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Bunker – Diário da Agonia, de Kevin Brooks | Resenha

‘Bunker – Diário da Agonia’: aprisionado em uma leitura arrebatadora

'Bunker - Diário da Agonia', de / Divulgação
‘Bunker – Diário da Agonia’, de Kevin Brooks / Divulgação

Não há portas nem janelas. O elevador é o único jeito de entrar ou sair. Não existem interruptores e a luz é programada para acender e apagar. Câmeras e microfones vigiam o movimento dos seis moradores que foram aprisionados no lugar. Todo dia, a porta do elevador se abre: ora com alguma surpresa, ora com o vazio. Mas quem seria responsável por tamanha crueldade? Qual a intenção daquele que os observa? Por que eles foram escolhidos? Escrito por Kevin Brooks e publicado pela V&R Editoras, Bunker – Diário da Agonia é um livro juvenil para testar os nervos dos leitores. A publicação fala da sobrevivência em condições adversas de confinamento e, sob a perspectiva do adolescente Linus, o primeiro capturado, conhecemos as peculiaridades deste bunker*, de seus prisioneiros e acompanhamos a busca por uma saída que os livre desta situação. Será que eles vão conseguir sair dessa?

Após este breve relato da obra de Brooks, comparações com a franquia cinematográfica Jogos Mortais são inevitáveis. Afinal, ambos apresentam um sádico com intenções escusas, que resolve “brincar” com o desespero das pessoas, privando-as de sua liberdade e realizando torturas psicológicas. É um verdadeiro teste de limites e de questionamento ético pela sobrevivência. No entanto, o foco de Bunker – Diário da Agonia não se limita aos detalhes sórdidos (e grotescos) das agressões, mas no prisioneiro: como ele leva a vida neste novo contexto, seus dilemas pessoais, sua perspectiva (ou a falta de), após a estadia no local.

A estrutura da obra de Kevin Brooks segue, como o título indica, o formato de diário. Cada capítulo representa um dia dentro daquela prisão; são os relatos de Linus, a rotina e pensamentos do personagem. O modo como o autor se apropria do estilo é o grande diferencial e o barato de Bunker – Diário da Agonia . A  tensão está em criar um texto sobre a vivência de alguém naquela situação. Nem sempre o narrador (Linus) retrata todos os detalhes que estão acontecendo. Não há riqueza no sofrimento e no desespero. Mas há lacunas. Espaços vazios que são omitidos propositalmente (ou não) para nós, leitores, e são essas ausências que criam toda a agonia proposta pelo livro, transformando-o em algo fantástico e original.

Apenas relatos. Frases curtas. Sem muitas firulas. Diálogos sem muita preocupação com a forma. Linus narra de forma objetiva e, em alguns casos, até desenha para facilitar o entendimento. Ele é um jovem de 16 anos. Não um escritor. Um tipo de postura esperada para o narrador da trama. Todavia, isto acaba afetando positivamente a obra (mérito do autor que soube se apropriar da linguagem). A simplicidade colabora para o ritmo frenético. Tudo é muito ágil e instigante! Ouso dizer que é o mais ágil que já li. Desde o primeiro capítulo, o leitor já mergulha naquele universo, completamente intrigado com a história e, a cada página, se aprisiona mais na leitura.

Bunker - Diário da Agonia Foto 1

É fascinante imergir na mente de Linus. Melhor ainda é pensar com ele sobre várias questões que não nos damos conta no nosso dia-a-dia: tempo, liberdade, pertencimento, problemas e por aí vai. Outro fato que me agradou em Bunker – Diário da Agonia foi a desconfiança em relação ao leitor e o medo de que o homem que o aprisionou esteja lendo suas anotações. Assim, Kevin Brooks coloca o público em mais uma situação de desconforto. Difícil não amar.

Propositalmente, não mencionei em detalhes os outros moradores do Bunker. Um dos atrativos da obra é o leitor ir, aos poucos, conhecendo eles, apresentados, de preferência, por Linus. Porém, por mais que tenham suas peculiaridades e atentem a curiosidade do público, eles são meros “acessórios” na trama. Como já afirmei, o interessante de  Bunker – Diário da Agonia é a percepção do adolescente sobre o confinamento e a vida.

A obra de Kevin Brooks parece algo manjado, mas não é. O autor coloca um jovem em uma situação desesperadora, mas sem se utilizar de uma descrição exacerbada das cenas violentas ou retardando um fato (criando um clima) para deixar o leitor tenso. O angustiante em Bunker – Diário da Agonia, e diferente, é ver uma rotina cruel de relatos sem muitas perspectivas do futuro. É ver o que se passa na mente deste sujeito que está agonizando.

*bunker: é uma instalação fortificada feita para manter os ocupantes a salvo de desastres que atinjam a superfície. Ele deve ficar no mínimo a 2m de profundidade. Todas as paredes são de concreto armado reforçado com uma malha de vergalhões de aço. (Fonte: Mundo Estranho)

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Bunker Diário da Agonia Ficha Técnica

 

 

 

 

 

Apaixonado por histórias, tramas e personagens. É o tipo de leitor que fica obsessivamente tentando adivinhar o que vai acontecer, porém gosta de ser surpreendido. Independente do gênero, dispensando apenas os romances melosos, prefere os livros digitais aos impressos, pois, assim, ele pode carregar para qualquer lugar.

Um comentário

  • Luísa Pacheco Prado

    Possui uma história, trama e personagens muito bons. É o tipo de livro que te faz fica tentando adivinhar o que vai acontecer e acaba te prendendo na história, vc fica querendo ler cada vez mais até que chegue o final ! Muito bom o livro. O jeito que a história é contando faz a leitura ser algo leve, que não vai te entediando. Recomendo muito esse livro, histórias de suspense são as melhores !

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