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Rio Vermelho, de Amy Lloyd | Resenha

‘Rio Vermelho’: o quanto você conhece o(a) seu(sua) parceiro(a)?

Quando li a sinopse de Rio Vermelho, escrito pela autora Amy Lloyd — acho tão engraçada essa característica estrangeira de colocar a primeira letra do nome duplicada —, publicado aqui no Brasil pela Faro Editorial, pensei que se tratasse de um thriller cheio de suspense, tensão e, se eu tivesse sorte, um pouco de sangue — podem me julgar, eu mereço. Mas confesso que não foi nem um pouco como eu esperava. O livro que eu li conta a história de um casamento esquisito e, de certa forma, perturbador.

Os dois protagonistas dessa história são Samantha e Dennis. Ela é uma professora inglesa muito infeliz com a sua vida e insuportavelmente insegura quanto a si mesma. Ele é nada menos do que um presidiário acusado de sequestrar, estuprar e assassinar uma menina de dez anos. Ele está preso há vinte fucking anos, enquanto o seu caso continua sem solução. A investigação foi e continua sendo nebulosa, de forma que, com o passar do tempo, Dennis conseguiu um fã clube que acredita que ele foi injustiçado e torce pela sua libertação, mas também ganhou os seus haters — quase todo mundo da sua cidade.

Como a vida é uma caixinha de horrores, é claro que Sam se interessa pelo caso de Dennis e — adivinhe só —, por meio de cartas que eles trocam, acabam se apaixonando. Porque trocar cartas com um cara acusado de assassinato e outras coisinhas superanimadas e ainda se apaixonar por ele é uma coisa normal.

Enfim, a coisa engata e anda conforme os sentimentos dos pombinhos, mas, com o tempo, a Sam começa a perceber que a coisa não é tão colorida quanto ela pensava.

E onde tudo isso acontece?

Em Red River — infelizmente, todo o potencial bombástico da montagem do meu texto foi arruinado com a tradução do título. Enfim, Red River, cuja tradução é Rio Vermelho, é a cidadezinha onde Dennis nasceu e cresceu — e onde a galera o odeia.

Agora eu estou em uma situação difícil, porque eu realmente não sei bem o que dizer sobre esse livro. Como eu falei antes, esperava uma coisa, mas consegui outra. Eu esperava um thriller sombrio e cheio de podres, mas o que consegui foi uma narrativa bem leve de uma história que não chega a assustar.

Olhando para a sinopse, para mim, em primeira instância, dá a entender que seria um thriller, mas, agora que eu li o livro, também não posso dizer que o que é proposto na sinopse não esteja de acordo com o livro.

É complicado.

Para todos os efeitos, embora não tenha sido o que eu esperava, não posso dizer que o livro não é bom. Tem os seus momentos interessantes e outros, perturbadores. Acho que é uma leitura muito válida. Mas algumas coisas me incomodaram bastante no que concerne à história em si.

Uma delas foi a própria Samantha, que é uma mulher complicada e complexada demais — na verdade, acho que posso dizer que ela é irritante a maior parte do tempo. De vez em quando — mentira, foi quase o tempo todo —, tive vontade de encher a cara dela de tapas. Entretanto, eu acho que a proposta da autora era justamente mostrar uma mulher insegura e, cá entre nós, um pouco digna de pena.

Outra coisa que me incomodou foram as lacunas deixadas pela autora. Pode-se até dizer que, considerando a história em si e o seu desenrolar, isso também seria intencional. Para um livro de suspense é bom ter aquelas perguntas que ficam no ar, mas nem tudo pode ser assim ou vai parecer que o livro não foi bem montado.

E o que me incomodou acima de tudo foi o final. Para mim, ficou mal resolvido e superficial. Acho que deveria ter havido mais explicações. O leitor merece isso.

Admito que, por causa desse final, acabei ficando meio decepcionada. Porque o livro foi me envolvendo e alimentando a curiosidade quanto a algo sombrio durante mais de duzentas páginas, então, queria que o final fosse, no mínimo, bombástico.

Mas uma coisa eu tenho que admitir: o livro te impele a continuar lendo — acho que justamente por causa dessa expectativa de que algo realmente aconteça. E isso é algo bom. Assim como o fato de que o leitor fica o tempo todo tentando entender o Dennis e se perguntando o que diabos está se passando na cabeça dele. O livro coloca o leitor em uma posição de dúvida constante, pois você fica sem saber se gosta dele ou se o odeia.

E isso é bem legal. Conseguir fazer o leitor se envolver assim com a história é bem legal mesmo — talvez, por isso eu tenha ficado tão decepcionada com as falhas que encontrei.

Quanto ao trabalho da editora, a capa, para mim, não atendeu bem às expectativas. Mas eu gostei do verso do interior da capa, que tem uma textura trabalhada — adoro isso, acho muito chique. Achei também o papel grosso, o que deixou o livro mais espesso do que o necessário. A diagramação, no entanto, está boa, assim como a revisão — na verdade, a revisão está muito boa.

Red River não foi o que eu esperava, mas também não posso dizer que foi uma experiência ruim. Apesar de alguns incômodos, consegui curtir boa parte da leitura.

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