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O dia em que eu conheci o Mauricio de Sousa

Arquivo pessoal
Arquivo pessoal

Idolatria não é algo que se possa explicar. Você simplesmente tem uma profunda admiração por uma determinada pessoa, pelo o que esta já realizou/realiza em alguma área. Às vezes, essas façanhas podem até não afetar você diretamente, mas basta saber que alguém está fazendo alguma diferença (positiva) no mundo. Mas, quando se fala de livros, da literatura, essa adoração pode chegar a níveis bastante pessoais. Quem lê sabe o quanto uma obra pode afetar e/ou mudar uma vida. E certamente essas páginas e as palavras que as preenchem não poderiam existir se não tivesse uma pessoa por trás, com profunda sensibilidade e imaginação dotada de muita criatividade. E, quando se lê a obra dessa pessoa em questão, ela passa a ter um importante papel e uma influência na sua rotina. Quase como se o (a) autor (a) estivesse escrevendo para você. Eu também tenho os meus “ídolos literários”, aqueles por quem sinto uma gratidão eterna por terem me levado a mundos mágicos, dado bons exemplos e principalmente por me fazerem sonhar. Dentre eles, um em especial considero uma parte fundamental da pessoa que sou hoje, pois, sem ele e suas obras, eu não teria esse amor pela leitura que me move diariamente: Mauricio de Sousa. Sim, eu aprendi a ler com a Turma da Mônica e não consigo pensar em maneira melhor de viver a infância. E eu tive o prazer e a honra de encontrá-lo, como numa história com final feliz, na 23ª Bienal Internacional do Livro.

Divulgação/Mauricio de Sousa Produções
Divulgação/Mauricio de Sousa Produções

Desde que me entendo por gente frequento a Bienal do Livro aqui do Rio e, por mais feliz que eu ficasse por estar rodeada de livros, também me sentia frustrada por nunca ter conseguido encontrar, de fato, quem eu sempre quis conhecer. Eu precisava ver o Mauricio de Sousa, pelo menos uma vez na vida. Ele nunca vai ter a noção da transformação que me proporcionou, quando, ao começar a entender as palavras, fui presenteada com a minha primeira revistinha da Turma da Mônica. A partir desse dia, meu mundo literalmente mudou. Comecei a viver uma nova realidade, cheia de histórias e personagens que fizeram parte da minha infância e guardo com carinho na memória, até hoje. Eu tinha que agradecer pessoalmente ao Mauricio por isso. E finalmente, eu consegui. Como numa boa trama, foi tudo inesperado, com alguma dose de suspense e ansiedade e, claro, um final feliz.

A bolsa e o calendário que me levaram ao Mauricio
A bolsa e o calendário que me levaram ao Mauricio

Até onde eu sabia, o Mauricio não estaria presente no dia em que eu pude visitar a Bienal de São Paulo. Mas ele foi. E, quando eu descobri e perguntei o horário, mais frustração. Pela informação que me passaram, novamente, não seria dessa vez que eu realizaria o meu sonho de infância, pois não poderia ficar até a hora de sua chegada devido a um compromisso. E, de novo, a história foi reescrita. Graças a uma ótima jogada de marketing que resultou numa fofa e chamativa sacolinha do Bidu que me chamou a atenção num estande, descobri que Mauricio de Sousa, o meu ídolo, não só estaria lá no mesmo dia que eu, como na MESMA HORA. E eu só precisava comprar um livro (só um?) ou um calendário (eu compraria até se fosse do ano passado) para conseguir pegar uma senha e entrar na fila de autógrafos. Eu, que já estava uma pilha, fiquei quase histérica com a palavra “senha” ao olhar para imensa fila que já tinha se formado. O vendedor disse que restavam apenas três senhas. Três números me separavam do encontro mais esperado, desde que eu tinha cinco anos de idade. Olhei para a outra fila, a do caixa, para fazer as contas de quantas pessoas estavam na minha frente. Foi difícil até contar. E, como numa passe de mágica, era o número exato de pessoas, contando comigo, para as senhas restantes. Alívio, euforia, vontade de chorar. Foi um misto de emoções, mas, a única coisa que eu consegui falar, mesmo já com o meu lugar garantido, foi: “moço, pelo amor de Deus, segura essa senha!”.

Ali, na fila, eu estava incontrolável. A hora não passava e eu não sabia o que fazer. Não conseguia mais esperar. Em breve, Mauricio estaria ali, mas eu precisava ter a certeza. Acho que fiquei traumatizada pelas outras vezes em que não consegui vê-lo. Então, uma gritaria. Comecei a ficar realmente nervosa. A mão suava e tudo. Ele chegou! Meu namorado (meu companheiro de todas as horas, que ficou ao meu lado durante todo esse processo maluco e emocionante) me avisou que ele já estava lá, sentado. Saí da fila. Não aguentava mais. E, aí, eu o vi. Era ele mesmo. E eu estava muito perto de poder ter os meus dois minutos com ele. Eu tive que me controlar para segurar o choro, pelo menos, até falar com ele. Quando foi chegando a minha vez, o coração disparou. Me chamaram. Apesar do meu descontrole interno, eu consegui. Eu sentei do lado do Mauricio de Sousa, olhei para ele e agradeci por ele ter me ensinado a ler. Queria ter falado muito mais, passado horas ouvindo ele contar histórias. Mas aqueles cinco minutos me bastaram. Foi literalmente um sonho que se tornou realidade. Ele é exatamente do jeito que eu imaginava, com uma expressão serena de quem sabe que transformou a vida de milhares de crianças. E eu reagi como era esperado: desabei em lágrimas, mas só depois que saí da vista dele, é claro.

A realização de um sonho: eu, Daniel (meu namorado) e Mauricio
A realização de um sonho: eu, Daniel (meu namorado) e Mauricio

Algumas pessoas podem até achar tudo isso um exagero. Mas o que seria das nossas vidas, se não tivéssemos esses momentos inesquecíveis? No fim, tudo valeu a pena. Cada um tem o seu ídolo, o seu sonho a ser realizado. Os livros têm essa importância. Confesso que eu mesma me intimidei com a onda de adolescentes e seus hormônios em fúria que gritavam por todos os lados por causa da presença da escritora Cassandra Clare (da série Os Instrumentos Mortais). E estranhei ver grupos de jovens todos vestidos de pretos e com desenhos em várias partes do corpo (que eu descobri, depois, se tratar de uma caracterização dos personagens desses livros). Mas, quer saber? Cassandra é o Mauricio de Sousa deles. É um ídolo. Alguém que também faz a diferença em suas vidas. Eu acho tudo isso muito válido. Tanto que despertou a minha curiosidade para a sua obra (ou seja, mais livros para minha estante! Oba!). No geral, eu fico muito feliz de ver crianças e jovens com a mesma curiosidade e ansiedade pela leitura. Até porque, na minha época, eu também ficava esperando pela minha carta de Hogwarts e sonhando em ser escolhida para a Grifinória.

Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

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