de conhecer obras que, até então, poderiam passar despercebidas, ou não seriam a sua primeira opção de escolha, e novos autores (ou também aqueles dos quais você sempre ouviu falar, mas nunca tinha lido). A alegria de receber algo novo, de ser presenteado com aquilo que, nós leitores, mais gostamos de receber: livros. Tudo isso, todas as essas emoções estão cada vez mais acessíveis graças a uma iniciativa que vem ganhando cada vez mais adeptos, ou melhor, assinantes: os clubes de assinaturas de livros.

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Tem para todas as idades, para todos os gostos e de todos os gêneros. Os clubes de assinatura de livros ganham cada vez mais espaço no universo literário, transcendendo a experiência da leitura e ajudando, inclusive, na formação de novos leitores. Geralmente, funciona da seguinte forma: o leitor paga um determinado valor por mês e, dentro dessa assinatura, ele recebe mensalmente um kit que contém não apenas um livro, mas também brindes relacionados à obra e/ou ao autor, que ajudam o leitor a conhecer ainda mais o título e o próprio escritor. A TAG Experiências Literárias, por exemplo, mescla livros clássicos não tão conhecidos, com leituras mais densas até os mais leves e contemporâneos, com o diferencial de contar com um renomado time de curadores para escolher a obra a ser enviada para os assinantes, com nomes como John Gray (escritor e filósofo britânico), Patch Adams (sim, aquele médico famoso que inspirou o filme homônimo com Robin Williams), Martha Medeiros, Javier Naranjo, Luis Fernando Verissimo, Luiz Ruffato, entre outros. Os criadores da TAG, inclusive, afirmam que buscam intervir o mínimo possível nas escolhas das obras.

“O principal feito da TAG é entregar uma experiência bem diferente de leitura para os associados”, explicou Tomás Susin, da TAG, ao Vai Lendo. “Livros que ele não descobriria se não fosse pela TAG, novos estilos de leitura, novos autores. A certeza de receber em casa todos os meses um livro de qualidade, recomendado por quem entende do assunto (nossos curadores, normalmente escritores reconhecidos nacionalmente). Além do livro, um material para complementar a leitura, com informações valiosas sobre a obra, sobre quem indicou e sobre quem escreveu. Para completar, um ‘mimo’ relacionado à obra ou à literatura, em geral. A mensalidade é R$ 69,90, com o frete já incluso para todo o país. Além do kit, temos um clube muito forte, com associados interagindo sobre as leituras (lançaremos um app em breve para melhorar ainda mais essa interação), canal no Youtube com vídeos relacionados aos livros enviados… Lançamos recentemente o TAG Et cetera – com colunistas renomados falando sobre as obras do clube e, em breve, lançaremos nossa loja virtual para venda de produtos literários. Este ano, enviamos nossa primeira edição exclusiva para associados do clube, e muitos outros projetos sensacionais estão por vir!”.

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Criado em 2015, pelas irmãs Priscilla e Mayra Sigwalt, outro clube de assinatura de livros também está atraindo muitos assinantes, ou melhor, turistas. O Turista Literário, voltado para o gênero Young Adult, nasceu de uma experiência pessoal com um objetivo muito criativo e diferente para transformar a leitura: promover uma experiência sensorial para que o leitor possa imergir no universo do livro recebido. Nesse clube, o leitor tem a opção da assinatura mensal ou avulsa, nos valores de R$ 69,90 (mais o frete) e R$ 74,90 (mais o frete), respectivamente. A ideia da viagem literária é tão marcante que, entre os variados itens da mala, há também um selo sobre o destino visitado no mês, que o assinante pode colecionar no passaporte de viagens (adquirido na primeira mala recebida).

“O diferencial do Turista Literário é ser o único clube de assinatura de livros YA lançamento no Brasil, mas o que faz este projeto especial e inovador é seu conceito único no âmbito mundial”, afirmou Priscilla. “Existem algumas caixas literárias temáticas no exterior, mas nenhuma com essa proposta de imersão sensorial na história do livro. O feedback dos leitores comprova que o Turista está proporcionando uma nova forma de experimentar a leitura, pois os elementos sensoriais, de fato, cumprem o papel de imersão nunca antes vivido. Nós percebemos essa necessidade quando a Mayra contou para seus seguidores (em seu canal) como sua irmã mais velha criava um ambiente especial para a hora da leitura, que incluía trilha sonora, iluminação diferenciada e até velas aromáticas ou incensos, tudo para entrar no clima e fazer uma verdadeira viagem ao universo da leitura. As pessoas reagiram dizendo que amariam poder experimentar algo parecido. Foi quando pensei: e se a gente pudesse ampliar a relação das pessoas com a leitura oferecendo isso? Assim nasceu o Turista Literário”.

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Mas não é só de literatura estrangeira que vivem os clubes de assinatura. Num momento em que a literatura nacional está finalmente conquistando um espaço maior nas editoras e nas estantes dos leitores, o Pacotão Literário surge como uma iniciativa bastante significativa, ajudando a promover escritores nacionais independentes. Criado pelo trio de escritores independentes formado por Jana P. Bianchi, Thiago Lee e Rodrigo Assis Mesquita, o Pacotão se difere dos demais tanto no formato dos livros oferecidos – digital – quanto na forma da assinatura. As obras selecionadas pelos curadores ficam disponíveis por um tempo determinado no site, de acordo com o tema da vez, o leitor visualiza os livros e escolhe quanto quer pagar. Exatamente isso. Aliás, você pode receber o seu Pacotão a partir de R$ 1. Quanto maior o valor pago, mais recompensas o assinante recebe.

“Aos nossos olhos, o Pacotão vem para contribuir com os dois lados do mercado independente: o do autor e o do leitor”, declarou Jana. “Do lado do autor, entrar no Pacotão é um reconhecimento de um bom trabalho, uma maneira de divulgar as obras dentro de um novo público e também uma maneira de ser remunerado pela escrita — ninguém paga nada para participar e 75% do valor das vendas é dividido entre os autores, de maneira proporcional à extensão das obras (que são classificadas em conto, noveleta, novela ou romance). Do lado do leitor, o Pacotão faz uma seleção de obras legais dentre o oceano de material que, felizmente, surge no mercado independente a cada instante. Para nós, o maior sinal de que esse é um projeto legal é a aprovação que estamos tendo por parte de autores já consagrados, editores e outros profissionais do mercado editorial, que estão nos procurando para ajudar a divulgar e dizer que a iniciativa é muito válida (alguns, inclusive, já estão mandando material para nós). O desafio é justamente aquele inerente à carreira independente em geral: temos que brigar pela atenção dos leitores com grandes autores, obras, editoras e outros clubes de assinatura. A maneira que encontramos para tentarmos nos destacar foi usar o formato do humble bundle, que é esse em que bastante conteúdo legal é oferecido a preços baixos — valores que o próprio leitor escolhe, inclusive. Gostamos de divulgar o projeto reforçando bastante duas características principais do Pacotão: beneficiamos tanto os autores como os leitores e oferecemos uma curadoria de obras independentes que, até onde sabemos, é pioneira”.

Tem para crianças também: conheça o ‘Leiturinha’

Desenvolvido por membros do Clube de Autores de Fantasia, o Pacotão Literário traz naturalmente boa parte das obras desse gênero, porém, está aberto a outros estilos, inclusive, livros infantis. Jana explicou ainda que a participação dos próprios autores influencia nas obras a serem oferecidas, que ajudam a construir a base de dados do projeto. A curadoria, por sua vez, é feita por um time de autores publicados que seguem um tema e/ou uma lógica para formar cada pacote. Lutando contra o preconceito em relação à qualidade das obras nacionais independentes, Jana ressaltou que “todas as obras submetidas passam por um questionário para que seja possível entender qual é o nível de ‘acabamento’ do texto”.

“Uma das reclamações mais frequentes e mais pertinentes sobre o mercado independente é justamente a publicação de obras imaturas, em vários sentidos”, indicou Jana. “Então, damos muita preferência a obras bem revisadas. Obras que passaram por serviços de leitura crítica também ganham muitos pontos. E, sim, qualquer autor pode fazer parte do Pacotão, com qualquer obra! Para começar, o texto não precisa sequer estar publicado — na edição #3, inclusive, vamos ter obras exclusivas, que serão lançadas no Pacotão antes de sair em qualquer outro lugar. As únicas exigências que temos são: a obra precisa estar escrita em português; o autor que realizar a submissão precisa ser o detentor dos direitos de publicação da obra ou precisa ter autorização deste para submetê-la (ou dos demais autores, caso a obra seja uma coletânea); a obra precisa ter uma capa e esta capa não pode ferir os direitos autorais de ninguém (não é obrigatório que a capa seja feita por um profissional, mas é bastante recomendado). Vale dizer também que nossa submissão está continuamente aberta e não é específica por Pacotão. Ou seja, o autor não submete uma obra apenas para participação na edição subsequente. Mesmo que não entre imediatamente em um pacote, pode ser convocado para outro com base no tema ou disponibilidade. Lembrando que, do lado do Pacotão, não tem nenhum problema sua obra estar publicada ou disponível em outra plataforma. Só é necessário garantir que a disponibilidade dela no Pacotão não fira os contratos com outras plataformas que exigem essa exclusividade”.

Mesmo com todo o cuidado na curadoria, há sempre a possibilidade de o livro enviado no mês não ser do gosto pessoal do leitor ou, até mesmo, de o usuário já possuir um exemplar. Esses, inclusive, são alguns dos principais receios dos que pensam em virar assinantes. No entanto, os próprios clubes oferecem dicas e possibilidades de troca, nesses casos específicos. Tudo para que a experiência literária possa fluir da melhor maneira possível e principalmente ajudar a promover o hábito da leitura, sendo uma nova forma de contribuição ao mercado editorial.

“A divulgação do teaser do livro que será enviado, no site ou na revista do mês precedente, é feita de modo sutil, para que a identificação somente seja possível àqueles que já o leram”, explicou Tomás. “Quem julgar tê-lo identificado e não quiser recebê-lo, basta enviar-nos um e-mail até o dia 24 de cada mês contendo o nome do livro para que ofereçamos outras opções do nosso acervo. Não satisfeito com as opções, há ainda a possibilidade de suspensão daquele mês. Aqueles que não identificarem de qual obra se trata, mas que no seu recebimento descobrirem que já a possuem e desejarem a troca, podem enviar-nos um e-mail até sete dias depois do recebimento que as mesmas opções de troca serão oferecidas. Temos alguns associados que não gostam tanto da leitura de algum mês, mas, como estão dispostos a conhecer novos estilos literários, não costumam ficar chateados por isso. Alguns até nos agradecem por termos apresentado algum livro que eles jamais teriam lido. É por isso também que a TAG entrega uma nova forma de consumir literatura, e isso é positivo para o mercado editorial. Não somos, por exemplo, concorrentes das livrarias, visto que, em geral, nosso público não deixa de comprar os livros que costumava comprar por ter assinado a TAG. Pelo contrário, as leituras e indicações da TAG abrem portas para eles adquirirem outras obras”.

A possibilidade de atrair cada vez mais leitores e de mostrar também que a leitura não precisa ser uma atividade solitária é exaltada por Mayra Sigwalt. Parceiro de algumas das principais editoras nacionais, como Companhia das Letras, Intrínseca, Arqueiro, DarkSide, Rocco, Galera Record, Sextante, Verus Editora, Aleph e Plataforma 21 (o selo jovem da V&R Editoras), o Turista Literário busca histórias que possam “render boas viagens”, como Mayra concluiu, retiradas dos catálogos de lançamentos. Focada nos jovens, a iniciativa ainda se utiliza das redes sociais para ampliar o contato com os assinantes e criar uma comunidade para que eles possam dividir as suas experiências.

“O Turista veio mostrar que a experiência de leitura pode ser tão divertida e compartilhada como outras atividades e redes sociais”, indicou Mayra. “Por mais que o hábito de ler seja algo individual, a oportunidade de dividir com as pessoas a sua experiência em uma comunidade é algo muito bacana! Nós fazemos o uso dessas tecnologias, como Spotify ou redes sociais, para enriquecer a viagem que queremos proporcionar. Esperamos ter um impacto positivo no mercado editorial como um incentivador para formação de novos leitores  e também, através da curadoria, trazer novos títulos que, muitas vezes, leitores assíduos não leriam. O Turista, inclusive, é um forte parceiro de selos novos que estão se estabelecendo no mercado. Um ótimo exemplo é a parceria com a Plataforma 21, selo da V&R, que estreou no mercado junto com a primeira mala do Turista. A primeira tiragem da mala trouxe um livro da editora que era antecipado por quem acompanha os lançamentos do exterior, mas não tão conhecido por aqui. Assim, o Turista ajudou a popularizar o título e a firmar o sucesso do livro entre os leitores. A gente espera conseguir despertar naqueles que leem casualmente a magia e a viagem que é ler um bom livro. Com cada item da mala nós procuramos despertar um sentido e uma lembrança intrínseca daquela história. Se a gente conseguir transformar a leitura em um hábito mágico e inesquecível, nosso trabalho estará feito!”.

 

 

Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

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