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It – A Coisa, de Stephen King | Resenha

‘It- A coisa’: não se engane pelas aparências

Foi uma longa jornada. Até agora, a maior que eu já tive no universo literário. O tamanho assusta? Sim! Mais até do que o livro em si. It – A Coisa, clássico de Stephen King, publicado pela Suma de Letras, é uma obra que aparenta ser uma coisa, porém, é outra. Quebrando as expectativas, a trama do palhaço assassino que corre atrás de criancinhas para aterrorizar e matar nada mais é do que uma história que fala de amizade, superação dos desafios (medos) e união. Isso é bom? Sim e não. Depende da expectativa. Mas já adianto que você irá se envolver.

 Nas férias escolares de 1958, em Derry, uma pacata cidadezinha do Maine, sete crianças descobrem o verdadeiro sentido de amizade, quando são confrontadas por uma série de assassinatos e experiências sobrenaturais. Em comum, elas têm os seu medos individuais e as dificuldades que, quando estão umas com as outras, conseguem ser superadas ou, pelo menos, confortadas. Juntos, Bill, Richie, Stan, Mike, Eddie, Ben e Beverly são mais fortes e se defendem da perseguição e da violência (atualmente conhecido como bullying, numa versão mais pesada) do garoto um pouco mais velho (e insano), Henry Bowrs, e combatem a Coisa, esse ser sobrenatural e maligno que espalha todo o terror por Derry.  No entanto, quase 30 anos depois, a Coisa está de volta e só a reunião do grupo (Clube dos Otários, como eram conhecidos) é capaz de detê-la de uma vez por todas.

Narrado de forma não-linear, It – A Coisa alterna os fatos do passado (1958) e do presente (1985). Assim como o leitor, os protagonistas sabem apenas que este ser sobrenatural voltou a atacar, mas pouco se lembram dos acontecimentos e de como o combateram. A única recordação é a promessa de voltarem à cidade ao receberem o chamado de Mike, único do grupo que ficou em Derry e mantém as lembranças, que ficou de sentinela. À medida em que eles voltam, já adultos, vão recuperando gradativamente a memória e, assim, somos apresentados à trama.  Esta estrutura adotada por King funciona muito bem no sentido de manter o clímax deste confronto em segredo até o final e permite que o público conheça muito bem cada personagem. No entanto, também é uma falha.

Uma das principais qualidades de Stephen King é a capacidade do autor de conseguir envolver o público ao narrar um fato. É fascinante! E esta característica é o que prende o leitor no começo de It – A Coisa, quando ainda não é fácil identificar (e se envolver) com a estrutura. Por mais que seja datado, isto é, você consegue entender quando o fato ocorreu, fica difícil pegar o fio condutor nas primeiras páginas. Os acontecimentos relatados inicialmente parecem isolados: a morte de George (irmão de Bill), o ataque aos homossexuais, recortes de jornal, os interlúdios… Na parte dos telefonemas, em que vamos conhecendo cada personagem em especial, é que a estrutura fica mais nítida. Porém, acredito que a obra poderia ter uma melhor organização. E, se não fosse a capacidade de escrita de King, o abandono seria certo.

 

It – A Coisa é um livro que é acometido dos problemas e das virtudes de uma obra extensa. Se, por um lado, o desenvolvimento das tramas das sete crianças e do lugar Derry (que eu considero um personagem à parte) são impecáveis (bem trabalhados), o livro não consegue manter um bom ritmo na leitura o tempo todo. Em determinadas partes é bem massivo, inclusive. Perde-se muito explorando personagens secundários ou tramas que não vão levar a lugar nenhum. Uma sensação que poderia ser evitada com uma edição mais incisiva e um livro mais curto. Só para deixar registrado, acredito que uma história não deva ser limitada pelo número de páginas, mas ela também deve respeitar o seu tempo. Abordar o necessário.

Inclusive, tem uma cena, no final do livro, totalmente dispensável. Eu não sei qual foi a intenção do autor, talvez só chocar, mas acho que faltou um bom senso. Não posso falar muito para não dar spoiler, mas o leitor saberá qual é. Não tem propósito!

O palhaço, símbolo de It – A Coisa, é meio que a representação deste ser sobrenatural. Mas ele não tem apenas esta forma. Varia de acordo com os medos de cada membro do Clube dos Otários. É um terror infantil. Que não é visto por adultos (exceto pelo grupo depois que volta à Derry)! Um medo que perdemos quando ficamos mais velhos. E este debate Stephen King desenvolve de uma forma bem interessante, verdadeira e envolvente. Sempre com muita criatividade! Apesar da frustração por esperar algo aterrorizante, confesso que neste ponto a obra me surpreendeu positivamente. Mesmo sendo conhecido como mestre do horror, King prova mais uma vez que é um dos melhores autores na abordagem da amizade infantil.

It – A Coisa explora um universo fantástico fascinante e aborda questões importantes sobre o medo que muita vezes nós, adultos, esquecemos. Fala de amizade, união e superação. O livro peca na falta de objetividade e na estruturação confusa, que não podem ser ignorados. O pior, talvez, seja a frustração quando ele não corresponde à áurea de assustador que adquiriu. Não é isso! Ele pode até provocar esta sensação, mas é algo maior. Uma grande história!

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OBS: eu li a versão digital de It – A Coisa no Kindle e teve um problema grosseiro na organização/elaboração do arquivo digital. Os capítulos 10 e 11 estão invertidos. Quando eu li fiquei bem confuso porque, apesar da história ser narrada de forma não linear, notava alguns buracos. Quando me dei conta do erro, já era tarde demais e tive que perder tempo relendo alguns trechos.

Imagem de divulgação do filme ‘It: A Coisa – Parte 1’ (2017)

OBS2: acho que transpareceu na resenha um pouco da minha decepção com o livro simplesmente porque esperava algo mais aterrorizante. Apesar de It – A Coisa não  me colocar medo, confesso que estou muito animado com o filme que será lançado em setembro de 2017. Aparentemente, serão abordadas todas as questões da amizade e superação tratadas na obra literária, explorando mais o horror. As cenas apresentadas no trailer e a caracterização da Coisa estão sinistras. Certeza de muitos sustos. Assim espero!

ASISTA AO VÍDEO COM COMENTÁRIOS SOBRE ‘IT – A COISA’ (LIVRO + FILME):

Apaixonado por histórias, tramas e personagens. É o tipo de leitor que fica obsessivamente tentando adivinhar o que vai acontecer, porém gosta de ser surpreendido. Independente do gênero, dispensando apenas os romances melosos, prefere os livros digitais aos impressos, pois, assim, ele pode carregar para qualquer lugar.

3 Comentários

  • Alex

    Oi Daniel, não li livro, já sabia de sua existência, mas não conhecia a história. Então, ontem fui ao cinema, assisti o novo filme e confesso: um dos melhores filmes que assisti nos últimos tempos. “It, A Coisa” mistura aventura, humor e muitos sustos, tudo que gosto num filme do gênero.
    Quanto a tua resenha sobre o livro, adorei como apresentou seu ponto de vista e suas expectativas sobre o filme acredito que foram cumpridas pela direção.

    • Daniel Lanhas

      Adorei o filme! Vimos na estreia. Só não conseguimos ainda gravar um vídeo sobre porque ficamos muito enrolados com Bienal do Livro Rio 2017. Mas, em breve , vamos comentar! =)

  • Ana Paula

    Também estou lendo e, confesso não estou com nada de “medo”, estou até achando o livro “fofo”. Quero assistir o filme em setembro pra levar altos sustos rsrs.

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