Entrevistas

Entrevista: Claudio Fragata

O escritor Claudio Fragata participa de leitura no 17º Salão FNLIJ para Crianças e Jovens/ Foto: Vai Lendo
O escritor Claudio Fragata participa de leitura no 17º Salão FNLIJ para Crianças e Jovens/ Foto: Vai Lendo

“O amor pela literatura tem que nascer em casa”, foi o recado dado pelo escritor Claudio Fragata, vencedor do 56º Prêmio Jabuti, na categoria Didáticos e Paradidáticos, em 2014, com o livro Alfabeto EscalafobéticoEditora Jujuba -, durante o 17º Salão FNLIJ do Livro Para Crianças e Jovens, que aconteceu no Rio de Janeiro dos dias 10 a 21 de junho. Em conversa exclusiva com o Vai Lendo, Fragata defendeu que o estímulo ao hábito da leitura deve começar pelos pais e salientou que a prática está cada vez mais esquecida pela sociedade.

“Quando a gente vê tantas crianças num salão como esse, percebe que são muitas crianças conectadas à literatura”, afirmou o escritor. “E a literatura é fundamental. Eu acho que uma criança que tem contato com a literatura desde cedo vai ser necessariamente uma criança diferenciada para o resto da vida. Mas uma coisa que eu gostaria de ressaltar é que deveria ter um movimento reforçando a literatura para os pais, sobretudo. Não dá para deixar essa atribuição apenas para os professores. Eles ajudam muito, é claro, como atravessadores, para dar continuidade a isso. Mas o amor pela literatura tem que nascer em casa, dos pais. É fundamental. Eu acho que esse movimento deveria ser estimulado. Hoje, os pais leem menos do que os filhos. Isso não pode acontecer”.

No evento, Fragata lançou o livro O Tupi Que Você Fala, publicado pelo selo Globinho, da Globo Livros, apresentando às crianças não só o vocabulário com palavras de origem indígena, como também as raízes da cultura brasileira. A ideia da obra, inclusive, surgiu quando o próprio autor ganhou um dicionário de tupi. Fragata contou ainda que, inicialmente, o presente quase passou despercebido, uma vez que ele mesmo achou o idioma muito complicado. Porém, em seguida, percebeu que várias palavras do nosso dia-a-dia são de origem tupi (entre elas pipoca, jacaré e urubu, por exemplo). E é a partir dessa constatação que o livro é trabalhado, através de uma história rimada.

Capa de 'O Tupi que Você Fala', de Claudio Fragata / Divulgação
Capa de ‘O Tupi que Você Fala’, de Claudio Fragata / Divulgação

Com a vitalidade de quem vive num ambiente cercado por crianças e jovens mentes criativas, Claudio mostrou também a sensibilidade de alguém que cria histórias dotadas de aprendizado e que não subestima a inteligência de seus próprios leitores. Pelo contrário, para ele é necessário que se trate as crianças de maneira igual, uma vez que elas estão cada vez mais intelectualmente evoluídas e são capazes de formar suas próprias opiniões.

“É importante, no trato com as crianças, que você nunca se curve”, disse. “Essa atitude de ser mais do que ela. Isso nunca pode acontecer porque as crianças, antes de mais nada, são inteligentes e pensam por si mesmas. Elas têm opiniões. Hoje, lidamos com crianças muito especiais, que estão conectadas com a internet. São crianças da era digital. Elas são antenadas, captando informações de todos os lados. Eu acho isso maravilhoso. E entre essas informações está o livro também. Passeando pelo Salão da FNLIJ, por exemplo, você vê a quantidade de livros lançados. Inclusive, as editoras estão cada vez mais cuidadosas com o livro infantil. Você olha editorialmente, graficamente, um livro mais elevado. E é isso o que as crianças merecem”.

O escritor Claudio Fragata participa de leitura no 17º Salão FNLIJ para Crianças e Jovens/ Foto: Vai Lendo
O escritor Claudio Fragata participa de leitura no 17º Salão FNLIJ para Crianças e Jovens/ Foto: Vai Lendo

Mesmo vivendo em uma era digital, Fragata fez questão de ressaltar que a tecnologia não interfere no interesse pelos livros, porque a experiência da literatura é mais física, marcante e insubstituível.

“Um livro é um livro e sempre será um livro”, declarou. “É muito diferente você ler um texto num monitor de computador e em um livro o qual você pode folhear, parar e voltar. Ele não vai sumir. Às vezes, ao ler um texto na internet, se você muda de página ou de link, depois, nunca mais vai voltar naquilo. Já o livro está ali, na sua frente. Você pode fazer uma pequena biblioteca em casa, desde pequeno. E isso é uma delícia. Eu me lembro, como criança, e vejo, convivendo com as crianças, que existe essa tendência de você voltar aos livros que gosta. Você pega ele de volta e vê aquelas ilustrações. Às vezes, é só isso o que você quer. Ver as ilustrações porque já conhece a história. É uma relação forte com o livro, e nenhuma tecnologia consegue interferir”.

 

Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

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