Entrevistas

Vai Lendo entrevista: Emes de Fátima

Escrever é uma arte, um dom que mistura prazer, paixão e uma boa dose de imaginação para criar histórias fascinantes e fantásticas capazes de nos transportar a outros mundos e também refletir sobre a nossa própria realidade. Além de ajudar a promover a leitura, o Vai Lendo busca também apresentar novos autores, pois achamos importante estimular talentos que, até então, são desconhecidos, mas que possuem muito potencial e estão prontos para nos encantar com páginas e mais páginas de personagens incríveis e inspiradores. E é com muita alegria que trazemos uma entrevista exclusiva (a primeira) de Emes de Fátima, uma contadora de histórias nata que está prestes a lançar o seu primeiro livro infantil, Micas e a Infinita Estrada Azul, pelo Grupo Editorial Scortecci, na Bienal do Livro de São Paulo, no próximo domingo (24). Abordando questões do nosso cotidiano, algumas baseadas em suas próprias vivências, Emes leva as crianças a refletirem sobre a vida de maneira leve e lúdica, através da mente criativa de Micas. A escritora falou ao Vai Lendo, entre outros assuntos, sobre o início da carreira literária, do “nascimento” de Micas e também da sua expectativa pela Bienal, um sonho, segundo ela, que está prestes a se realizar. Confira:

Capa de 'Micas e a Infinita Estrada Azul' / Divulgação
Capa de ‘Micas e a Infinita Estrada Azul’ / Divulgação

Vai Lendo – Você sempre quis ser escritora?

Emes: Quando ganhei o meu primeiro diário, aos 15 anos, passei a escrever pequenos textos que contavam acontecimentos e sentimentos que experimentava cotidianamente: namoricos, medos, papos com amigos, frustrações, rebeldias, pensamentos que não queria compartilhar… Criei o hábito de escrever todos os dias. Descobri a paixão do bate papo interno. De tempos em tempos, relia o que escrevia e ria de mim mesma. Percebia que muito do que tinha acontecido deixava de ter a tal importância daquele momento. Hoje, ao ler o que está escrito naquelas folhas de papel, legitimo valores e recordo experiências que contribuíram com a minha evolução pessoal e profissional. Minha primeira opção de carreira foi atuar como professora. Creio que a paixão pela escrita sempre existiu, todavia, somente quando decidi, corajosamente, direcionar e me apropriar da minha vida profissional, que declarei aos quatro cantos do planeta que sempre quis ser escritora.

Vai Lendo – Como surgiu o “Micas”? 

Emes: Busco o aperfeiçoamento constantemente e, por esse motivo, participei de um curso de contos que solicitava a criação de histórias com tema livre. Como aconteceriam sete encontros, identifiquei a oportunidade de escrever sete histórias diferentes que retratassem cenas oníricas. Não tinham relação umas com as outras. “Micas” não existia nesse momento.  Ele passou a existir quando li a respeito de um concurso literário. Pensei em criar uma conexão com todas as histórias, a partir de um narrador. Foi nesse momento que “Micas” surgiu.

Emes de Fátima
Emes de Fátima

Vai Lendo – O que você acha que “Micas” pode trazer para as crianças? Qual é o seu maior objetivo com o livro?

Emes: Existe uma passagem no livro que Micas descreve exatamente qual é o maior objetivo da obra: “Escrever ainda tem a vantagem de levar nossas palavras para outros lugares. O que me faz lembrar que é muito bom quando somos lembrados. Tenho certeza de que minhas histórias são recebidas como um presente”. A ideia é presentear as crianças com histórias que abordam temas delicados de maneira simples.

Vai Lendo – O livro, apesar de ser infantil, retrata momentos da vida em que, muitas vezes, se tenta “poupar” as crianças. Como a morte, por exemplo. Por que você decidiu abordar esses temas para as crianças? Tem algo da sua vida na história de Micas?

Emes: Creio que a morte é o acontecimento que faz mais parte da vida do que qualquer outro. É a certeza mais concreta que nos permeia o dia a dia. Aos 13 anos, tive o primeiro contato com a morte quando dois adolescentes no colégio onde estudei faleceram, em decorrência de um acidente de moto. A morte desse casal marcou muito minha pré-adolescência. A comoção foi intensa. Pela primeira vez, entrei em um cemitério. Sem a presença dos meus pais. Assisti a cenas que me impressionaram: amigos desesperados e choros incontroláveis. A visão de dois jovens ceifados da vida. Esses momentos estão tão tatuados em mim que minha primeira história no livro representa essa vivência. Escrever sobre temas como morte, aceitação do diferente, percepção de si, por exemplo, significa criar a oportunidade de abordar esses assuntos ludicamente, com leveza.

Vai Lendo – Você também é contadora de histórias para crianças em hospitais. Qual é a importância dos livros, da leitura, para as crianças?

Emes: Os livros, as leituras nos resgatam de nós mesmos. A mente é convidada à reflexão. Recebemos chamados que nos transportam para mundos diferentes dos nossos. Contribui com o enriquecimento pessoal, é intransferível. Contar histórias para crianças em hospitais ratifica a importância da leitura na vida das pessoas e em como essa experiência é transformadora.

Vai Lendo –  Qual das estradas que Micas nos apresenta você escolheria? E por quê?

Emes: A Infinita Estrada Azul é a minha preferida por possibilitar o acesso às demais estradas. Considero-a a metáfora da vida. Conhecer o desconhecido é desafiante e cria infinitas oportunidades. O amor, a honra, a coragem nos legitimam a crer que a vida é um sublime presente. No caminho da Infinita Estrada Azul, escolho a Definitiva Estrada Rosa, pois mostra o tamanho de nossa fragilidade e de como é importante experimentar cada momento de maneira integral e única.

Vai Lendo – Qual é a sua expectativa para o lançamento de “Micas” na Bienal?

Emes: Vivenciar o momento de maneira plena para contar essa história posteriormente, criando a oportunidade de divulgar Micas e a Infinita Estrada Azul em diferentes mídias.

Jornalista de coração. Leitora por vocação. Completamente apaixonada pelo universo dos livros, adoraria ser amiga da Jane Austen, desvendar símbolos com Robert Langdon, estudar em Hogwarts (e ser da Grifinória, é claro), ouvir histórias contadas pelo próprio Sidney Sheldon, conhecer Avalon e Camelot e experimentar a magia ao lado de Marion Zimmer Bradley, mas conheceu Mauricio de Sousa e Pedro Bandeira e não poderia ser mais realizada "literariamente". Ainda terá uma biblioteca em casa, tipo aquela de "A Bela e a Fera".

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