Resenhas

A Caderneta Vermelha, de Antoine Laurain | Resenha

‘A Caderneta Vermelha’: uma trama leve, surpreendente e que aquece o coração

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‘A Caderneta Vermelha’, de Antoine Laurain / Divulgação

O que os objetos que carregamos podem dizer a nosso respeito? Foi no que fiquei pensando após terminar a leitura de A Caderneta Vermelha, de Antoine Laurain, livro delicioso publicado pela Alfaguara Brasil que encontrei ao acaso na livraria próxima à minha casa.

Em uma manhã de ruas vazias, Laurent Letellier, um livreiro parisiense na casa dos quarenta e muitos, caminhava até o trabalho. Durante o trajeto, se depara com uma bolsa feminina largada em cima de uma lixeira. Não era uma bolsa qualquer: parecia nova e cara. Dentro dela, um monte de cacarecos femininos – tinha até pedrinhas –, mas nada de telefone ou documentos. Ele vai até a delegacia, certo de que a dona estaria à procura. Rola uma burocracia, uma demora e uma desanimada por parte dos policiais. Ele acaba levando a bolsa para casa e estudando os pertences, à procura de algo que o ajudasse a identificar a dona. Uma caderneta vermelha traz desde anotações cotidianas, como tarefas, até pensamentos fugidios anotados ao acaso. Um livro de Patrick Modiano com dedicatória. Fotos, um chaveiro com um pingente, um frasco de perfume. Intrigado pela combinação curiosa de objetos que a bolsa carregava, Laurent começa a se envolver com a mulher imaginária – e a buscá-la.

A você que, ao ler isso, pensou “moleza”, eu digo: errou feio, errou rude. À primeira vista, nem o primeiro nome da dita cuja ele sabia. Em nada o Google e o Face ajudariam. O livro traz todo um processo a la Sherlock, de impressões, de detalhes. Além dessa trama (que, por si só, já me atraiu o bastante a ponto de comprar o livro, sem nenhuma recomendação prévia), os personagens que o autor Antoine Laurain nos apresenta são cativantes e possíveis. O melhor amigo quarentão e deslumbrado com o mundo das redes sociais de relacionamentos rasos. A filha adolescente irônica, mandona e cúmplice. Os colegas de trabalho que, por muitas vezes, acabam virando nossa segunda família.

Antoine Laurain / Divulgação
Antoine Laurain / Divulgação

O tempo todo, o livro mantém um clima leve, regado a vinho, caminhadas por Paris, cafés, gente engraçada. Poderia virar um filme, no clima de Um lugar chamado Notting Hill, Mensagem Para Você, Meia-Noite em Paris e Nunca Te Vi, Sempre Te Amei. Com Nora Ephron dirigindo. Preciso dizer também que o fato de o protagonista ser um livreiro me cativou. Mais ainda quando soube que a livraria era fruto de uma dessas viradas na vida, em que a gente para e pensa que o que se tornou não tem nada a ver com quem somos. A obra traz muitas menções a outros livros e autores, o que leitores inveterados (como eu) costumam apreciar. Terminei esta leitura com dois possíveis nomes de sucessores e um coração quentinho. Fui procurar imediatamente por outras publicações do autor, que é colecionador de antiguidades, jornalista e parece muito com o Adrien Brody. Descobri que, sim, um dos livros dele já está sendo adaptado para o cinema, Le Chapeau de Mitterrand. Não sei se a Alfaguara traduzirá para o português os outros cinco romances dele, motivo pelo qual já assinei a pré-venda de French Rapsody, que será lançado em outubro, para meu kindle.

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Leitora que se tornou produtora editorial para poder ler também durante o expediente (e ainda ser paga para isso). Mãe do Pedrinho, que já está viciado em Turma da Mônica.

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