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Os 27 Crushes de Molly, de Becky Albertalli | Resenha

‘Os 27 Crushes de Molly’: Becky, mais uma vez, é certeira e fundamental

A adolescência é uma fase complicada. Muitas mudanças, algumas transformações, conflitos e inseguranças. Principalmente com o próprio corpo e, sobretudo, se você não estiver naquele “padrão” intimidador e imposto pela sociedade. Mas novamente Becky Albertalli nos presenteia com sua sensibilidade absoluta e traz um lindo debate sobre preconceito e representatividade em Os 27 Crushes de Molly, publicado pela editora Intrínseca.

No livro, Molly tem 17 anos e muitas paixões. Ao todo, são 26 crushes acumulados ao longo do tempo. Mas nenhum deles passou do nível platônico, motivo pelo qual sua irmã, Cassie, diz que ela precisa ser mais corajosa. Molly, no entanto, não consegue nem pensar na ideia de levar um fora e acredita que garotas gordas precisam ser cautelosas. Até que tudo muda quando Cassie começa a namorar Mina, e Molly se sente extremamente sozinha. Como se isso não fosse o bastante, Mina tem um melhor amigo meio hipster com muito potencial de virar o 27º crush ou, até mesmo, algo a mais. Isso se também não existe Reid Wertheim, o garoto meio nerd com quem Molly trabalha…

Becky já havia me conquistado totalmente com Simon Vs.a Agenda Homo Sapiens. Agora, com Molly, só reafirmei o meu amor. Por ela, suas histórias e personagens encantadores. É impressionante a capacidade que a autora tem de tornar tudo tão natural, como deveria ser. Becky é inclusiva, respeitosa e muito consciente da responsabilidade de ajudar os jovens a se aceitarem e principalmente se sentirem representados. Becky, você arrasa!

Assim como Simon, Molly é extremamente cativante. Ainda que tenha as suas questões de adolescentes, como todos nós já tivemos, Molly exala carisma e muita verdade. Ela pode ser qualquer uma de nós. Aliás, todas somos Molly, em algum momento de nossas vidas. E foi isso que mais me tocou no livro. O corpo não deveria ditar as regras, muito menos ser um indicativo de personalidade. E Becky trabalha muito bem esse conflito através de Molly. Molly é linda, inteligente e divertida. Por que ela deveria se privar das coisas, do amor, por não se aceitar? Por não se achar merecedora de qualquer um devido à sua aparência? Isso não existe, gente! Não deveria existir. E é muito bom e fundamental que tenhamos livros para jovens debatendo essas questões. Ainda mais, de uma forma tão leve, tão natural e sensível quanto a narrativa de Becky.

E o que falar da família de Molly? Só digo uma coisa: queria fazer parte! Ou, pelo menos (porque eu amo a minha família, claro!), ser amiga de todos! Patty, Nadine, Xav e Cassie. Sim, até mesmo a típica adolescente Cassie. Porque, apesar daquela fase absolutamente normal e irritante, a cumplicidade entre ela e Molly é incrível e inspiradora. Todos esses personagens me pareceram tão reais que eu sentia como se estivesse, de fato, vivenciando tudo aquilo com eles. E que prazer enorme essa leitura me deu! Que felicidade “conhecê-los”.

Quanto a Reid e Will, para não me estender e estragar a graça de todos, é suficiente dizer que temos para todos os gostos e corações. E que isso é maravilhoso. Especialmente a relação de Molly com os dois. É interessante observar as nuances da protagonista com um e com o outro e seus diferentes pontos de vista dependendo da situação e do ambiente em que se encontram. Afinal, ser adolescente é isso, não é mesmo? Uma eterna busca pelo seu lugar no mundo.

É fascinante a maneira como Becky transporta o mundo real para as páginas e que o faça com esse cuidado de falar para todos. Pois esse é o nosso mundo e todos temos espaço nele, independentemente de credo, orientação sexual, “padrões físicos”, entre outros fatores que não deveriam nos definir supercialmente. Os 27 Crushes de Molly é tão fundamental quanto Simon Vs. a Agenda Homo Sapiens. Tenho certeza de que Molly não vai conquistar apenas os seus crushes, mas o coração de todos.

Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

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