Resenhas

Minha Julieta, de Leisa Rayven|Resenha

‘Minha Julieta’: Leisa Rayven traz uma continuação excitante e reveladora para uma história de amor extremamente verdadeira e reflexiva

O que é mais difícil: dar uma segunda, terceira chance a alguém ou mudar? É exatamente isso que tentamos descobrir em Minha Julieta, a aguardada continuação de Meu Romeu, obra de Leisa Rayven publicada pela Globo Alt, o selo jovem da Globo Livros. Nesse segundo livro, somos presenteados com uma belíssima desconstrução e reconstrução de ambos os personagens, desvendando não apenas as suas almas e seus mais profundos sentimentos, mas também revelando o amor puro, verdadeiro e natural.

Dessa vez, Cassie está realmente disposta a não perdoar Ethan e a não permitir que ele destrua o seu coração… Pela terceira vez! Ele, por outro lado, não medirá esforços para provar que ela é, de fato, o seu grande amor e fará de tudo para provar que está mudado e que é capaz de finalmente dizer o que sente. O problema é que, para Cassie, revisitar o passado para tentar resolver o futuro poderá reabrir feridas que não foram totalmente cicatrizadas.

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Leisa Rayven conseguiu transformar uma leitura em uma verdadeira terapia. Impossível definir suas duas obras de outra maneira. Através de Cassie e Ethan, assim como em Meu Romeu, somos obrigados a nos revisitar internamente. A explorar e a repensar nossas próprias inseguranças e sentimentos. Novamente, a autora nos envolve em sua narrativa leve e apaixonada e, ao mesmo tempo, excitante, que nos traz um equilíbrio entre a ansiedade por querer explorar suas páginas e os momentos de reflexão. Agora, o trunfo dessa continuação é, sem sombra de dúvidas, a capacidade de Leisa de construir e desconstruir seus personagens. Isso porque, na continuação, a situação se inverte. Cassie e Ethan trocam de lado. E o resultado disso é simplesmente fantástico.

Depois de ter sido magoada duas vezes, é de se esperar que Cassie resolva se fechar e não permitir a entrada de mais ninguém que possa destruir seu coração novamente. Ethan, por sua vez, se conscientizou que, para ser feliz ao lado da pessoa que ama, era preciso enfrentar seus fantasmas do passado e mudar suas atitudes. Acreditar que, sim, ele poderia ter um relacionamento sério e verdadeiro com alguém, sem se autodestruir ou sabotar. Trocar os papéis na continuação era um risco. Poderia ficar repetitivo, monótono. O que nunca chegou a acontecer. Pelo contrário. Leisa teve uma sensibilidade única ao mostrar uma Cassie mais vulnerável e introspectiva, porém, sem perder a essência da personagem e sua personalidade marcante e carismática. E quem poderia culpá-la? Desafio qualquer pessoa que tenha tido o coração destroçado, pelo menos, uma vez na vida, a ter coragem de encarar um novo amor desse jeito. Cassie nos representa. Ela é romântica e sonhadora, porém, forte e determinada, que, por maior que seja a sua vontade de viver um grande amor, se perder a confiança, não está disposta a se arriscar e a se machucar novamente. Alguém se identifica?

julieta500Por outro lado, temos Ethan. Ah, Ethan. O charmoso, apaixonado e desesperado Ethan. Esse personagem consegue despertar nos leitores todas as reações possíveis e mais contraditórias. Somos capazes de quase (veja bem, quase) odiá-lo por tudo que ele fez à Cassie, a si mesmo e ao relacionamento dos dois (aí entra aquela solidariedade feminina, né?). Mas também queremos pegá-lo no colo ao descobrirmos o porquê de ele ser tão radical e cético no que diz respeito ao amor. No entanto, em minha opinião, foi muito cômodo para ele simplesmente ir embora duas vezes para fugir do problema, alegando traumas do passado, em vez de encarar a situação tendo a ajuda de Cassie. Porém, ao tentar reconquistá-la, em Minha Julieta, Ethan acaba reconquistando a todos nós. Repito que é muito fácil, depois do que ele fez, voltar dizendo que é outra pessoa e que, agora, finalmente, entendeu que aquilo era o certo para a sua vida e que Cassie era o seu grande amor. O lance é que Ethan fez algo que muitas pessoas não são capazes: ele mudou. Ou melhor, procurou ajuda. Tudo bem que depois de quebrar a cara. Mas ele reconheceu o seu erro e foi correr atrás do que queria. E isso é mais do que a maioria está disposta.

Novamente narrado em primeira pessoa, Minha Julieta volta com o recurso de alternar entre o passado e o futuro para finalmente desvendarmos a história desse casal tão aparentemente disfuncional. Essas imersões são incríveis, pois, se o presente e o futuro de Ethan e Cassie são pura emoção, o passado deles é igualmente fascinante e bastante revelador. Uma coisa, no entanto, permanece intacta e, se é que é possível, fica ainda melhor: a química entre eles. A paixão transborda das páginas e é capaz de derreter até mesmo os corações dos mais insensíveis. Leisa Rayven, a senhora sabe como escrever uma boa cena de amor, sem parecer vulgar ou forçada.

Na verdade, o que tanto Meu Romeu quanto Minha Julieta nos mostram é que o amor não tem explicação. Ele é leve, calmo, doce, mas também pesado, nervoso e quente. Nós apenas sentimos e deixamos que essas emoções nos levem. Ele nos transforma interna e externamente. Nos faz ser irracionais ou extremamente racionais. Pode nos levar ao céu ou ao inferno. Porém, se fosse fácil, talvez, não fosse tão divertido ou, no mínimo, interessante e excitante. Coisa que Minha Julieta  definitivamente é!

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Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

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