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Affonso Solano promove a interatividade no espaço Geek & Quadrinhos da Bienal do Livro Rio 2017

Curador do espaço dedicado à cultura geek, uma das novidades da edição deste ano, Solano destacou a importância da acessibilidade e da interação com todas as mídias no fomento à leitura

“Eu quero que, dentro do limite, a gente tenha essa acessibilidade”. E, de fato, o espaço Geek & Quadrinhos, uma das novidades da Bienal do Livro do Rio 2017, que começou no último dia 31 e vai até 10 de setembro, no Riocentro, é uma representação da irreverência, criatividade e carisma de seu curador: o escritor Affonso Solano, um dos principais nomes da literatura fantástica nacional. Cheio de atividades, bate papos e muita interação entre os visitantes, que podem disputar uma partida de board games e encarar uma aventura em realidade virtual, por exemplo, o local caiu no gosto não apenas do público nerd, mas de uma maneira geral.

“Uma das coisas que eu tentei dar ênfase aqui na minha curadoria foi na interatividade”, afirmou Solano em entrevista ao Vai Lendo. “Eu quis evitar que as pessoas chamassem de palestras e coloquei bate papo. Então, durante os bate papos, eu já aviso para levantar a mão no meio da minha frase, para eu saber que você quer trocar uma ideia, dar sugestão e tal, tirar dúvidas. Eu trouxe produtores, as meninas que desenham para a Marvel, por exemplo, o pessoal que publicou livro sem editora, para as pessoas que querem entrar nesse mundo, ou são simplesmente curiosas, poderem tirar essas dúvidas, ter orientações, coisa que eu, quando cresci e queria trabalhar com isso, não tive muito acesso, seja pela internet ou em algum evento. Não tinha como bater um papo com Stephen King ou Pedro Bandeira, eu lia muito Pedro Bandeira. Eu quis que essa galera tivesse uma proximidade. Fiz isso enquanto curador, mas, enquanto autor, eu fico de papo com todo mundo. Quero que, dentro do limite, a gente tenha essa acessibilidade”.

Com tantas inovações e mídias disponíveis para um público muito antenado e exigente, o Geek & Quadrinhos, Solano afirmou, conversa com a tendência do mercado de englobar formatos. E, principalmente, exalta a importância da cultura geek para a indústria atual, que, até alguns anos atrás, sofria um certo preconceito e era vista como um mercado apenas de nicho.

“Algumas pessoas  costumam pontuar essa mudança de observação em relação a esse tipo de cultura com a chegada do Harry Potter no Brasil, em termos de ficção fantástica explodindo de vendas, entre outras coisas”, explicou Solano. “Foi a partir dali que o mercado literário começou a entender no Brasil, porque lá fora já era algo consolidado, que, inclusive, você  não tinha que temer, mas aceitar também a multimídia daquela obra. O filme do Harry Potter fez muita gente, crianças e adultos, comprar livro, e quem sacou que você tem que incentivar todas as mídias saiu na frente. O espaço Geek & Quadrinhos meio que celebra isso. Você tem a discussão da obra no espaço de bate papo, você pode experimentar uma realidade virtual que é aplicada fisicamente num jogo de videogame do outro lado do estande, jogar um board game do Game of Thrones ao mesmo tempo em que temos palestras sobre a série, com a Carol Moreira e a Mikannn, que têm o canal delas. Então, assim, tudo conversado, quanto mais você incentiva todas as mídias, mais você faz girar a economia em cima disso e a indústria toda agradece”.

Por falar na consolidação da literatura fantástica, Solano exaltou o caráter introdutório do gênero à literatura como um todo e defendeu uma atualização do catálogo de livros escolar para gerar uma maior identificação com as crianças e, assim, formar novos leitores.

“Como mercado brasileiro, que está sempre tentando se espelhar no que acontece lá fora, eu acho que a fantasia costuma ser a porta de entrada do jovem pra a literatura”, destacou. “A gente tem, hoje, um currículo escolar ainda com muitos livros que não conversam com o lúdico da criança. Você dá um Julio Verne para a criança ler, já é uma coisa com a qual você se identifica e, a partir dali, você já começa a se interessar pela mecânica de ler, então, eu acho que é importantíssimo você atrair as pessoas para a mídia que alimenta todas as outras mídias. Os grandes filmes, as grandes músicas, os grandes jogos de videogame são baseados em uma obra que começou na literatura. Quem entende e respeita isso sai na frente”.

Se o espaço promove muita interação entre os visitantes da Bienal, Solano também se orgulha de levar essa proximidade para a relação com o seu próprio público. Experiente e com a propriedade de quem também faz parte do mesmo grupo, ele exaltou a troca de experiências como um dos principais fatores para um relacionamento duradouro e proveitoso com seus leitores.

“Eu tive o privilégio de construir o meu público e a minha carreira muito gradualmente”, concluiu. “Eu não apareci do nada e já fiquei conhecido. Eu comecei com histórias em quadrinhos, depois fui para o Omelete, teve o Matando Robôs Gigantes, escrevi para O Globo… Então, quando eu realmente consolidei o meu público, já estava com uma experiência em lidar com ele e principalmente com o público nerd, que é muito exigente. Se você erra, eles cobram. Até porque eu cobro também. Então, eu acho que, hoje, tenho um canal bem bacana com todo mundo. Em todas as minhas redes sociais e eventos eu tento me colocar à disposição e lembrar que eu já fui uma dessas pessoas, já estive ali do outro lado do palco. Tento respeitar e, ao mesmo tempo, de certa maneira educar, de forma muito humilde, o público para trocar ideia. Porque a gente tem uma cultura de internet de haterismo, de gritaria e muita falta de argumento. É uma coisa que eu tento colocar no meu discurso. Já que você tem acesso, seja inteligente e absorva o máximo que você puder”.

Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

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