Resenhas

À Procura de Audrey, de Sophie Kinsella|Resenha

‘À Procura de Audrey’: Sophie Kinsella traz leveza aos nossos momentos mais pesados e sombrios

Delicadeza, seu nome é Sophie Kinsella. Quando se trata de abordar temas mais sérios e, até mesmo, um pouco polêmicos, a escritora britânica consegue fazê-lo com maestria, de forma que nos envolve totalmente em suas tramas e nos faz refletir, sem que necessariamente a leitura se torne algo didático ou depressivo. Pelo contrário. Sophie mescla como ninguém a seriedade com a sutileza e a leveza em uma narrativa extremamente cativante. E, em seu primeiro romance do gênero Young Adult, À Procura de Audrey, publicado pela Galera Record, ela nos mostra, mais uma vez, que, mesmo nos piores momentos de nossas vidas, sempre há uma luz no fim do túnel capaz de nos fazer sorrir.

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Conhecida por personagens femininas marcantes, apaixonantes e divertidas, Sophie se aventurou, pela primeira vez, no universo adolescente. Como ela mesma afirmou, durante o bate papo com leitores na Bienal do Livro 2015, o livro lhe permitiu (e também aos leitores, é claro) uma viagem no tempo. E sua escrita é tão precisa e sensível que não foi difícil nos identificarmos e conectarmos com Audrey, uma jovem de 14 anos que não passa por uma boa fase. Após sofrer bullying em sua antiga escola, a menina passou a ter depressão profunda, entre outros problemas, e perdeu completamente a vontade e a capacidade de se relacionar com outras pessoas. O único lugar em que sentia o mínimo de segurança era a sua casa (e, portanto, ela não saía para nenhum outro lugar) e só conseguia conviver com os membros de sua família – sem tirar os óculos escuros do rosto. Até que conheceu Linus, amigo de seu irmão, e descobriu que a vida ainda guardava boas surpresas para ela.

'À procura de Audrey', de Sophie Kinsella / Divulgação
‘À procura de Audrey’, de Sophie Kinsella / Divulgação

Acompanhar a trajetória de Audrey é fascinante e angustiante. Ao mesmo tempo em que nos deparamos com os males causados pelas agressões à Audrey e somos obrigados a encarar paralelamente o sofrimento de alguém que passa por tudo isso, também conseguimos enxergar a esperança. Desde o começo, ficamos totalmente “no escuro” em relação ao que, de fato, aconteceu com a jovem. Sendo um livro narrado em primeira pessoa, temos da própria Audrey a explicação de que contar para nós o que se passou seria reviver tudo novamente, algo muito doloroso para ela. Respeitei e acatei a sua decisão sem qualquer questionamento, pois Sophie nos faz entender que o importante não é simplesmente ter o conhecimento da situação, mas, sim, compreender as suas consequências para Audrey e vê-la enfrentar os seus próprios medos e desafios. E, isso, minha gente, é um baita aprendizado. As descrições detalhadas das crises de Audrey são de cortar o coração (em todas as vezes, eu queria abraçar a garota e dizer que tudo ficaria bem!), mas necessárias para que tenhamos a dimensão do ocorrido e do que poderia ser vivenciar algo parecido na vida real. Não desejo a ninguém.

Em se tratando de Sophie Kinsella, porém, nem tudo é sofrimento. Ainda bem! Embora Audrey encare um sério problema, você consegue, sim, se divertir com a trama. A personagem em si tem um toque daquele delicioso humor britânico sarcástico, mas também merece destaque a sua família: os pais, Anne e Chris, e os irmãos, Frank e Felix. Impossível não se apaixonar por nenhum deles, mesmo com os seus defeitos e algumas obsessões. A mãe se preocupa em educar os filhos levando muito a sério as matérias de um jornal, enquanto o pai, para não entrar em conflito com a mulher, quase não tem voz ativa. Felix, o irmão caçula, por ser bem pequeno, está alheio aos acontecimentos da casa. Já Frank, o mais velho, é um adolescente quase rebelde e viciado (MUITO viciado) em jogos de computador. Aparentemente, pode-se dizer que essa não é uma família tão funcional, principalmente para Audrey, nesse momento. Puro engano. Sophie, mais uma vez, mostra que, apesar de todos os problemas e dificuldades, a família é a base de tudo. E Audrey não poderia ter pessoas mais especiais ao seu lado, que se importam tanto com ela e estão prontas para encarar toda essa situação, cada um à sua maneira. E, juntos, eles são sempre mais fortes. Por Audrey.

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Por outro lado, somos apresentados também a outros dois personagens que, mesmo não sendo parentes da menina, são fundamentais em sua recuperação e acrescentam muito à trama: a Dra. Sarah e Linus. Com a Dra. Sarah, acompanhamos o tratamento e a evolução de Audrey de uma maneira tão intensa que, muitos daqueles diálogos travados entre as duas, podem servir perfeitamente para nós mesmos. A Dra. Sarah é a responsável por fazer Audrey (e os leitores) enxergar tudo sob outro ponto de vista e a instiga a seguir em frente, a lutar pela vida, a persistir. E, então, temos Linus. O charmoso, delicado e encantador Linus. A sensibilidade que Sophie empregou ao personagem é tão admirável que, em alguns momentos, chega a emocionar. Linus possui uma certa inocência da juventude, mas com cabeça e coração de adulto. Ele consegue ver Audrey além de seus olhos escondidos e suas crises. E acaba nos mostrando isso também. Uma verdadeira lição de vida e humanidade.

Acima de tudo, como sempre, está o amor. É o amor por Audrey que faz aquela atrapalhada família ser tão especial. É o amor de Linus por Audrey que torna tudo ainda mais leve e prazeroso de se acompanhar. E o amor de Audrey pela vida e pelas pessoas à sua volta que a torna corajosa – mesmo vivendo um verdadeiro inferno particular – e totalmente cativante. E é o amor de Sophie Kinsella por seus personagens e pelos leitores que transforma até mesmo os momentos mais sombrios e desoladores do ser humano em algo tocante, belo e inspirador.

Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

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