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A Oportunista, de Tarryn Fisher | Resenha

‘A Oportunista’: um amor tóxico e uma protagonista humana e cheia de falhas

O que você faria para ficar com a pessoa que ama? Qualquer coisa? Não mediria as consequências, nem se elas implicassem danos a outras pessoas? O que é certo e errado, no que diz respeito ao amor? Em A Oportunista, primeiro volume da trilogia Amor e Mentiras,  publicado pela Faro Editorial, Tarryn Fisher mexe com as nossas emoções e nos faz questionar os nossos próprios sentimentos e atitudes. Resumindo: é um livro que faz a gente perder a cabeça. E, de vez em quando, querer estrangular a protagonista. E os outros personagens.

A Oportunista nos traz a perspectiva de Olivia em relação ao seu conturbado romance com Caleb. Para Olivia, Caleb é o grande amor de sua vida, mas o destino quis que eles acabam se desencontrando ao longo dos anos. Até que, um dia, quando ela menos espera, encontra o ex-namorado e descobre que ele perdeu a memória. É quando Olivia percebe que essa pode ser a sua grande chance de reconquistá-lo… Se outra mulher não tivesse chegado primeiro. Num grande jogo de sedução e mentiras, Olivia pode acabar indo longe demais. Será que ela está disposta a tudo para ter Caleb de volta?

Antes de qualquer coisa, preciso dizer: Olivia é a protagonista mais diferente que eu já li na vida. E A Oportunista apresenta um dos triângulos amorosos mais disfuncionais e tóxicos. Pronto. Dito isto, uma salva de palmas para Tarryn Fisher que conseguiu me perturbar tanto com seus personagens a ponto de me fazer julgá-los de uma maneira que eu abomino! E sabe por quê, minha gente, esse livro incomoda tanto? Porque ele é MUITO real. Olivia, Caleb e Leah, de fato, poderiam ser qualquer um de nós. Aliás, que atire o primeiro livro quem nunca conheceu uma Olivia ou um Caleb ou uma Leah, ou até mesmo já ouviu alguma história de amor um tanto quanto doentia.

Olivia é mesquinha, egoísta, egocêntrica e, bem, com o perdão da palavra, babaca. É isso. Olivia é uma protagonista um tanto quanto babaca. E com nada de sororidade. E surpreendentemente verdadeira. E absolutamente humana. Ao ponto de, em alguns momentos (raros, que fique claro, porque, na maioria das vezes, minha vontade foi de dar uma boa sacudida nela mesmo), carismática. Carismática porque você simplesmente não acredita no que ela é capaz de fazer. Na intensidade de seus sentimentos e em seus impulsos. Mas ela faz. Mesmo sabendo que está errada. Mesmo sabendo que as consequências podem não ser boas. E mesmo sabendo que pode perder o seu grande amor. Bom, se alguém, algum dia na vida, nunca trocou os pés pelas mãos por amor, então, não sei, gente. Tem algo errado aí.

O mais interessante de A Oportunista é que Tarryn não se preocupa em mostrar o lado bom de seus personagens. Pelo contrário. Ela parece querer focar justamente nas falhas e fraquezas do ser humano. Aquelas que tanto queremos esconder e quase nunca são tão expostas e detalhadas em romances. Olivia não é uma simples mocinha frágil e sonhadora. É uma mulher ambiciosa, obstinada. O que não chega a ser um defeito, mas geralmente é visto sob um aspecto negativo. Uma mulher como Olivia é intimidadora. E pouco compreendida. Veja bem, não estou defendendo-a. Eu simplesmente não consigo não medir as consequências para tomar as minhas atitudes. É o meu jeitinho. Mas não acho que devemos sair por aí apontando os dedos para os mais destemidos e inconsequentes. Muitas vezes eu quis não racionalizar muito as coisas, mas não consigo. Não como Olivia. Acho que isso também me gerou um certo desconforto em relação a ela. Quanto a Caleb, eu não posso me estender muito para não dar spoiler, MAS VOCÊ NÃO FICA ATRÁS DA OLIVIA NÃO, VIU, SEU CALEB? Estamos de olho!! Assim como Leah. E eu acho que esse é um dos principais objetivos da autora com essa trilogia. Todos nós estamos suscetíveis a errar, a ter atitudes completamente equivocadas, a amar demais.

A alternância entre passado e presente na narrativa de Tarryn reforça esse jogo mental, uma vez que somos envolvidos praticamente por duas histórias. O antes e o depois do acidente de Caleb. E isso é muito interessante, porque nos instiga a querer saber sempre mais, a nos envolvermos mais com tudo aquilo. Podemos dizer que ela escreve de uma maneira quase ardilosa e calculista de tão cativante.

O amor de Caleb e Olivia não é saudável. Um amor que te cega e te leva quase às últimas consequências pode ser chamado de amor? Mas será também que podemos julgar os sentimentos alheios? Cada um sabe de si, do seu coração. Ou não. A narrativa de Tarryn é um soco no estômago, quase um tapa na cara da realidade. Uma desmistificação do amor. Do romance. É duro, quase cruel e muito interessante.

Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

2 Comentários

    • Juliana d'Arêde

      Oi, Marco!

      Eu ainda não tive a oportunidade de ler Fuck Love, mas gostei bastante de A Oportunista. Em breve, lerei os outros livros da série!
      Acho que vale a pena tentar a leitura. São personagens completamente diferentes. Eu fiquei um pouco exausta psicologicamente, hahaha.
      Que bom que gostou da resenha! Muito obrigada! 🙂

      Beijos!

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