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As Mentiras de Locke Lamora, de Scott Lynch | Resenha

‘As Mentiras de Locke Lamora’: o início de uma série simplesmente fantástica e cativante

Eu quero começar essa resenha com uma declaração! Sinto que é não apenas meu desejo, mas também o meu dever dizer que a série Os Nobres Vigaristas, escrita pelo sensacional Scott Lynch, foi um marco na minha vida literária. Porque, desde que li o primeiro livro dessa série, senti que alguma coisa mudou na minha cabeça – espero que tenha sido algo bom, né.

As Mentiras de Locke Lamora é o primeiro volume dessa série fantástica – em todos os sentidos -, publicado no Brasil pela editora Arqueiro.

Que livro, gente! Que história! Que habilidade do escritor! A história que Scott Lynch criou é tão delicadamente tramada que me faltam palavras para descrever o quanto eu acho esse homem genial. Até hoje eu não vi ninguém que tenha lido esse livro reclamar de qualquer coisa que seja – e, na verdade, eu nem vejo como poderiam fazer isso. Muito pelo contrário.

E eu sou mais uma na multidão. Adoro Scott Lynch e pretendo, com toda a absoluta certeza e muita ansiedade, ler os demais livros da série – bem como qualquer obra que esse autor vier a escrever.

A você, recomendo que faça o mesmo.

A trama se passa na cidade de Camorr e gira em torno de um grupo de astutos ladrões que roubam dos ricos para dar aos pobres…

Brincadeirinha. Eles roubam dos ricos, sim – já que não faz sentido roubar de pobre -, mas ninguém além deles sente nem o cheiro dos resultados de seus golpes absurdamente bem bolados.

Eles são ninguém menos do que os Nobres Vigaristas, comandados por Locke Lamora, cuja identidade infame e secreta é como o Espinho de Camorr, uma figura lendária que protagoniza as histórias dos maiores golpes já vistos na cidade. Mas, na verdade, Locke é o cara mais sagaz, esperto, manipulador, digno de pena nos assuntos amorosos e ainda pior quando o assunto é lutar. Ainda bem que ele consegue se virar muito bem com sua lábia.

E é justamente isso o que torna esse livro tão sensacional. Eu normalmente não me apego muito a protagonistas – costumo gostar mais dos vilões mesmo -, mas dessa vez não deu. É impossível não gostar do Locke e de toda a sua gangue de vigaristas.

Mas é justamente a sua lábia, sua fama e habilidade na arte de enganar e roubar que colocam toda a gangue em risco, quando um assassino começa a matar os líderes das demais gangues e inicia uma guerra no submundo da cidade de Camorr. Então, os Nobres Vigaristas têm que lutar e usar toda a sua esperteza para conseguir sobreviver a isso.

Eu sei que esse resumo está bem vago. Mas, acreditem, estou fazendo isso pensando em vocês. Qualquer informação pode ser demais.

O livro apresenta dois focos temporais. Um no presente, quando Locke é o líder dos Nobres Vigaristas, tendo ao seu lado seus fieis companheiros de golpes. E um no passado, quando Locke ainda é criança e está iniciando seu caminho para se tornar um Nobre Vigarista, junto com os seus demais companheiros, liderados por Correntes – outra grande mente dos golpes e que ensinou Locke a ser o homem pouco honesto que se tornou. E eu gostei muito dessa dualidade temporal, porque é muito esclarecedora quanto aos Nobres Vigaristas em si – sem falar que é muito divertido, como o livro por inteiro.

A escrita de Lynch é impecável. Eu não teria absolutamente nada do que reclamar nem mesmo se me esforçasse muito para encontrar alguma coisa. Ele simplesmente sabe o que está fazendo e deixa isso bem claro.

Quero ser igual a ele quando crescer.

Leia um trecho de ‘As Mentiras de Locke Lamora’

Os personagens também são mais do que excelentes. Eu acho bem difícil que algum leitor consiga terminar o livro sem ter se apegado fortemente a, pelo menos, um deles. São todos muito bem construídos e mantidos ao longo da trama. Principalmente os demais membros da gangue dos Nobres Vigaristas – o próprio Locke, Jean, os gêmeos Calo e Galdo e o jovem aprendiz Pulga -, que apesar de possuírem aquela malandragem típica dos ladrões e golpistas, conseguem se completamente diferentes e absolutamente apaixonantes.

Os vilões também foram muito bem montados e, melhor ainda, apresentados. Nada consegue superar um vilão que sabe quando se revelar. Sem falar que os vilões em questão são bem maus mesmo; do tipo que lavaria o chão com o sangue dos inimigos se faltasse água. Gostei disso.

Quanto ao trabalho da editora, também não tenho nenhuma reclamação. O livro está muito bem feito – capa ótima, diagramação simples, mas boa, fonte bacana, revisão excelente, e uso de um bom material físico. Exatamente a excelência que se espera de uma editora desse porte.

Então, como eu já ressaltei, As Mentiras de Locke Lamora é aquele tipo de livro que não parece ter sido escrito no impulso. Ele foi planejado tintim por tintim. E eu acho que esse é apenas um dos fatores que o tornam tão incrível. Scott Lynch não conseguiu apenas prender a minha atenção e me fazer chegar até o final da sua obra com um sorriso enorme no rosto, ele me cativou e me fez querer mais.

Eu realmente recomendo, muito fervorosamente, essa leitura.

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