Entrevistas

Entrevista: Cesar Bravo

Primeiro autor nacional de ficção publicado pela DarkSide, Cesar Bravo contou ao Vai Lendo sobre a sua paixão pelo gênero e a tentativa de transformar a leitura em algo sensorial com ‘Ultra Carnem’

A paixão pelo terror, pelo sobrenatural, e o talento para descrever as ideias mais sombrias que passam em sua cabeça contrastam com a descontração, a simpatia e o carisma apresentados pelo escritor paulista Cesar Bravo ao falar sobre o fato de ser o primeiro autor nacional de ficção publicado pela DarkSide e o seu genuíno e quase obsessivo interesse pelo gênero. Com Ultra Carnem, Bravo entrou para o seleto e renomado time de escritores publicado pela Caveirinha e, agora, espera que a obra possa ajudar a renovar a literatura do horror no Brasil e principalmente conquistar não apenas os novos, mas também os leitores mais antigos.

Foto: divulgação
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“Começo agradecendo pela oportunidade de conversamos um pouco (é umas das partes que eu mais gosto desse trabalho)”, declarou Bravo em entrevista exclusiva ao Vai Lendo. “Publicar pela DarkSide era algo inimaginável até bem pouco tempo atrás. Estamos falando aqui da editora mais impactante do mercado, que conta com fãs extremamente críticos e apaixonados. Sim, estou muito feliz, realizado e esperançoso. Sobre a pressão, ela existe em meu trabalho desde a minha primeira página. É claro que todo o processo ficou um pouco mais intenso com a DarkSide, porque eu não poderia, não me arriscaria a decepcionar seus (nossos) leitores. O que o livro representa é uma nova estrada para a literatura de horror no Brasil, pavimentada com desafios e uma dedicação insana em satisfazer os fãs mais ardorosos do gênero. Tenho fé que serei devidamente adotado pelos leitores mais antigos da Caveira”.

Com Ultra Carnem, Bravo promete transformar a experiência literária, tornando-a quase sensorial. A obra traz quatro histórias que expõem – sem pudores e de maneira quase grotesca – a fragilidade do ser humano, através de uma narrativa insana composta por demônios, pactos, sangue socos na boca do estômago, que mostram que somos incapazes de enganar o céu e o inferno. Para aqueles que curtem se aprofundar nessa atmosfera macabra, a DarkSide criou, inclusive, uma playlist especial disponibilizada no hotsite do livro. Tudo isso para estimular a curiosidade e o interesse do leitor, objetivo esse que parece já estar sendo cumprido, segundo Bravo.

“Leitura é uma experiência totalmente sensorial”, afirmou ele. “Gosto de pensar que algumas pessoas se sentem mais empolgadas quando leem embaladas por determinadas músicas. No caso de Ultra Carnem, o rock é o tambor que toca mais alto, pelo menos foi assim quando o escrevi. O trabalho de composição do livro físico também é fundamental; a textura, o cheiro, as ilustrações que inserem o leitor no mundo que ele está prestes a conhecer. Do meu ponto de vista, envolvimento com a obra é a expressão mais importante — se eu pudesse, mandaria um pedaço de carne, tintas e um punhado de essências junto com o livro (risos). Ultra Carnem é um livro muito intenso. Dias atrás, li algo que um leitor escreveu, definindo meu trabalho como ‘uma experiência mística’. Foi uma boa definição. Ultra Carnem arrasta o leitor com ele, o pega de surpresa e o coloca em xeque o tempo todo. A única garantia que posso oferecer é que muito da minha energia criativa está dentro desse livro. O interesse está vindo depressa; eu sempre flagro alguém perguntando por aí: ‘quem é esse cara?’, ‘o que significa essa capa?’, ‘por que ele foi o escolhido da DarkSide (essa é uma das minhas preferidas)?’”.

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Foto: divulgação

Admirador e seguidor fiel de nomes célebres como Edgar Allan Poe e H.P. Lovecraft, Bravo – que é farmacêutico de formação – iniciou a sua carreira na literatura em 2011. Sempre abraçado ao gênero que lhe despertou não apenas o seu mais profundo e apaixonado interesse, mas especialmente a sua mais sombria criatividade, não demorou muito para que o escritor ganhasse o reconhecimento e a admiração dos leitores, logo após autopublicar as suas antologias e romances na Amazon. Para ele, essa experiência lhe deu a liberdade para arriscar em seus textos, se aproximar e trocar experiências com o público e novos autores.

“Com a internet eu consegui me reencontrar, sem amarras ou pudores”, apontou. “Publiquei meus textos, me libertei de velhos temores, conheci leitores e outros autores que tinham pontos de vista parecidos com os meus. Em um passado não muito distante, você precisava procurar um grupo de leitura para trocar experiências, algo um pouco complicado dependendo da localidade e do tema escolhido para a leitura. Com a internet, o mundo ficou mais próximo, a troca de experiências mais intensa e rica. Os leitores que me acompanham a mais tempo têm adorado Ultra Carnem. Segundo suas palavras, uma surpresa tanto na leitura quanto na aparência do livro. A capa é algo único, muitos (eu me incluo aqui) a consideram uma obra de arte. As primeiras impressões ainda estão despontando na rede, mas têm sido muito positivas. Adoro ler as resenhas e ver as fotos que os leitores me enviam, é como se eu estivesse com cada um deles”.

Autor de um gênero com fãs ardorosos e bastante exigentes, Bravo ainda destacou o papel da DarkSide na retomada do terror no mercado editorial brasileiro e no surgimento de novos escritores e exaltou também a influência do terror no comportamento do ser humano como um dos fatores responsáveis por atrair o público a esse tipo de leitura.

“Creio que ousadia seja a palavra certa, nesse caso”, indicou. “A DarkSide apostou no escuro desde o seu primeiro livro, arrebatou fãs de horror e fantasia e conquistou uma fatia enorme do mercado com a sua inovação e competência. O mercado está mudando graças a esse impulso. Diariamente, recebo notícias de novas contratações, de mais autores publicando seus textos e aumentando o interesse dos leitores. O gênero do horror está quase respirando sem a ajuda de aparelhos, tenho fé que continue expandindo e trazendo novos talentos à tona. Se nós estamos vivos e tendo essa conversa, é graças ao terror e ao medo que ele nos impõe. De maneira resumida, o medo nos mantêm vivos. Fogo, escuro, animais selvagens e criaturas que habitam o imaginável, todos nos tornam mais atentos. O terror nos permite uma preparação para o pior, tempera nossos corações e nervos, nos torna mais cautelosos e seguros”.

E será que alguém capaz de detalhar as mais pitorescas e assustadoras situações tem medo das suas próprias criações?

“Acontece com frequência (sentir medo)”, confessou. “Quando escrevo, me desligo da realidade. De repente, estou em outro lugar, conhecendo novas pessoas, sentindo cheiros intensos e ouvindo ruídos assustadores. O processo é tão fluido que, às vezes, mal me recordo do que escrevi. No momento em que o livro sai da gaveta para uma segunda revisão, me apanho pensando: ‘ok, você é maluco mesmo’. O medo surge em cenas que parecem verdadeiras demais. É como se eu conseguisse enxergar algo, ou tocar uma dimensão escondida. Quando isso acontece, significa que estou no caminho certo”.

 

Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

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