Resenhas

Duff, de Kody Keplinger | Resenha

‘Duff’: uma volta à adolescência cheia de emoção e de reflexões

Duff 6 ResenhaA adolescência é provavelmente a época mais conturbada e, até mesmo, traumática de nossas vidas. É aquela fase em que todas as inseguranças, incertezas, ansiedade, medos e receios são catapultados pelos hormônios em fúria da temida “puberdade”. Nada que o tempo – ou uma boa dose de terapia – não resolva. O problema é que, para os adolescentes, tudo é elevado à potência máxima das emoções. E, sim, eles podem exagerar em alguns momentos, porém, o perigo é justamente esse. Quem está de fora e que já passou por isso constantemente se esquece do que é estar na pele de um jovem no alto de seus 15, 16, 17 anos e encarar todos os desafios dessa fase, especialmente os “sociais”. Você, eu, todos nós sabemos que os adolescentes podem ser cruéis e as consequências que isso gera naqueles que são seus alvos. Esse é o tema abordado brilhantemente, diga-se de passagem, por Duff, livro de Kody Keplinger, publicado pela Globo Alt.

Na trama, conhecemos e acompanhamos a rotina de Bianca Piper, de 17 anos. Apesar de não ser a garota mais bonita da escola, é bastante inteligente, tem personalidade forte e possui duas amigas leais. O problema é quando Wesley Rush, um dos caras mais galinhas e populares – e uma das pessoas que Bianca menos suporta, por motivos óbvios -, coloca nela o apelido de Duff (sigla em inglês para Designated Ugly Fat Friend, ou seja, a menina menos atraente do seu grupo de amigas. Essa simples palavra causa uma revolução na cabeça da jovem, principalmente quando ela também precisa lidar com a iminente separação dos pais. Desesperada por uma válvula de escape, Bianca acaba beijando justamente Rush e os dois começam um relacionamento não muito saudável devido ao impulso e a uma necessidade de distração. Mas nenhum dos dois esperava se envolver de verdade…

Uma das primeiras coisas que quero falar sobre Duff – e que acredito seja o seu principal ponto positivo – é sobre a veracidade da história. Tirando, é claro, a parte romantizada da coisa que todos nós conhecemos, Kody não se omitiu ao falar sobre a realidade dos adolescentes. Pelo contrário. Estava tudo lá: o sexo, o álcool, a decepção, as ilusões, as famílias disfuncionais. Não há a necessidade de limitar ou maneirar em qualquer situação. Isso deu bastante credibilidade ao livro, em minha opinião. Principalmente quando você já não é um leitor adolescente lendo histórias de adolescentes. Kody levou tudo muito a sério, como deve ser e a gente espera de uma trama que trate justamente do pior momento dessa fase.

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Narrado em primeira pessoa, acompanhamos tudo pelo ponto de vista da protagonista Bianca. Isso facilita e muito a criar uma identificação com a personagem, mesmo que você não tenha a mesma faixa etária. Até porque, caso você seja mais velho(a), certamente se lembra de como era ser um adolescente. Confesso que Bianca me deixou bastante dividida. Admiro a sua personalidade marcante e até carismática, em alguns momentos, devido aos seus comentários espertos e sarcásticos. E respeito principalmente a sua lealdade para com suas amigas e sua família. O que me incomodou em Bianca foi justamente aquele “quê” de adolescente dramática, ao longo dos acontecimentos. Tudo bem que uma adolescente insegura como ela questione basicamente todos os pontos e situações à sua volta. Porém, achei um pouco demais, em certas partes. É então que entra novamente o talento e a sensibilidade de Kody.

Como estamos sempre ligados à mente de Bianca, aos poucos, vamos compreendendo também esse seu lado mais frágil. E foi aí que eu mesma me vi na protagonista. E a perdoei, ou melhor, entendi perfeitamente todos os seus defeitos e me encantei ainda mais por suas qualidades. Se você acha que nunca se sentiu um(a) Duff, vamos remexer nessa memória. Inevitavelmente, todos nós, em alguma época da VIDA, nos sentimos rebaixados, usados, inferiores. A não ser a Gisele Bündchen, mas acredito que até ela já tenha tido seus momentos. Com Bianca, Kody nos faz relembrar e aprender que ninguém tem o direito de nos dizer o que fazer e principalmente QUEM devemos ser. A narrativa da escritora é tão simples e leve, que vivenciamos e experimentamos novamente todas aquelas emoções através da protagonista. Foi como se eu tivesse voltado a ser adolescente de novo: eu ri, senti raiva, me questionei e até passei vergonha no ônibus ao chorar em uma cena bem singela, mas que achei tão delicada que não aguentei – culpa dos hormônios que também devem ter se lembrado de como era ser adolescente. Sendo que eu realmente nunca tinha ouvido falar dessa sigla. Então, a maneira como ela abordou esse conceito – até então desconhecido por mim – me tocou muito.

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Todos os personagens são bem construídos, e eu me apeguei logo às pessoas que fazem parte do círculo de Bianca. Inclusive Wesley, sou obrigada a confessar. Quanto à família, é incrível como Kody expõe os problemas de um ambiente desequilibrado – realidade de muitos jovens hoje em dia, infelizmente – e mostra o quanto isso os afeta direta ou indiretamente. Não apenas com Bianca. E o mais legal é a sensibilidade da autora, que soube trazer assuntos tão delicados e dolorosos de maneira bastante natural. Esse tom ajuda muito na fluidez da leitura. E é ainda mais bacana acompanhar o desenvolvimento da relação de Bianca e Wesley e ver como um aprende e se descobre com o outro. Aliás, muitos dos diálogos trocados entre os dois nos fazem parar para pensar em vários aspectos de nós mesmos, sejamos jovens ou adultos.

“Duff” pode parecer apenas uma palavra pequena, como outra qualquer. Mas seu poder é destrutivo. É injusto e muito cruel que uma pessoa consiga ser tão abalada emocionalmente por uma simples sigla. Que ela duvide de si mesma por um apelido. Já parou para pensar que algo de que não gostamos em nós mesmos pode ser justamente aquilo que mais chama a atenção de outra pessoa, de uma forma positiva? Em vez de sempre olharmos para a suposta perfeição dos outros, vamos focar e aceitar as nossas próprias qualidades e imperfeições. As nossas singularidades. Essa é a nossa essência. Isso é o que nos torna especiais e únicos. Ninguém está sozinho. Duff não é apenas uma palavra, é um livro muito sincero, divertido e necessário.

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Duff Ficha Técnica

 

 

 

 

 

Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

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