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Cidade dos Etéreos, de Ransom Riggs | Resenha

‘Cidade dos Etéreos’: um universo imenso e mágico que precisava ser mais desenvolvido

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Graças a Deus Cidades dos Etéreos é um título muito menor do que Orfanato da Srta. Peregrine para Crianças Peculiares – gente, é sério, dá para perder o fôlego depois de falar isso tudo.

E é justamente sobre esse livro – o com o título menor, não o grandão – que se trata essa resenha.

Cidades dos Etéreos foi escrito por Ransom Riggs e publicado no Brasil pela editora Intrínseca – embora o primeiro volume, o que tem o nome gigante lá em cima, tenha sido publicado pela Leya.

Quando eu li a sinopse do primeiro volume, eu pensei: Uau, esse livro deve ser de arrepiar.

Comprei o livro e imediatamente comecei a ler.

Bom, minha decepção foi majoritariamente porque não era nada do que eu esperava. De acordo com a sinopse – que estava impecavelmente bem feita, por sinal, talvez até demais -, a proposta do livro seria uma história sombria, beirando o terror. Mas o que eu encontrei foi uma narrativa adolescente demais e uma trama que poderia ser muito melhor explorada.

Bom, o livro foi um tremendo sucesso em seu país de origem. Então, pode ser que o problema seja comigo. Mas estou aqui para compartilhar o resultado da minha análise, então é o que farei.

O primeiro volume – por favor, não me façam repetir o nome inteiro, vocês sabem qual é o título do negócio – me decepcionou inteiramente. E, infelizmente, o segundo também. Mas não tanto quanto o primeiro.

A história continua exatamente de onde parou, com as crianças peculiares fugindo da ilha de Cairnholm, onde ficava o orfanato da Srta. Peregrine, que fora feito em pedaços por causa de um bomba – lembrando que eles estão passando pela Segunda Guerra Mundial.

A Srta. Peregrine havia sido inicialmente capturada, mas foi resgatada pela crianças. No entanto, havia um grande problema:  ela não consegue sair de sua forma de pássaro. Isso quer dizer: nada de  fenda no tempo.

Dessa forma, as crianças se veem jogadas em um mundo que não conhecem bem, um mundo onde são aberrações, caçadas por acólitos e etéreos, e precisam se esconder, fugir e arrumar uma forma de salvar a sua diretora presa em forma de falcão.

Complicado, né? Mas, enfim, tem que ser feito.

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Divulgação: Intrínseca

E eles tentam. Tentam muito. Viajando por esse mundo tão perigoso e em guerra, as crianças vão em busca da única outra ymbryne – como é a Srta. Peregrine – que pode, talvez, não ter sido capturada ainda.

Em meio a essa jornada, eles ainda têm que se preocupar com o rumo de sua espécie e sua história – porque tudo indica que as chances de os acólitos e os etéreos saírem vencedores é muito grande – e, como se não bastasse, eles ainda têm que lidar com as questões do coração.

E isso foi, francamente, uma das coisas que mais me irritou nessa história – e no primeiro livro também. Mas, como eu não podia falar isso na resenha do primeiro volume, porque seria um spoiler fenomenal, tive que guardar isso até agora. Mas, como estamos falando do segundo volume, comentários sobre o primeiro são perfeitamente aceitáveis e esperados. Então, lá vai:

Esse negócio do Jacob ficar com a Emma me pareceu absurdamente forçado.

Pronto. Eu falei. Me processe!

Pelo amor de Deus, a garota era apaixonada pelo avô dele! Então, depois que ele chega, ela passa a gostar dele também e ele, é claro, fica saltitando ao redor dela como um potrinho apaixonado.

Fala sério, né. Ficou completamente artificial e forçado. E conseguiu me irritar.

O segundo aspecto que me incomodou foi a narrativa em primeira pessoa, feita por ninguém menos do que Jacob, é claro. A narrativa, em si, está bem feita e é até engraçada, às vezes. Mas talvez a história pudesse muito melhor explorada se o narrador fosse em terceira pessoa. Mas mantendo o foco apenas no Jacob, essa capacidade foi reduzida drástica e tristemente, porque o leitor fica preso ao olhar e impressões do Jacob e nada mais.

Sinceramente, achei que, com isso, a história foi amputada. Porque o universo que Riggs criou é muito bacana, é bem completo, fantasioso e criativo, mas a trama inteira é contada por um garoto que não conhece nada desse mundo e não o entende direito. Então, isso não ajudou a história, infelizmente.

E as peculiaridades das crianças também me incomodaram um pouco. Sinceramente, achei que não foram bem aproveitadas e a impressão que me passou foi que o autor não planejou isso anteriormente, ou seja, não tinha nada previamente organizado. Então, temos peculiaridades secundárias e não tão importantes.

Nesse segundo volume, no final do livro, há uma entrevista feita pelo editor da Quirk Books ao autor, onde as minhas suspeitas de que tudo foi uma grande improvisação são confirmadas.

Eu sou uma dessas que acha que um livro tem que ser planejado – pelo menos, parte dele.

Mas achei bem legais as imagens usadas como ilustrações “reais” da história – e, cá entre nós, algumas são bem assustadoras. Foi uma boa jogada do autor.

No resto, não tem nada de mais. A história é até mais interessante, bem formulada e com bem mais ação do que o primeiro volume.

O primeiro volume foi uma grande apresentação desse universo e das crianças peculiares. Já em Cidade dos Etéreos, vemos a ação propriamente dita. Isso é um ponto a favor.

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Mas, infelizmente, a impressão que passou foi que quem mandava na história eram as fotos e não autor. E isso beira o imperdoável. O autor tem que ter o controle da trama, até que a própria história consiga seguir em frente sozinha, exigindo apenas que o autor escreva o que tem que que ser escrito para que tudo faça sentido. O autor começa como o grande criador da história, mas logo acaba tendo que seguir as regras que ele mesmo inventou. Isso, sim, me parece correto. Mas não foi o que eu vi em Cidade dos Etéreos. Foi como se as imagens ditassem a história o tempo inteiro. E isso não foi legal.

Quanto ao trabalho da editora, está excelente. A fonte está ótima para a leitura, a diagramação está lindíssima, com as fotos e a separação dos capítulos – ficou parecendo uma espécie de diário com fotos,  bem legal. Esta primeira edição é de capa dura – o que confere um status a mais ao livro, na minha opinião de leitora fresca. A única coisa que me incomodou um pouco foi que a capa é envolvida por um papel com o desenho da capa impresso, e embaixo, a capa dura mesmo é lisa. Eu não entendo o motivo de algumas editoras fazerem isso – inclusive, aceito explicações, porque eu realmente coloco isso como uma pergunta. Deve haver um motivo, mas eu não sei qual é. Só sei que as chances de esse papel rasgar, amassar e ficar feio, comprometendo a aparência do livro em si, são enormes.

Enfim, Cidade dos Etéreos não conseguiu me fazer superar as decepções que seu antecessor me deixou, mas, apesar disso, apresenta uma história bem interessante, de um universo vasto e mágico – um ponto a favor. O livro pode não ter agradado a mim, mas isso não quer dizer que não vá fazê-lo com outros – na verdade, o primeiro volume foi um grande sucesso fora do Brasil.

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