Entrevistas

Entrevista: Erica Oliveira

Em entrevista ao Vai Lendo, a publicitária Erica Oliveira fala de sua estreia na literatura, com a obra infantil ‘Betina, a colecionadora’ que ensina as crianças a lidarem com os ‘nãos’ da vida

Erica Oliveira, autora de 'Betina, a colecionadora'/Foto: Arquivo pessoal
Erica Oliveira, autora de ‘Betina, a colecionadora’/Foto: Arquivo pessoal

Ninguém gosta de ser contrariado. Principalmente as crianças. E, quando elas ainda não têm o controle de suas próprias vidas e são submetidas ao comando dos seus pais, parece que tudo gira contra elas, não é mesmo? Educar também é ensinar os pequenos a lidar com esses momentos, os muito “nãos” que recebemos e sempre receberemos ao longo dos anos. Não é uma tarefa fácil, mas ela pode ser feita de maneira prazerosa e delicada. Numa semana em que o Vai Lendo entrou no clima do Dia das Crianças, resolvemos homenagear os nossos pequenos leitores com algumas matérias especiais, voltadas especificamente para esse público. Para começar, traremos uma entrevista com a publicitária carioca Erica Oliveira, que encontrou na escrita a forma de compartilhar as suas próprias frustrações e dificuldades e, através de seu livro de estreia, Betina, a colecionadora, publicado pela Franco Editora, ela conseguiu mostrar não apenas para as crianças, mas também aos pais que os “nãos” fazem parte da vida e nos ajudam a crescer e a amadurecer.

Na trama, Betina é uma menina que vive rodeada de colecionadores por todos os lados e nada mais natural que ela também quisesse ter a sua própria coleção. Mas a sua coleção acaba sendo um tanto esquisita, e seus pais logo ficam preocupados com o comportamento da garota. Isso porque Betina resolveu receber de braços abertos as portas que o mundo lhe fechava. De forma leve e divertida, Erica tenta passar para os leitores que os obstáculos existem, mas não devem ser empecilhos para seguirmos em frente, e que podemos enfrentá-los sob outro ponto de vista. E a autora fala por experiência própria, pois Betina surpreendentemente foi inspirada nela mesma.

“Eu hesitei um pouco antes de contar isso, mas, na verdade, o que me inspirou foi um momento muito pessoal”, confidenciou Erica ao Vai Lendo. “Eu estava desempregada, fazendo aquela montoeira de processos seletivos, entrevistas, tentando me recolocar e não aguentava mais receber aquele e-mail padrão, agradecendo a participação, mas dizendo que, naquele momento, não era possível o meu aproveitamento. Um blá blá blá sem fim. Daí, eu pensei em escrever a história de uma menina que colecionava ‘nãos’, que era, mais ou menos, o que estava acontecendo comigo ali: um ‘não’ atrás do outro. Mas eu não tinha a menor ideia de onde aquilo ia dar. Eu escrevia mais para preencher o meu tempo e a minha cabeça. Então, um dia, me ligaram e pintou um trabalho bem bacana, que me traz muita alegria. Em relação ao livro, como toda criança, recebi alguns ‘nãos’, mas todos absolutamente normais; nada que tenha me traumatizado. Eu reagia a esses ‘nãos’ querendo crescer, ser logo gente grande, afinal, gente grande não ouve ‘não porque não'”.

Foto: Divulgação
Foto: Divulgação

Com ilustrações de Anttonio Pereira, o livro apresenta traços bem delicados, lembrando aquarela, com um estilo semelhante ao de alguns desenhos japoneses mais clássicos (Betina, inclusive, lembra muito alguns dos personagens marcantes criados pelo célebre Studio Ghibli. Para Erica, o trabalho de Pereira tem “personalidade e uma certa doçura” e ela ainda ressaltou que sua maior preocupação era justamente “respeitar o espaço criativo do ilustrador, respeitar a maneira como ele se apropriava da história e traduzia aquilo na linguagem dele”. A dupla deu tão certo que resultou numa obra extremamente sensível, que já é trabalhada em algumas escolas.

“O foco da editora é nas escolas, através de divulgadores que promovem o livro nas instituições de ensino”, explicou a autora. “Uma etapa que achei muito rica foi, depois de concluído o livro, contribuir com a elaboração de questões de cunho pedagógico, relacionadas à história. Aí, entra um novo agente no processo, que é a pessoa responsável por elaborar essas questões, tornando o livro mais atrativo para os educadores, a partir do momento em que destaca tudo o que pode ser abordado com as crianças através daquela leitura”.

OSy4ZEGFu6S_3HrdqsHUTVe-_tfjfzxR1Q3hbpSXUEU,vKKi5tcLEXaHDCLNFHWmE7MU9F6ka53SdzaIf34Xqqk

Por falar na importância da leitura para as crianças, Erica disse acreditar que os livros que conseguem apresentar o mundo de uma outra maneira e com muita criatividade são aqueles que ficarão marcados em suas mentes e consequentemente ajudarão a formar novos leitores. Apesar de não ter pensado inicialmente em escrever para o público infantil, a escritora exaltou a experiência e garantiu que pretende desenvolver novos trabalhos para crianças.

“Não é qualquer leitura que contribui para formação de novos leitores, mas a leitura criativa, leve, sensível, a leitura que ajuda a criança a assimilar o mundo de um jeito diferente ao que ela costumava assimilar, antes daquela leitura”, declarou. “Acho que, se esses componentes estão presentes num primeiro momento, ou seja, na etapa de formação, aumentam as chances de termos, de fato, um leitor. Eu sempre gostei de escrever e cultivei esse hábito. Esse interesse também influenciou na minha escolha profissional. Eu cursei Comunicação Social e comecei trabalhando como redatora. Sou daquelas com milhares de caderninhos na bolsa, com anotações de viagens, trechos de música, dicas de restaurantes, pensamentos…  Ou seja, eu sempre escrevi muito, evidente que sem nenhuma pretensão literária, mas acho que foi um processo bem natural . Agora, o que eu jamais imaginei foi escrever pra crianças. Isso eu realmente não sei dizer como surgiu na minha vida. Talvez, pela possibilidade de uma linguagem mais descompromissada com a razão. E eu adorei! Vou continuar”.

Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *