Entrevistas

Entrevista: Marcus Barcelos

Marcus Barcelos conquistou os leitores com seu terror sobrenatural e psicológico e se prepara para lançar o novo livro, ‘Dança da Escuridão’, pela Faro Editorial

Por que o terror é tão assustador e, ao mesmo tempo, nos fascina tanto? É com o medo também que nos descobrimos e podemos nos reinventar. Enfrentamos nossos temores e, deles, criamos. Escrevemos. Arrebatamos. É isso o que o escritor carioca Marcus Barcelos fez e faz com as suas obras. Tanto que, agora, ele se prepara para lançar, em julho, Dança da Escuridão (ainda sem capa divulga), continuação do seu sucesso Horror na Colina de Darrington, ambos publicados pela Faro Editorial. O terror sobrenatural com pitadas de suspense psicológico, pulp e noir caiu nas graças do público com uma trama densa e reflexiva, que mescla passado e futuro.

Apesar de ser uma sequência, Marcus ressaltou que Dança da Escuridão é, de certa forma, independente. Pensada para ser desenvolvida em um único volume, no caso, Horror na Colina de Darrington, a história do novo livro foi um verdadeiro desafio para o escritor, que precisou enfrentar, além dos medos, a pressão imposta por ele mesmo.

‘Dança da Escuridão ‘, de Marcus Barcelos / Divulgação

“Quando comecei a esboçar a história completa do órfão Benjamin Francis Simons, ela sempre teve a mesma estrutura, mas inicialmente queria contá-la um livro só”, explicou Marcus em entrevista ao Vai Lendo. “A primeira parte seria composta pelos acontecimentos em Darrington e, em seguida, o que aconteceu a partir daí. No entanto, quando comecei a escrever a primeira parte no Wattpad, na época chamada de Conto Curto de Terror, percebi que seria muito mais impactante se o ocorrido em Darrington fosse explorado unicamente em um volume. A narrativa pulp ficaria responsável por transformar o episódio em algo visceral e visual, e ele seria um excelente ponto de partida para a segunda parte da história, que é bem mais complexa e misteriosa. O fato de mesclar passado e futuro, apesar de tornar o processo de escrita mais complicado, dá mais liberdade para apresentar os fatos. Ter mais de uma linha do tempo na história me ajudou a conectar os dois livros como se fossem um só. E o Dança da Escuridão, ainda que seja a sequência direta de Horror na Colina de Darrington, não requer obrigatoriamente a leitura do primeiro volume. Por abordar o episódio em Darrington novamente e o que aconteceu depois dele, fiz com que o leitor que não leu o primeiro livro não tenha perdido nada. Por outro lado, o que aconteceu na colina tem tanta importância para a história de Ben que o leitor vai, com certeza, querer saber com mais detalhes o que aconteceu. E isso, eu acho, traz mais charme para o Horror na Colina de Darrington. O fato de ser a continuação acho que foi o que mais me bloqueou no início. Quis tanto fazer jus ao primeiro livro que acabei me cobrando demais; não podia de maneira nenhuma deixar pontas soltas. De qualquer forma, o resultado final, apesar de infinitamente mais trabalhoso que o primeiro, me agradou completamente”.

Parte de uma das ilustrações de Thomaz Magno presente no ‘Dança da Escuridão’, de Marcus Barcelos, que será lançado em julho/18 pela Faro Editorial / Reprodução Facebook

Por falar em Wattpad, sim, foi na plataforma digital de publicação que Marcus – como muitos autores iniciantes e independentes – começou a carreira e se mostrou aos leitores com a primeira versão de Horror na Colina de Darrington. E foi com o feedback recebido que o escritor e também jornalista resolveu buscar sonhos maiores e explorar o mercado editorial. Mas a relação como Wattpad não parou por aí. Mesmo publicado por uma editora tradicional, Marcus é, hoje, um dos embaixadores da plataforma no Brasil e exaltou a oportunidade que a ferramenta oferece para autores que buscam incessantemente uma oportunidade de serem lidos num mercado ainda tão concorrido e fechado para escritores em início de carreira.

“O Wattpad sempre foi muito importante para mim”, indicou. “Foi onde comecei a encontrar os meus leitores e o primeiro lugar onde pude receber um feedback variado sobre Horror na Colina de Darrington. Quando entendi que o livro tinha potencial, a partir da maravilhosa recepção que ele teve na plataforma, resolvi explorar o mercado e fui com tudo. Com a ajuda da minha base de leitores, lapidei ainda mais a história e a coloquei à prova no mercado editorial através de uma editora comercial, a Novo Século. Com a ótima recepção, surgiram os convites para eventos. Uma coisa foi levando a outra, vários leitores novos chegaram e a oportunidade de publicar por uma editora tradicional, a Faro Editorial, surgiu. Como já estava escrevendo a continuação, relançamos o primeiro volume em uma espetacular edição definitiva, e continuei galgando os degraus com ela. O fato de ser um dos embaixadores do Wattpad no Brasil já me abriu muitas portas, mas também fez com que eu ajudasse muitos autores novos. Fosse com dicas de caminhos a seguir ou opiniões sobre enredos e histórias, consegui fazer com que muitas histórias saíssem das gavetas e tomassem a rede. Nada me orgulha mais do que um autor me agradecer por ter finalmente tomado coragem para mostrar seus escritos. É o que eu sempre falo: tem muita história boa por aí só esperando para ser contada”.

‘Horror na Colina de Darrington’, de Marcus Barcelos / Divulgação

E essa união entre escritores – especialmente do gênero terror – é uma tendência crescente, uma vez que este gênero ainda encontra bastante resistência e forte concorrência (principalmente estrangeira) na indústria, embora este cenário esteja, aos poucos, se modificando, de acordo com ele. Como o próprio Marcus destacou, esta troca de experiências entre autores é fundamental para o fortalecimento do gênero no mercado – dentro das grandes editoras – e para abrir também as portas para novos profissionais.

“Ainda que existam pontos fora da curva (autores que se acham melhores que os outros e enxergam todos os colegas como concorrentes), os autores de terror entendem que o gênero é vasto e daquele tipo: quem gosta, gosta MUITO”, afirmou. “Isso faz com que exista espaço para todo mundo. Um leitor acostumado a ler termina um livro de 300 páginas em, no máximo, uma semana. Às vezes, até em menos tempo. Então para que considerar outro escritor um concorrente? Se formos todos unidos, os leitores chegarão até a gente quando terminar a leitura atual. Um indica o outro e todo mundo é lido. E isso é ótimo para o mercado. Quanto mais aquecido, mais oportunidades para todos. Para melhorar ainda mais, eu diria que é só existir mais espaço para o gênero nas editoras mais tradicionais, o que já está acontecendo. Então, é questão de tempo para termos ainda mais livros de terror saindo por grandes editoras”.

Misturando o sobrenatural com o psicológico, Marcus – que se inspira em grandes mestres do gênero, como Stephen King, Edgar Allan Poe e H. P. Lovecraft – nos apresenta um terror quase intimista, daqueles que se escondem em nossas mentes e nos atormentam. Muito disso se deve ao fato de essas histórias, esses medos virem das suas próprias experiências. Dos seus próprios medos. Foi na literatura que o autor encontrou a melhor maneira não apenas de encará-los, mas também de se expressar. Expressar os seus sentimentos e ajudar outros leitores a fazer o mesmo. Porque a realidade, segundo ele, muitas vezes, acaba sendo mais assustadora do que a ficção, e essas histórias podem ajudar a nos fortalecer.

Marcus Barcelos / Divulgação

“Eu fui uma criança muito medrosa”, contou. “Tinha medo do escuro, de monstros embaixo da cama, de ficar sozinho… Fui perder grande parte desses medos só depois dos 11 anos, curiosamente a idade que comecei a escrever. O terror entrou na minha vida lá pelos 14, quando li o meu primeiro livro do Stephen King — O Iluminado. Desse dia em diante, a paixão foi instantânea. Descobri que tinha muito mais facilidade para expressar o que eu queria nas histórias de terror, e os episódios da minha mente fértil de criança ajudaram a criar vários embriões de enredo. Hoje em dia, os medos são outros; mais adultos. Mais reais… Daqueles que assustam mesmo. Então, nas minhas histórias, tento trazer um pouco dessas sensações. Ainda que a realidade atualmente assuste muito mais que qualquer história de terror, conseguimos fugir dela quando lemos sobre monstros que não existem. E é por isso que a mente humana é explorada pelo gênero. A complexidade dos nossos sentimentos é muito vasta. O que me assusta pode não assustar a você, e assim por diante. Então, para que possamos ter sucesso em uma narrativa de terror, temos que universalizar essas sensações e passá-las para o papel. E esse é um desafio que eu fico orgulhoso em encarar”.

Com o reconhecimento e o carinho tanto dos leitores quando da editora, Marcus se prepara para lidar com outros tipos de sensações. Sai o medo, entram a expectativa e a alegria de publicar mais um livro. É a valorização de todo um trabalho, de um caminho trilhado em meio às sombras de suas histórias rumo à luz das estantes e livrarias.

 

“Minha expectativa (com Dança da Escuridão) é a melhor possível”, concluiu. “Fiquei muito orgulhoso com o resultado final, criado com muito suor e carinho. Os leitores podem esperar respostas para todas as perguntas do livro anterior e uma viagem sinistra pelo passado de Ben. Tem sensações novas, além do medo, em Dança da Escuridão, e espero que todos se emocionem com a história tanto quanto me emocionei ao escrevê-la e guardem para sempre a história de Benjamin Francis Simons no coração. Ter essa oportunidade de publicar novamente pela Faro Editorial, em uma edição tão incrível como essa que vai sair, me mostrou que, quando a gente trabalha com verdade e ama o que faz, nada é impossível. Tenho um carinho imenso pela história de Benjamin Simons e um orgulho ainda maior por tudo o que já conquistei com ela. E uma gratidão sem tamanho pelo apoio que sempre recebi dos leitores e blogs que me acompanham”.

Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

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