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Os Quase Completos, de Felippe Barbosa | Resenha

‘Os Quase Completos’: uma jornada de autoconhecimento

Será que estamos satisfeitos com o que somos e vivemos como realmente desejamos? Uma decisão. Já pensou que apenas uma mudança de curso é suficiente para transformar a nossa vida, principalmente nós mesmos, e nos lançar na busca pelo autoconhecimento? É com essa proposta que embarcamos em Os Quase Completos, livro vencedor do prêmio Pólen de literatura, escrito por Felippe Barbosa e publicado pela editora Arqueiro. Uma obra fascinante que nos leva a uma jornada de reflexão e descobertas. Impossível não se envolver.

Leia a entrevista de Felippe Barbosa sobre ‘Os Quase Completos’

Os Quase Completos narra três histórias que se complementam, de personagens que têm em comum a sensação de incompletude: o Quase Doutor é um renomado cardiologista que, no fundo, é um artista frustrado; a Quase Viúva é uma professora que está de licença do trabalho para ficar com o noivo, em coma após um grave acidente; e o Quase Repórter é um jornalista decepcionado com a profissão que sofre há mais de um ano pelo suicídio da esposa. Até que, um dia, o Quase Doutor é persuadido por um velho desconhecido a embarcar com ele em um ônibus também desconhecido. Mas qual seria o destino? Por que não embarcar e descobrir?

Quebrar a rotina e subir neste ônibus rumo ao desconhecido é o ponta pé para desbravar a jornada criada por Felippe Barbosa. Os Quase Completos é uma obra que transborda criatividade em um universo fantástico que vai abrir a mente para inúmeras possibilidades e, principalmente, provocar o leitor. Da mesma forma que acompanhamos a viagem do Quase Doutor, inevitavelmente somos levados a refletir sobre nós mesmos, o grande barato da leitura.

As outras duas histórias, a Quase Viúva e o Quase Repórter, acabam trazendo também alguns dilemas existenciais e complementando a proposta do autor com o livro, mesmo não tendo o mesmo destaque da trama do Quase Doutor. A estrutura de Os Quase Completos, neste sentido, é muito objetiva. Ela sempre intercala capítulos do Quase Doutor com a Quase Viúva ou o Quase Repórter, revezando estas tramas secundárias que dão suporte ao fio condutor principal (a trama do cardiologista).

A escrita de Felippe consegue ser bastante envolvente. Por mais fantástico que seja o universo criado, a boa descrição faz com que seja fácil imaginar este lugar por onde o ônibus do Quase Doutor viaja. É tudo muito visível. Os personagens também são muito bem desenvolvidos e interessantes, contribuindo para um bom engajamento do leitor. Isso sem contar nos questionamentos provocados pelo texto – mesmo com pouca idade, Felippe já demonstra uma sensibilidade essencial à profissão.

O único ponto que faltou na trama foi uma edição mais incisiva. Acredito que a história possa ser contada de forma mais sucinta, sem atrapalhar todo o questionamento que o livro traz e as descrições. Em alguns momentos, a leitura ficou extensiva demais. Reconheço que cada autor dita o ritmo da obra e temos que respeitar, mas não cairia mal uma agilidade maior, cortar umas “gorduras” desnecessárias.

Um livro, de alguma forma, sempre mexe com o leitor. No entanto, alguns têm um poder maior. Não sei explicar! Talvez, por uma identificação com os personagens ou por nos fazer refletir sobre algo que, até então, não tínhamos parado para pensar. Será que somos realmente completos? Será que buscamos os nossos sonhos ou somos induzidos pelos anseios de outras pessoas? É esta caraterística provocadora que mais fascina na leitura de Os Quase Completos. Um trabalho bastante consistente do jovem Felippe Barbosa, que se mostra promissor. Sem dúvidas, uma jornada que merece ser lida e vivida.

Apaixonado por histórias, tramas e personagens. É o tipo de leitor que fica obsessivamente tentando adivinhar o que vai acontecer, porém gosta de ser surpreendido. Independente do gênero, dispensando apenas os romances melosos, prefere os livros digitais aos impressos, pois, assim, ele pode carregar para qualquer lugar.

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