Resenhas

Império de Diamante, de J. M. Beraldo | Resenha

‘Império de Diamante’: um livro com grande potencial, mas com deslizes técnicos

capa_imp-72Estou em um onda de adquirir livros nacionais. Ultimamente, tenho dedicado uma atenção especial a eles. Por isso mesmo, irei falar sobre Império de Diamante, de J.M. Beraldo, publicado pela editora Draco. E, cá entre nós, o Brasil está recheado de ótimos autores e obras maravilhosas; só temos que saber como e onde procurar.

J. M. Beraldo é um desses ótimos autores. Com uma trama interessantíssima, envolvente e misteriosa, ele conseguiu chamar a minha atenção. Ponto positivo para ele!

A trama se passa em Myambe, no continente Africano, em uma época antiga. O foco da história está nas terras do vasto Império de Diamante, cujo imperador é venerado e temido como um deus. No entanto, o Império está passando por uma época decadente depois que o Imperador, em uma batalha para conquistar novas terras e ampliar o seu já imenso império, é gravemente ferido por ninguém menos do que Rais Kasim, um jovem mercenário como qualquer outro e que, mediante o temor da morte, acaba por atirar um lança que quase mata o Imperador.

Além de ser o causador de um enorme dor de cabeça para o maior Império de Myambe, Kasim também tem a honra de ser o protagonista da história.

Passados vinte anos, Kasim, depois de ter se aventurado nas terras além-mar, retorna para Myambe como o líder de uma trupe de mercenários nada convencional. E seu retorno o faz reviver todos os medos e o obriga a enfrentar os problemas que havia deixado para trás, sem falar dos serviços que ele e seus companheiros são contratados para fazer – sempre sangrentos -, o que lhe confere alguma reputação no ramo – e é justamente o que dará início à aventura de fato. E não apenas isso, Kasim também se vê diante de um dilema capaz de mudar completamente qualquer homem: a existência da fé. E se ele a possui ou não.

Para saber o que acontece com o nosso querido mercenário e seus companheiros, você vai ter que ler o livro.

Não vou dizer que o livro é perfeito. É muito bom, sim. Sinto que li uma história fantástica, muito bem bolada e desenvolvida, mas que poderia ser ainda melhor.

A trama tem uma quantidade de mistérios e suscita no leitor tantas perguntas e teorias, que eu acho impossível que possa haver falta de interesse. Sem falar, é claro, que a história se passa no continente Africano, que é um cenário bastante incomum na literatura brasileira. E isso já é o suficiente para despertar, se não interesse, alguma curiosidade.

O autor consegue nos entreter com um escrita muito fluida – embora eu ache que poderia haver um pouco mais de humor. A trama foi muito bem desenvolvida. E, melhor ainda, há uma conclusão no fim do livro. É uma história completa – com início, meio e fim. E um ótimo fim, diga-se de passagem. 

No entanto, no que concerne à construção dos personagens, eu diria que deixou um pouco a desejar. Sinto que, mesmo tendo lido o livro todo e com atenção, eu ainda não conheço os personagens. O próprio Rais Kasim é uma grande incógnita, porque quase nada é falado sobre ele. Eu, como leitora, gostaria de saber coisas como: para onde ele foi depois da batalha contra o Imperador? Como ele conheceu os companheiros dele?  O que aconteceu enquanto ele estava nas terras além-mar? Quem são esses companheiros, que apesar de serem mercenários, ele confia tanto?

Sei que podem parecer perguntas cujas respostas podem ser longas demais ou que fugiriam do foco da história, mas não. Informações sobre os personagens poderiam ser adicionados ao livro como comentários apenas – basta saber como fazer.

Na verdade, seria até bem legal se tivesse um livro narrando essas aventuras do Kasim e os outros mercenários – que são completamente desconhecidos do início ao fim da história, infelizmente – nas terras além-mar. Beraldo, fica a dica.

A transparência dos personagens é um ponto crucial. Porque a trama em si pode ser interessante o suficiente para chamar a atenção do leitor e até mesmo convencê-lo a continuar lendo até o fim, mas quem faz com que o leitor se apaixone pelo livro são os personagens. Então, pessoalmente eu considero a negligência a eles um deslize grave – eu, por exemplo, me identifiquei demais com o Anton, um dos amigos do Kasim, mas não sei nada sobre ele e isso é um pouco chato.

Mas esse foi o único ponto que não me agradou e que diz respeito ao trabalho do autor unicamente.

Agora vamos ao trabalho da editora. A Draco é uma editora relativamente jovem, cujo foco tem sido a literatura nacional – o que é muito, muito bacana. No entanto, é com tristeza que eu me sinto na obrigação de dizer que ela não mandou bem na construção do volume físico do livro.

A começar pela capa, que é bonita e me chamou a atenção o suficiente para me dar aquele empurrão final para adquirir o livro – no entanto, a ligação da imagem na capa com a história é praticamente inexistente. O papel usado também não me agradou muito – grosso demais, o que fez com que o livro ficasse maior do que poderia ser, e bem sabemos que quanto mais fino o livro, mais fácil de carregar. A fonte está boa, embora o espaçamento não seja o melhor – as linhas estão muito próximas uma das outras e isso torna a leitura mais cansativa. 

Mas o que mais me incomodou – e chegou ao ponto de me irritar um pouco, admito – foi a revisão do livro. É com tristeza que eu tenho que dizer que foi uma das piores que já vi – na verdade, me deu a impressão de que não houve revisão alguma. Tem muitas repetições de palavras em um mesmo parágrafo, erros de concordância e conjugação e chegou ao cúmulo de haver erros no nome de um dos personagens – no início da história, o nome do citado personagem é escrito de uma forma, mas repentinamente passa a ser escrito e pronunciado de outra. Enfim, há erros que nunca deveriam ser cometidos por uma editora. Porque, afinal, o autor confia o seu trabalho – convenhamos, escrever um livro dá MUITO trabalho -, muitas vezes paga pelo serviço – um preço bem salgado – para, no fim das contas, ver um resultado medíocre, que pode prejudicar a sua obra e a sua reputação como escritor?

Não é justo.

E não é justo também conosco, leitores. Porque nós compramos o livro esperando que ele nos agrade. Nem sempre é possível, mas se é para não gostarmos, que seja por causa da divergência de nossos gostos e não por erros técnicos.

Mas você pode estar pensando: não era responsabilidade do escritor não cometer erros gramaticais?

De certa forma, sim. Mas desafio o escritor que consegue escrever sozinho, revisando sozinho um livro inteiro sem nenhum erro ou repetição a atirar a primeira pedra. A verdade é que revisar qualquer coisa de sua própria autoria sempre é um processo falho.

Então, eu admito que fiquei um pouco irritada com esses deslizes. Não sei se foram resultado de inexperiência, falta de tempo, falta de verba, ou o que for… Eu só sei que isso não deveria acontecer. Porque o livro é muito bom e tem tudo para ser excelente. Mas são erros assim que fazem com que leitor perca o interesse de maneira definitiva.

Bom, acho que é melhor eu parar por aqui. Enfim, o livro Império de Diamante, apesar de todos os deslizes, apresenta um trama muito, muito boa, bem desenvolvida e, acima de tudo, muito bem finalizada. Eu espero que o autor continue escrevendo e que cresça ainda mais, porque eu sinceramente acho que ele tem tudo para se tornar um grande nome da literatura fantástica brasileira. Só foi infeliz na parte física da coisa.

4 Comentários

  • J.M.Beraldo

    Obrigado pela resenha, Caroline! É sempre bom ler/ouvir opiniões sobre o livro 😉

    Já adianto que não só vai ter um livro sobre a história do exílio do Kasim como vai ter uma série INTEIRA!

    Cada livro dos Reinos Eternos contará um momento dessa jornada pelo mundo. Esse semestre sai um conto sobre a primeira parada de Kasim, e (espero eu que) na Bienal do Livro de São Paulo sairá Último Refúgio, segundo livro da série. “Quem é Kasim” será muito mais explorado neste livro e nos próximos. Pode ter certeza 😉

    Obrigado novamente!
    – Beraldo

      • J.M.Beraldo

        É isso aí mesmo 😉

        A série Reinos Eternos vai se passar entre o exílio do Kasim no primeiro capítulo de Império de Diamante e seu retorno no terceiro capítulo.

        Em breve sairá um conto chamado A Voz de G’ganch, sobre a primeira parada de Kasim após abandonar Myambe, seguido no meio do ano pelo livro 2, Último Refúgio, que se passa alguns meses mais tarde.

        Onze Reinos, o 3o livro, se passa alguns anos depois, e assim vai seguindo.

        Já ouviu falar que “precisamos conhecer o outro para conhecermos a nós mesmos?” Então é mais ou menos por aí. Kasim vai descobrir quem é (e retornar à Myambe uma nova pessoa) após viajar pelo mundo. Cada livro é um passo nessa jornada 😉

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