Resenhas

Geekerela, de Ashley Poston | Resenha

‘Geekerela’: um clássico para nerd nenhum colocar defeito

Acreditar em conto de fadas ou encarar a realidade? E por quê não sonhar um pouco? Por que achamos que devemos “fugir” para outros mundos para sermos aquilo que desejamos, em vez de simplesmente assumirmos o que queremos e quem nós somos? Geekerela, de Ashley Poston, é uma verdadeira homenagem a todos nós que, um dia, já nos imaginamos em outros mundos ou simplesmente já pensamos que não fazíamos parte de alguma parte. É uma versão moderna e muito descolada de um clássico. Acima de tudo, é uma saudação a um grupo, um nicho do qual eu, você e qualquer um pode fazer parte: os fãs.

Em Geekerela, Elle Wittimer é uma nerd de carteirinha e descobre que sua série favorita de ficção científica vai ganhar um remake em Hollywood. Como todos nós que somos apegados aos nossos programas, ela fica dividida em relação a isso, uma vez que Starfield foi uma herança passada por seu pai, já falecido. E é óbvio que quando anunciam um astro pop como protagonista, Elle fica preocupada de suas lembranças serem arruinadas. Até que a produção do filme anuncia um concurso de cosplay, numa famosa convenção, que dá direito a um convite para o baile com o ator principal. Elle não resiste, decide arriscar e conta com a ajuda de uma amiga cheia de estilo e talento para criar o traje ideal. Só que, para viver o seu conto de fadas, ela terá que encarar a terrível madrasta e as duas irmãs postiças. Ao mesmo tempo, Darien Freeman, o astro escalado para o filme, precisa provar que não é apenas mais um rostinho bonito.

Que atire a primeira pedra quem nunca fez a saudação vulcana. Ou imitou o barulho de um sabre de luz, enquanto incorporava a Força. Ou sabe de cor todos os feitiços ensinados em Hogwarts e todas as falas (e músicas) dos filmes da Disney. Ou adora qualquer coisa relacionada à tecnologia. Bom, eu me encaixo perfeitamente em todas essas situações. Ou melhor, já vivi todas essas situações. Portanto, Geekerela foi um imenso prazer para mim. Não apenas por reconhecer TODAS as referências no livro (e não são poucas, o que me deixou muito satisfeita e orgulhosa, como uma boa nerd), mas pela sensação de reconhecimento que a autora nos proporciona ao nos fazer transportar para a história de Elle. Afinal, todos nós já idolatramos algo ou alguém, todos já tivemos aquele momento de achar que não nos “encaixamos”. E, claro, todos nós, um dia, já sonhamos em viver um conto de fadas.

A maneira como Ashley pegou um clássico e, com muita leveza e propriedade, o transformou numa história tão moderna e especial é muito interessante. A narrativa é simplesmente deliciosa para quem consegue se conectar com os elementos do universo nerd que foram acrescentados à trama de maneira tão sutil e natural. E muito ágil também, já que a autora dividiu Elle e Darien a responsabilidade de nos conduzir pela trama. Eu adorei, porque deu a oportunidade de conhecermos melhor os dois e suas diferentes perspectivas. Foi muito gostoso reconhecer os nomes, as referências e, até mesmo, algumas falas durante a leitura. Tanto que eu, uma “Disneymaníaca”, dei uma boa e alta gargalhada em pleno metrô lotado em horário de rush ao reconhecer uma frase de O Rei Leão. Vocês podem imaginar os olhares que eu não recebi, né? Mas valeu a pena.

Ashley também soube construir muito bem os personagens, uma vez que eles deveriam, no mínimo, trazer a essência daqueles do clássico. E, olha, ouso dizer que Elle e companhia são tão bons – às vezes, até melhores – quanto os originais. Porque eles são extremamente reais e humanos. Elle pode ser qualquer uma de nós. Apesar de tudo e do drama de ter perdido os pais e de ter que aturar a madrasta intragável e as irmãs postiças insuportáveis, ela consegue ser divertida, interessante e extremamente carismática. Eu me identifiquei muito com a personagem em vários sentidos. Também já me senti deslocada, tenho meus momentos de insegurança e também idolatro livros, séries e filmes que marcaram e ainda marcam a minha vida. E sou extremamente emotiva e apegada a qualquer coisa relacionada a essas produções e obras. Então, eu consegui imaginar, sentir um pouco, da emoção de Elle, ao longo da história. E foi muito bacana viver isso, de certa forma, com ela. A expectativa, as frustrações e a alegria. Eu amei a Elle! Sempre gostei da Cinderela, e Elle fez jus à princesa.

Assim como também amei Hera, Franco, Gail, Lonny e, claro, Darien. Hera é uma fada madrinha contemporânea simplesmente genial! Queria muito ser amiga dela. Adorei a dinâmica, a amizade dela com Elle. As duas simplesmente combinam. Hera e Franco (um salsichinha lindo – me deixa que eu já imaginei até o formato das orelhas dele e qualquer cachorro, pra mim, é maravilhoso – e que tem tanta presença que vale mais do que muito personagem humano) são a leveza que Elle e nós precisávamos. Gail e Lonny são a Hera e o Franco de Darien, digamos assim. São o alívio cômico da parte dele e os personagens responsáveis por trazerem um pouco do mundo real para a loucura Hollywoodiana na qual Darien se encontra. Por falar em Darien, achei simplesmente sensacional termos um “príncipe” tão inseguro e verdadeiro quanto a nossa protagonista. Gente, o que são os diálogos deles? Para alguém, como eu, nerd e romântica(o), vale alguns bons suspiros porque é tudo uma graça. E chega a ser emocionante também ver o quanto um se redescobre com o outro. E o quanto eles são nerds!! É genial. Me senti tão integrada!

Agora, preciso fazer uma menção honrosa à parte gráfica do livro! Um dos mais bonitos que eu já vi, com toda a sinceridade. Eu não costumo muito comentar essa parte, até porque não acho possuo conhecimento o suficiente na área para analisar, mas Geekerela, desde o primeiro momento, me chamou muito a atenção. Que trabalho fantástico da editora Intrínseca. Da capa às páginas, tudo foi feito com tanto capricho, tanto cuidado, que senti como se estivesse carregando o próprio sapatinho de cristal! Tanto que, inclusive, o livro chamou a atenção de outras pessoas no metrô, que vieram me perguntar sobre ele porque a capa havia despertado o interesse. Fiquei encantada.

É interessante como Ashley consegue traçar um paralelo com a nossa própria realidade. A questão do preconceito, da intolerância. Mas, ao mesmo tempo, Geekerela é um sopro de liberdade. É engraçado e emocionante. É aquele livro que mostra que, sim, nós podemos ser quem quisermos. Gostar do que e de quem quisermos. Ser geek, nerd, o que for, e também não ser nada disso, é legal! O que importa é ser você mesmo(a). Independentemente do universo, dimensão ou da realidade em que você vive.

Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

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