Entrevistas

Vai Lendo entrevista: Tiago Velasco

O ser humano é movido a questionamentos, seja de ordem interna ou referentes ao mundo e suas nuances. Para isso, tentamos constantemente alcançar o equilíbrio entre a busca e a perda, por mais que, às vezes, o resultado (ou resposta) obtido (a) não seja exatamente aquele (a) que esperamos. E é sobre essa jornada de autoconhecimento e reflexões que o jornalista e escritor carioca Tiago Velasco fala em seu segundo livro de contos, Petaluma. A obra será lançada pela Editora Oito e Meio nesta quarta (17), no Espaço Oito e Meio, na Travessa dos Tamoios, Flamengo, Zona Sul do Rio, a partir das 19h. Em entrevista ao Vai Lendo, Velasco conta quais foram as suas inspirações e suas expectativas em relação a Petaluma. Confira:

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Vai Lendo – Como surgiu Petaluma? De onde veio esse nome?

Tiago Velasco: O nome é de um restaurante em que trabalhei em Nova York. No livro, há um conto de mesmo nome. Um conto autoficcional, ou seja, com traços autobiográficos. Não à toa, dei o nome do personagem de Tiago Velasco. Nele, tudo é verdade, mas é tudo ficção. Foi o último conto que escrevi do livro. Os outros contos todos, de alguma forma, também versam sobre a identidade no mundo contemporâneo. Eu tinha isso na cabeça ao escrevê-los.

Vai Lendo – Esse livro aborda especificamente a questão da identidade. Você trouxe experiências próprias, questionamentos internos para seus contos?

T.V.: Acho que não tem como não falar da gente quando escrevemos. Tudo que está escrito é, no mínimo, um olhar do autor. Isso não quer dizer que seja a minha vida, a realidade. Rejeito essa tentativa de leitura. Mas, claro, muitas angústias minhas estão ali. Essa coisa da identidade fluida, múltipla, que não fixa mais nada é algo, ao mesmo tempo, libertador, mas que também traz muitas inseguranças, uma sensação de inadequação constante e de busca eterna por algo que sirva como apoio. Acho que trato desse desmoronamento de identidades ao longo do livro. E o conto “Petaluma” é a síntese de tudo isso.

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Divulgação/Guilherme Lima

Vai Lendo – Como é esse processo de criação?

T.V.: Não tenho um processo específico. Escrevo de forma vagarosa, sem disciplina alguma. Antes de botar no Word eu maquino na minha cabeça durante um bom tempo. E só começo a escrever quando tenho um final, mesmo que ele possa mudar ao longo da escritura. É muito interessante que, por mais que eu tenha um final, o texto se impõe. Começo a escrever, e um parágrafo puxa o outro, ideias surgem e somem, enquanto desenvolvo o conto. É bastante angustiante, rola uma adrenalina, mas a sensação de bem estar, para mim, só surge quando ponho o ponto final.

Vai Lendo – Seu primeiro livro, Prazer da Carne, também reunia contos que abordavam questões pessoais. Qual é a principal diferença entre ele e Petaluma?

T.V.: Eles são bem distintos estilisticamente. No Prazer da Carne, eu era mais jovem, tinha uma ânsia por causar impacto, então, os textos são mais cínicos, mais iconoclastas mesmo. Além disso, não há unidade estética, não há um fio condutor, nada que una aqueles contos. Petaluma foi concebido dentro da ideia da identidade no mundo contemporâneo, com narrativas mais intimistas, muitas vezes narradas em primeira pessoa, contos mais longos… Acho Petaluma mais reflexivo e autoconsciente.

Vai Lendo – Você acha que, algum dia, o ser humano vai conseguir achar o equilíbrio entre essa busca (interna ou não) e a perda? E por que, em sua opinião, nós nos questionamos tanto?

T.V.: Não tenho a menor ideia. Acho que essa busca deve ser contínua. Se a gente se questiona o tempo todo, é porque há coisas que nos deixam aflitos, há uma angústia. Talvez, seja a certeza da morte. Sabemos que a vida é finita, não dá para deixar para depois. Não sei mesmo, só foi o que meio veio à cabeça agora.

Vai Lendo – Com qual conto de Petaluma você mais se identifica?

T.V.: Com todos os contos. Uns podem parecer mais autobiográficos que outros, mas as minhas questões, de alguma forma, estão em todos. Então, não dá para apontar um. E acho que o leitor é quem deve se identificar. O conto deve dizer ao leitor. As minhas questões estão postas; agora, cabe ao leitor completar com as dele.

Vai Lendo – Há algum próximo trabalho em andamento?

T.V.: Nada de concreto. Ando escrevendo uns microcontos. Talvez, um dia, eu edite um livro com eles, mas é algo que escrevo de vez em quando. Quero escrever um romance também, acho que o conto Petaluma foi um exercício, quem sabe até um esboço. Vamos ver.

Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

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